Não sabemos se foi a ironia do futebol a falar, ou se foi um qualquer karma desta vida, mas Julio Velázquez havia falado antes do jogo em Tondela que um «detalhe pode mudar tudo para mal como pode mudar tudo para bem».

Pois bem, esta tarde, foram dois detalhes e 20 minutos que mudaram tudo (ainda mais) para mal para o Marítimo, e tudo para o bem para o Tondela, em jogo da 11.ª jornada da Liga. Dois detalhes e três penáltis.

O momento não era bom para nenhuma das equipas antes do apito inicial. O Tondela, com nove pontos, vinha de duas derrotas consecutivas – talvez por isso, Pako Ayestarán tenha feito quatro alterações no onze inicial.

No lado madeirense, além de toda a instabilidade administrativa que se vive nos Barreiros, com a troca recente de direções, há o paupérrimo início de época da equipa de Julio Velázquez – trocou duas peças no onze –, com apenas uma vitória conseguida até ao momento.

E os detalhes afundaram ainda mais o Marítimo. Os madeirenses até tiveram a primeira oportunidade do jogo, nos pés de Ricardinho, mas não concretizaram. A partir daí, foram 45 minutos de descalabro em apenas 11 metros. 11 metros? Já vai perceber porquê.

Aos 14 minutos, João Pedro falhou o desvio de cabeça e a bola bateu caprichosamente na mão de Iván Rossi. Penálti assinalado, que o próprio João Pedro fez questão de concretizar.

Cinco minutos depois, Dadashov desviou para a baliza, e a redondinha foi novamente bater na mão de Zainadine. Novo penálti, bis de João Pedro.

Dadashov e Salvador Agra ameaçaram o terceiro entretanto, Vidigal tentou responder na baliza de Trigueira, mas o que estava a dar eram mesmo os penáltis. A seis minutos do intervalo, Victor Costa foi imprudente, derrubou Murillo e João Pedro foi outra vez para a marca dos 11 metros. Resultado? Hat-trick.

Um Marítimo a parecer moribundo foi para o intervalo a perder por 3-0, e Julio Velázquez preso por arames no comando técnico da formação do Funchal. Por isso, nada fazia prever a segunda parte que se viveu no João Cardoso.

Ao intervalo, o técnico espanhol mudou quatro peças na equipa. Duas mensagens importantes: não estava satisfeito, obviamente, com o que estava a ver, e ainda acreditava em levar algo da partida.

O recetor, no caso os jogadores, receberam bem o sinal dado por Velázquez.

O Marítimo subiu linhas, aumentou a agressividade – que diferença para o primeiro tempo – e ainda foi a tempo de ameaçar um triunfo que parecia incontestável dos beirões.

A 15 minutos dos 90, e já depois de várias ameaças à baliza de Trigueira, Matheus Costa deixou o guardião tondelense pregado ao chão. A montanha por escalar acabava de ficar mais pequena para os madeirenses.

O Marítimo continuou a carregar, assumiu o risco de poder ser traído pelo contra-ataque adversário, e chegou ao 3-2 no primeiro de nove minutos de desconto, novamente de cabeça. Desta feita foi Alipour o homem golo.

Com oito minutos por jogar, o Tondela viu-se numa situação que jamais imaginaria, mesmo depois de Pako Ayestarán ter reforçado a linha defensiva com Eduardo Quaresma. Ao Marítimo faltou discernimento – e algum futebol – para chegar a um empate que parecia impensável há 45 minutos, e Pedro Augusto ‘matou’ o jogo nos últimos segundos, após assistência de Tiago Dantas.

Um golo muito festejado pelos beirões, que diz muito do que foram os instantes finais da partida.

O Marítimo deu 45 minutos de avanço, mas, mesmo ligado às máquinas, ainda conseguiu dar um sinal de vida aos seus adeptos. Os madeirenses não foram felizes nos primeiros 20 minutos, os tais detalhes não ajudaram, mas isso não explica tudo, muito menos o penúltimo lugar da Liga e a apenas uma vitória conquistada em três meses. Seja Julio Velázquez ou outro treinador a sentar-se no banco madeirense nos próximos tempos, há muito trabalho a fazer nos Barreiros.

Já o Tondela escapa com três pontos a uma segunda parte em que se deixou dormir no pedaço depois de ter conquistado uma vantagem de três golos. Não terão muito mais borlas destas neste campeonato.