O Arouca foi a equipa sensação da Liga, conseguindo o apuramento para a Liga Europa, quando ainda falta uma jornada para o final do campeonato.

Ao terceiro ano no escalão máximo do futebol português, o clube aveirense fez história, bateu todos os recordes e deixou muita gente surpreendida. Na base deste feito esteve uma das melhores defesas do campeonato, com Bracali a brilhar na baliza e com Hugo Basto a liderar o quarteto defensivo, ora com Velazquéz ora com Jubal ao seu lado no eixo.

O central, de 22 anos, só falhou um jogo até ao momento na Liga, por castigo após uma sequência de cinco amarelos, sendo pedra basilar para Lito Vidigal. Em conversa com o MaisFutebol, Hugo Basto falou sobre o «histórico» ano em Arouca e contou os segredos desta caminhada triunfal, que vai terminar no quinto lugar.

«Foi um ano inesquecível, de sonho, de um trabalho enorme de todos, da equipa técnica, do presidente, de todo o staff. Foi um ano difícil e duro, muitas vezes com condições de treino difíceis, a treinar várias vezes fora de Arouca. Tudo isto teve um sabor especial porque batemos muitos recordes neste que é o terceiro ano do clube na Liga, alcançando a melhor pontuação, no ano com mais golos marcados e menos golos sofridos e com vitórias ao Benfica e ao FC Porto a tornarem tudo mais histórico.»

Este foi o resumo que Hugo Basto fez da época dos arouquenses e dificilmente alguém faria melhor. Depois de dois anos a lutar pela sobrevivência, com Pedro Emanuel ao leme, o Arouca deixou de ver a sombra da Segunda Liga e fez-se grande, conquistando o quinto lugar e garantindo o passaporte europeu, faltando ainda uma jornada para o fim.

Ora, tendo estado em metade da última temporada e cumprindo a totalidade desta, Hugo diz o que motivou este agigantar do clube: «O plantel melhorou, mas a grande mudança foi na mentalidade dos jogadores e na mentalidade que o mister Lito nos veio trazer.»

O central considera que o treinador fez com que o grupo ambicionasse mais e contou um segredo.

«Para fora, o objetivo sempre foi a manutenção. Se calhar as pessoas não vão acreditar nisto que vou dizer, mas nós sempre tivemos o sonho do quinto lugar e as pessoas próximas de nós, a nossa família e os amigos, sabem disso e sabem que no fundo andámos a lutar para isto. Desde o primeiro dia que o mister nos falou do objetivo de ser quinto, objetivo e sonho.»

O sonho tornou-se realidade na 33ª jornada, mas o plantel começou a acreditar que era possível na 21ª ronda, quando o Arouca venceu o FC Porto em pleno Estádio do Dragão, depois de já ter vencido o Benfica logo a abrir o campeonato: «A vitória com o Benfica foi no início e ninguém contava porque o Arouca nunca tinha ganho a um grande. Com o FC Porto foi uma vitória que deu confiança e a partir daí acreditámos que era possível, porque ganhar num estádio como o Dragão a um candidato ao título... Tivemos que acreditar que ia ser possível [chegar ao quinto lugar] e que podíamos ganhar em qualquer campo.»

Numa época a roçar a perfeição, com Lito Vidigal a considerar que o Arouca foi a equipa deste campeonato, faltou apenas vencer o Sporting para a lista dos «grandes» ficar completa. Hugo Basto lembra o jogo com os leões em casa, deixando o reparo à arbitragem, mas a sua humildade permite-lhe referir que se ali se sentiu prejudicado, noutras alturas foi beneficiado.

«Ficou a faltar o Sporting, ficou entalado. Pelas situações que se falaram, de um penálti a nosso favor e se tivéssemos marcado naquela altura, aos 80 minutos, talvez tivéssemos ganho, ou pelo menos não tínhamos perdido, mas isso passou. Nós temos um ou dois jogos que nos queixámos, mas os adversários também tem um ou outro jogo que se queixam, não podemos ir por aí.»

O central não esconde a felicidade do trajeto, porque nem tudo foi fácil e aponta aspetos a melhorar para o crescimento do clube do distrito de Aveiro: «Foi um ano difícil, mas saboroso pelo que passámos. O grupo nunca caiu. Aqui faltam condições de treino, mas isso é um processo que faz parte do crescimento dos clubes. O Arouca está no terceiro ano na Liga, eu estive um pouco no segundo e de um ano para o outro já noto uma evolução. Daqui a um ano já vamos ter um campo de treino, melhores condições e o clube vai continuar a crescer.»

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Como já referido, até pelo jogador, o Arouca bateu recordes defensivos e vai acabar o campeonato como a quinta melhor defesa (só uma hecatombe retirará isso ao clube na última jornada). É neste processo que está outro dos segredos da época, na opinião de Hugo Basto.

«Sempre foi um dos grandes segredos que o mister nos quis transmitir: baliza a zero. Esse seria um fator importante para ganharmos muitos jogos, penso que conseguimos isso na maioria e isso fez-nos estar mais perto da vitória do que o adversário. Foi uma época em que batemos o recorde de mais minutos sem sofrer golos, uma época cheia de recordes, cheia de história. A responsabilidade não é só da defesa, é de todos, e como nos fala o mister, o primeiro defesa é o avançado. Todos estão incluídos neste feito.»

E logo depois de enaltecer os feitos defensivos, o jogador natural de Amarante deixou logo um reparo: «Também marcámos em quase todos os jogos, estivemos treze jogos consecutivos a marcar antes de empatar a zero com o Sp. Braga.»

Há oito anos, o Arouca estava nos distritais e a ascensão tem sido meteórica. Degrau a degrau, passo a passo, o clube aveirense conseguiu o impensável para quase todos: chegar à Liga Europa.

Nem o mais fervoroso dos adeptos arouquenses acreditaria neste cenário, mas agora essa é a realidade. No jogo da festa do apuramento, frente ao Estoril na Amoreira, foram muitos os adeptos que se deslocaram de Arouca para apoiar os seus jogadores. E Hugo Basto tem uma visão interessante sobre eles: «Foi muito bonito ver a evolução dos adeptos ao longo desta época, eles foram acreditando connosco. Sentimos o maior apoio fora com o Estoril, é um orgulho e satisfação ver que população de Arouca acredita em nós e acredita que o clube pode chegar a estes patamares.»

E será possível o clube repetir este feito na próxima época?

«Não é fácil, mas obviamente que o objetivo é a consolidação na Liga e fazer épocas estáveis. Se calhar, lutar pelos 10 primeiros lugares.»