A lesão de Ivan Marcano e o castigo a Bruno Martins Indi vão obrigar José Peseiro a remendar, mais uma vez, a defesa do FC Porto no jogo com o União da Madeira, marcado para este sábado. Já nem sequer se pode falar em algo novo para o técnico portista que vem de remendo em remendo praticamente desde que assumiu a equipa. Mas ainda há espaço para inovar mais...

Face à ausência dos dois titulares de Braga, o FC Porto irá utilizar, certamente, a sexta dupla de centrais da época na Liga, um número que bate aqueles que foram utilizados em toda a temporada passada.

Nos últimos dez anos, de resto, só na época 2013/14, a primeira deste ciclo portista sem títulos, foram testadas mais duplas de centrais, contabilizando apenas os jogos do campeonato, uma vez que as provas paralelas são, não raras vezes, aproveitadas para dar minutos a outras soluções.

A solução é juntar Chidozie com Layún, algo que já aconteceu no jogo do Dragão frente ao Gil Vicente, para a Taça de Portugal, e deve, agora, ter estreia na Liga. Um jogador de 19 anos que começou a época na equipa B e que até fez os primeiros jogos em Portugal como médio e um lateral adaptado. Face ao quadro atual de escassez, é este o cenário portista.

Duplas utilizadas na Liga 2015/16 pelo FC Porto

Indi-Marcano: 11 jogos

Maicon-Marcano: 6 jogos

Maicon-Indi: 5 jogos

Marcano-Chidozie: 2 jogos

Indi-Chidozie: 1 jogo

Eduardo Luís, antigo central do FC Porto entre 1982 e 1989, não tem dúvidas: «São duplas a mais». Ouvido pelo Maisfutebol esclarece: «Numa equipa grande tem de haver um número mais normal de jogadores para esse lugar específico e que joguem quase a época toda. O FC Porto do meu tempo tinha três ou quatro bons centrais. Mas bons centrais. Se entrasse um e saísse outro a equipa ressentia-se muito pouco.»

Esta não é, contudo, a realidade do FC Porto que vem do jogo da Liga em que sofreu mais golos (Sp. Braga) e até usou a dupla mais rodada este ano. O que, no entender de Eduardo Luís, não garante nada. «No FC Porto não se vê um central de categoria. Não desgosto do Chidozie. Tem 19 anos, tem muito que aprender, mas eu também comecei a jogar num grande com 19 anos. A idade influencia, mas a qualidade tem de estar lá», defende o campeão de Viena.

Chidozie vai fazer o quarto jogo na Liga 2015/16

Considera a situação atual «muito difícil» para a sua ex-equipa, por vários fatores. «Lesões, castigos, um dispensado [Maicon], jogadores adaptados. É muito ingrato para o treinador. Nem sei bem quem vai jogar agora…Chidozie e Layún? Pois. Um miúdo novo com qualidade e um adaptado. Mesmo sendo alguém que sabe o que faz e que se adaptou bem, não está rotinado, é preciso algum tempo. Sei do que falo porque fui central e lateral e é diferente ganhar rotinas numa posição e andar a trocar», explica.

Indi-Marcano: de terceira opção a dupla mais forte

Na época passada, a dupla preferida de Julen Lopetegui foi formada por Maicon e Martins Indi mas só atuou em 15 dos 34 jogos do campeonato. Nem sequer metade. Aliás, é preciso recuar a 2012/13, último ano de Vítor Pereira, para encontrar uma dupla que tenha feito, no mínimo, metade da Liga: Otamendi e Mangala estiveram no centro da defesa em 16 dos 30 jogos desse ano.

De resto, ainda relativamente à época passada, é interessante notar que a dupla Indi-Marcano, a mais rodada este ano, foi apenas a terceira mais utilizada. Maicon-Marcano fizeram 11 jogos, enquanto o holandês e o espanhol apenas seis. Na fase final da época, Lopetegui ainda experimentou Indi-Diego Reyes e uma inusitada dupla entre o mexicano e Alex Sandro, no jogo caseiro com a Académica em que poupou quase toda a equipa para Munique.

Feitas as contas foram cinco as duplas utilizadas em 2014/15, num número que vai, agora, certamente, ser batido, a nove jogos do fim.

O Maisfutebol analisou as duplas de centrais do FC Porto nas últimas dez temporadas, utilizando como baliza a época 2006/07 pois na anterior, com Co Adriaanse, a equipa jogou grande parte da época num esquema de apenas três defesas.

Só em 2013/14, com Paulo Fonseca e Luís Castro foram utilizadas mais duplas de centrais do que na temporada atual.

Centrais do FC Porto em 2013/14 na Liga

Mangala-Otamendi: 8 jogos

Maicon-Mangala: 7 jogos

Maicon-Otamendi: 4 jogos

Mangala-Abdoulaye: 4 jogos

Maicon-Abdoulaye: 2 jogos

Maicon-Reyes: 2 jogos

Abdoulaye-Reyes: 2 jogos

Mangala-Reyes: 1 jogo

A saída de Otamendi em dezembro e a aposta tardia em Diego Reyes e Abdoulaye fez disparar o número de soluções. E a partir daqui, nunca mais o FC Porto estabilizou o centro da defesa, setor que foi sempre um dos pontos fortes da equipa.

Por isso, Eduardo Luís não tem dúvidas em considerar que o problema do FC Porto não é de agora. «A equipa já se vem ressentindo há muito», considera. E alarga a análise: «A defesa é um problema, mas o resto não está melhor. O FC Porto tem dois ou três jogadores de classe. O resto são jogadores normais. Bons jogadores, mas normais. Ora, bons jogadores há em todas as equipas. Isso faz com que se perca algum do respeito ao FC Porto. No meu tempo as equipas vinham a nossa casa defender. Agora não.»

«Uma equipa, já se diz há muito, tem de ser montada de trás para a frente. E depois quando há jogadores a dar tudo, a correr, a esforçar-se e um erro lá atrás compromete um jogo ou até um campeonato…Ok, um erro pode acontecer, mas no meu tempo, com o Pedroto, não havia segundo deslize. Só erravam uma vez. Um erro acontece, dois se calhar já é algo mais.»

O comentário faz uma referência indireta ao deslize de Marcano no primeiro golo do Sp. Braga. Mas a verdade é que o espanhol é o central mais rodado este ano, com 19 jogos.

«Não dá para trocar, é o problema», defende Eduardo Luís. «Os próprios jogadores sabem. São inteligentes. Uma coisa é jogar na frente de uma defesa que dá segurança, outra é estar constantemente preocupado com o que acontece atrás», acrescenta.

Bruno Alves, a referência da década no Dragão

Na referida análise às últimas dez temporadas do FC Porto, há duas que saltam à vista pela aposta em soluções que deram mais garantias. Em 2010/11, André Villas-Boas só usou três duplas de centrais e uma delas já depois de garantir o título.

Na prática, o FC Porto foi campeão alternando entre Rolando-Maicon (17 jogos) e Rolando-Otamendi (12 jogos). Maicon-Otamendi foi, então, a outra dupla, já na reta final da Liga.

Mas a dupla mais rodada neste período foi, de longe, Bruno Alves-Rolando que, em duas temporadas debaixo da alçada de Jesualdo Ferreira fez mais de 50 jogos (quase dois campeonatos) lado a lado.

Centrais do FC Porto na Liga 2009/10

Bruno Alves-Rolando: 25 jogos

Bruno Alves-Maicon: 2 jogos

Rolando-Maicon: 2 jogos

Rolando-Nuno André Coelho: 1 jogo

 

Centrais do FC Porto na Liga 2008/09

Bruno Alves-Rolando: 27 jogos

Bruno Alves-Pedro Emanuel: 2 jogos

Bruno Alves-Stepanov: 1 jogo

Bruno Alves, antigo capitão portista, foi a maior referência nestes 10 anos. Além de Rolando fez dupla com Pepe (25 jogos em 2006/07), que, a par de Pedro Emanuel (20 jogos em duas épocas) funcionou como seu «professor», e ainda Ricardo Costa (3 jogos em 2006/07 e já tinham jogado juntos com Adriaanse antes da mudança tática), Stepanov (7 jogos em duas épocas), João Paulo (3 jogos em 2007/08) e Maicon (2 jogos em 2008/09).

Saudades de Bruno Alves?

Em toda esta caminhada de dez temporadas há apenas a separar um jogo. O FC Porto-U. Leiria de 2006/07 foi o primeiro jogo de Jesualdo Ferreira ao comando dos dragões e, ainda em fase de estudo, adotou a mesma tática de Co Adriaanse, jogando com Pepe sozinho no centro da defesa. De resto houve sempre uma dupla, então com Bruno Alves a assumir protagonismo.

Por isso, questionamos Eduardo Luís se um bom central poderia garantir uma boa dupla. O antigo jogador rejeita. «É preciso complemento e entrosamento. Aliás, muitas vezes são até jogadores diferentes, um mais físico e atlético, outro mais técnico. Joguei com o Celso, outras vezes o Lima Pereira e o Eurico. Havia sempre uma conjugação de qualidade», afirma.

Terá, então, o FC Porto de encontrar uma nova solução para o centro da defesa na próxima época? Eduardo Luís sorri: «Um central? Uma dupla? O FC Porto precisa de uma equipa toda!»

«Tem de melhorar muito, tem de ir buscar bons jogadores, jogadores de classe. E dar-lhes entrosamento. Para o ano, o FC Porto tem de reformular tudo. Ver quem interessa e perceber que vai precisar de algum tempo para a máquina voltar a funcionar. Para já tem a final da Taça e o objetivo de chegar ao segundo lugar, que não é nada de especial, mas é melhor que terceiro. Depois é deitar mãos à obra», remata.