Pela primeira vez em 17 temporadas, Luís Olim não vai fazer parte do plantel do Marítimo que, na próxima semana, se apresenta para o início dos trabalhos de pré-época. O defesa, de 33 anos, foi informado pela estrutura de que não fazia parte dos planos para o próximo exercício desportivo e pendurou as chuteiras. Ainda assim, vai manter a rotina de se apresentar diariamente no complexo desportivo verde-rubro, no papel de treinador adjunto da formação secundária.

O nome de Luís Olim confunde-se com o passado recente do Marítimo, apesar de, em bom rigor, nunca ter alcançado o estatuto de indiscutível no esquema dos sucessivos treinadores que passaram pelo Caldeirão dos Barreiros.

«Além de colegas somos amigos e conversámos bastante durante os muitos anos em que estivemos juntos. Debatíamos aspetos técnicos e táticos, fizemos o segundo nível do curso de treinadores juntos, e, por isso, vai ser diferente não o ter por perto no balneário», conta Briguel, outro dos históricos dos madeirenses, em conversa com o Maisfutebol.

Percursos como os de Luis Olim e Briguel são, de resto, cada vez mais raros no futebol mundial, onde a mudança constante é encarada com naturalidade. Funcionam como uma espécie de cicerones para quem chega e asseguram a continuidade da tão propalada mística.

«Para os jogadores que chegam é importante ter alguém que conhece o clube e pode ajudar na integração a uma nova realidade. Sempre fui bem tratado no clube e tentei fazer o mesmo com os meus colegas», disse Luís Olim, mostrando-se resolvido com o final da carreira.

«Foi fácil tomar esta decisão. Partiu das pessoas do clube que entenderam que já não tinha o rendimento suficiente para continuar no plantel. Não fazia sentido continuar sabendo que não seria útil. Era fundamental saber que podia ajudar em termos desportivos. A estabilidade familiar é muito importante e, por isso, decidi terminar», sublinha.

Luís Olim não se arrepende do trajeto que construiu, apesar de muitas vezes relegado para um papel secundário, e reforçou que o clube sempre foi mais importante do que o ego pessoal.


Luís Olim foi formado nos escalões jovens do Marítimo e chegou a usar a braçadeira de capitão na equipa principal

«Não me arrependo das opções que fiz. Tenho a noção de que as coisas podiam ter sido diferentes, para o bem e para o mal. Não podemos ser apenas otimistas. Alguns colegas quiseram sair e depois arrependeram-se. Podia ter dado o salto no clube, porque nunca fui titular indiscutível e podia ter sido, mas sempre me tentei pôr na posição do treinador. Percebi que havia opções que tinham de ser tomadas e, acima de tudo, sempre houve respeito pelos colegas que também trabalhavam para jogar», sublinhou.

Aos olhos de alguns adeptos, a linha de pensamento de Luís Olim pode, facilmente, ser compreendida como falta de ambição. O madeirense não concorda com esta visão, até porque sempre defendeu a coesão do grupo de trabalho.

«Nunca deixei de ter ambição em ser titular. Há jogadores com estatuto mais forte e outros que não, percebo isso. Na minha opinião podia ter contribuído mais, mas sempre respeitei as decisões dos treinadores», reforça, antes de eleger os treinadores com quem mais gostou de trabalhar.

«Nelo Vingada foi marcante porque me lançou e Manuel Cajuda é um homem que sabe muito de futebol. O Lazaroni também foi importante, embora num estilo completamente diferente, e o Pedro Martins tornou-se uma referência por toda a qualidade que demonstrou», recordou.

Encerrado este capítulo, um novo começa: Luís Olim vai continuar no Marítimo como adjunto da equipa B, juntamente com João Luís, outro nome importante dos madeirenses.

«Vai ser diferente e sinto uma certa ansiedade para começar. O João Luís deu-me esta oportunidade, é alguém com quem me identifico e em que confio para me ensinar», rematou.
 
Pilares da identidade

Contrariamente a Luís Olim, Briguel renovou por mais uma temporada e vai continuar a jogar com a camisola do Marítimo. Aos 36 anos, o lateral direito vai para a 18.ª temporada ao serviço dos insulares e é um caso notável de lealdade e longevidade.

Marítimo: Luís Olim adjunto da equipa B, Briguel renova

«Sinto muito orgulho na minha carreira, mas é claro que todos os jogadores sonham em ser campeões ou em estar em equipas que disputam as competições europeias. O Marítimo é um grande clube e também me deu essa oportunidade de disputar competições internacionais», recordou Briguel.

Aos 36 anos, Briguel vai para a 17.ª temporada ao serviço do Marítimo

Olhando para trás, ainda há outros casos notáveis. Mas não são muitos. O Benfica contribui com Nené (18 épocas) e Shéu (17 épocas), o FC Porto tem João Pinto (17 épocas) e Rodolfo Reis (13 épocas), enquanto o Paços Ferreira conta com Adalberto (17 épocas) e Pedro Correia (16 épocas).

Juntam-se a estes os nomes de Hélio Sousa (17 anos), pelo Vitória Setúbal, e Duarte de Sá (13 épocas) no Rio Ave.

«Ter este tipo de jogadores no plantel é muito importante. O FC Porto B tinha o José António (38 anos) que servia de exemplo para os mais jovens. Servem para passar o testemunho e manter a mística no clube», analisou.

Na Madeira há outro caso de longevidade: Rúben Andrade vai iniciar em breve a 17.ª temporada consecutiva ao serviço do União, clube que regressa à I Liga após 20 anos de ausência. Entre os grandes, Rui Patrício é o único representante com 10 épocas de leão ao peito.
 
Totti e Rogério Ceni são casos de exceção

Só este ano, no contexto internacional, a lista perdeu dois ilustres representantes: Steven Gerrard deixou o Liverpool e vai para a Major League Soccer, enquanto Xavi mudou-se de armas e bagagens para o Qatar.

Jogadores de um clube só: eles são raros

De resto, sobram poucos exemplos de lealdade a uma só camisola com mais de 15 temporadas de ligação. Francesco Totti (Roma) e Rogério Ceni (São Paulo), com 23 épocas cada, são de outra galáxia, distantes por exemplo de Casillas (16), nome falado para abandonar o Real Madrid durante este mercado de transferências.

Dos que já se despediram dos relvados, talvez os nomes mais mediáticos sejam os de Paolo Maldini (25), Ryan Giggs (23 épocas) e Puyol (15).

São números que não deixam ninguém indiferente.