O Benfica fez movimentos de peso, num mercado de inverno que tem sido de resto pouco movimentado até agora, sem entradas no FC Porto, com um reforço para já por oficializar em Alvalade e sem novas caras em quase metade das equipas da Liga. Mas faltam dez dias e, com vários cenários em aberto, é de prever que as coisas ainda agitem. Por cá e também lá fora.

Por enquanto este é um mercado de janeiro em contra-corrente com as últimas duas temporadas, marcadas por várias movimentações no Sporting e no FC Porto e sem entradas no Benfica. Desta vez, foi ainda antes de começar 2020 que aconteceu a grande transferência deste mercado na Liga: o Benfica contratava o médio alemão Julian Weigl ao Borussia Dortmund, num negócio de 20 milhões de euros que entrou direto para o «top 3» das contratações mais caras das águias. Onde estava Raul de Tomás, que poucos dias depois fazia por sua vez o caminho inverso, saindo para o Espanhol depois de apenas seis meses na Luz, também por um valor anunciado de 20 milhões de euros. Ambos os negócios estão para já entre os dez mais avultados neste mercado de janeiro a nível internacional.

Ainda no Benfica, Gedson Fernandes também saiu, num empréstimo de ano e meio, para o Tottenham de José Mourinho, que voltou a alimentar o filão de contratações em Portugal. Houve ainda o empréstimo de Conti aos mexicanos do Atlas, para além da contratação de alguns jovens, como Yony González, que chegou do Fluminense e deve ser cedido, o argentino Elias Pereyra, emprestado pelo San Lorenzo, ou Samuel Pedro, contratado ao Boavista. E na Luz as coisas podem não ficar por aqui, com o médio brasileiro Bruno Henrique a continuar no radar encarnado.

Quanto ao FC Porto, que há um ano aproveitou janeiro para reforçar várias posições, contratando Pepe, Wilson Manafá, Loum e Fernando Andrade, destaca-se agora pela tranquilidade. Sérgio Conceição diz que o plantel lhe dá garantias e lembra que o clube mexeu, e muito, no verão, mas no Dragão é assumida a ideia de que o clube vai ter de fazer um forte encaixe financeiro até ao final da época, portanto não é de descartar que algo possa acontecer ainda em janeiro. O único movimento no Dragão, por enquanto, foi a saída de Bruno Costa para o Portimonense. Marius, que estava na equipa B, foi de resto cedido ao Desp. Aves.  

Também o Sporting se mantém por agora menos ativo que há um ano, quando contratou seis reforços e promoveu outras tantas saídas. Tem nesta altura acordo por Andraz Sporar, aguardando-se a oficialização da chegada do avançado esloveno contratado ao Slovan Bratislava, e saiu Fernando, de volta ao Shakhtar sem ter sido opção em Alvalade. Mas há muito em aberto no Sporting, mais uma vez pendente da situação de Bruno Fernandes. Tal como no verão, voltam a haver negociações pelo capitão. O desfecho deste processo, uma vez mais à semelhança do que aconteceu no final de agosto, ditará muito do que será a reta final do mercado para o Sporting.

Quanto aos outros clubes da Liga, a tendência que predomina até aqui é de contenção. Sp. Braga, Rio Ave, Boavista, Tondela, V. Setúbal, Moreirense e Belenenses ainda não contrataram. Mas há quem se tenha mexido. O Famalicão, que virou a Liga num incrível terceiro lugar, está entre os clubes mais ativos, a par do Paços Ferreira. Além do regresso de Ivo Pinto a Portugal, chegaram ainda Ibrahim Cissé, Racine Coly, ambos vindo do Nice, e Del Campo, cedido pelo At. Madrid.  

O Paços também promoveu vários regressos à Liga, casos de Marcelo, Stephen Eustáquio e João Amaral, além de ter contratado Adriano Castanheira ao Sp. Covilhã. O Portimonense, além de Bruno Costa, garantiu ainda o japonês Takuma Nishimura, cedido pelo CSKA Moscovo, e o ganês Evans Mensah, que chegou do Al Duahil. O Desp. Aves, lanterna vermelha da Liga, também tem três reforços, Jonathan Buatu e Oumar Diakhité a juntarem-se a Marius. Tal como o Marítimo, que além do regresso do avançado Joel Tagueu contratou os colombianos Diego Moreno e Juan Mosquera.

Inglaterra anormalmente contida e os reforços mais sonantes lá por fora

Nos grandes campeonatos europeus, também tem sido um janeiro contido, à espera do que ainda aí vem. Numa altura em que se esbateu e muito o investimento da China, que foi nos últimos anos o grande dinamizador do mercado de inverno, tem sido Itália a liderar os gastos. A Premier League, por regra o mais gastador dos grandes campeonatos, tem estado particularmente tranquila, tendo gasto até agora, de acordo com a estimativa do site especializado Transfermarkt, 43 milhões de euros, o que é menos de um quinto das duas últimas janelas de inverno, em cada uma das quais superou os 200 milhões. O reforço de maior relevo na Premier League até aqui foi o japonês Takumi Minamino, contratado pelo Liverpool ao RB Salzburgo.

Mas há muitos clubes ingleses em campo e vários cenários que ainda podem mudar o estado das coisas. E no mercado internacional há mudanças bem previsíveis até ao fim da janela, a começar pela de Edinson Cavani, que assumiu o desejo de deixar o PSG.

A transferência mais mediática até agora, nas grandes Ligas, foi provavelmente a de Erling Haaland, o jovem prodígio norueguês de 19 anos que estava no radar dos «grandes» da Europa e foi contratado pelo Borussia Dortmund ao RB Salzburgo, por um valor estimado de 20 milhões de euros. Dizer que causou impacto imediato não lhe faz justiça: na estreia, saiu do banco na segunda parte e marcou um hat-trick em pouco mais de 20 minutos. Nunca tal tinha acontecido na história da Bundesliga. Houve mais chegadas de peso à Bundesliga, como o argentino Exequiel Palacios, que trocou o River Plate pelo Bayer Leverkusen, adversário do FC Porto na Liga Europa, ou o israelita Moanes Dabbur, que rumou ao Hoffenheim poucos meses depois de ter chegado ao Sevilha.

A contratação mais cara deste período no mercado internacional é de um jogador que só se mudará em junho: Dejan Kulusevski, internacional sueco de 19 anos, contratado pela Juventus à Atalanta para a Juventus, por 35 milhões de euros. O médio permanecerá emprestado ao Parma até final da época.  Itália já terá superado os 100 milhões de euros de gastos, numa janela em que recuperou um nome bem sonante: Ibrahimovic, de regresso ao Milan.

Em Espanha, o Real Madrid voltou a apostar no futuro, contratando o médio ofensivo brasileiro Reinier, de 18 anos, que chega do Flamengo de Jorge Jesus por um valor estimado de 30 milhões. Barcelona e At. Madrid ainda não contrataram e, além de Raul de Tomás, que bateu o recorde de contratações do Espanhol, apenas o Sevilha de Lopetegui se movimentou com peso no mercado, uma vez mais, contratando o marroquino Youssef En-Nesyri ao Leganés.

Em França o tom também tem sido de tranquilidade, num período em que os destaques são a chegada de Rémi Oudin ao Bordéus de Paulo Sousa, vindo do Reims, e a contratação pelo Mónaco de Strahinja Pavlovic, mas apenas para a próxima época.