Há jogos que ficam para a história da História. Este Tondela-Marítimo será definitivamente um deles. Os madeirenses venceram por 4-3, num encontro de desfecho louco e imprevisível, com voltas e reviravoltas, uma expulsão pelo meio e tantas outras incidências. E o mais engraçado é que a partida nem foi assim tão bem jogada.

O encontro em Tondela começou tal como noutras ocasiões neste mesmo estádio, com um golo e para a equipa forasteira: João Diogo arrancou a partir da direita, rematou de pé esquerdo, cruzado, com o guardião tondelense Zubikarai a defender para o lado e a deixar a bola à mercê de Edgar Costa, que não desaproveitou a oportunidade para inaugurar o marcador.

Estávamos no terceiro minuto de jogo e a equipa de Petit teve de se confrontar logo com este choque, embora esta não tenha sido uma situação virgem para o Tondela. A reação da turma da casa não foi a melhor: a equipa acusou o nervosismo de ter de correr atrás do prejuízo e os passes errados iam abundando. Ainda assim, Nathan Júnior podia ter empatado, após boa iniciativa individual de Romário Baldé no lado direito.

O Marítimo ia respondendo na contra-ofensiva, numa primeira parte de relativo equilíbrio em termos de posse de bola. Após uma incursão de João Diogo pelo corredor direito, Edgar Costa ia bisando mas o remate embateu em Bruno Nascimento. Pouco depois, e já na entrada para os últimos 20 minutos da primeira parte, foi Dyego Sousa a desviar de calcanhar para o poste uma bela bola saída do pé esquerdo de Rúben Ferreira.

E seria precisamente Dyego Sousa a aproveitar uma indecisão do central Bruno Nascimento para fazer o segundo do Marítimo, quando já avançávamos para os últimos dez minutos do primeiro tempo. A reação tondelense, porém, não se fez esperar muito…

A cinco minutos do intervalo, Nuno Santos cruzou para a pequena área, onde apareceu Nathan Júnior a desviar para o fundo das redes de Haghighi, num bom movimento entre os centrais do Marítimo. E o resultado assim se manteve até ao intervalo, com a perspetiva de uma segunda parte agitada por força desta reação final da turma viseense.

45 minutos de loucura

Para o começo do segundo tempo, Petit decidiu lançar o extremo Wagner para o lugar do criativo Karl (que não teve uma tarde de grande inspiração…). A equipa tondelense passou a atuar em 4-2-4, com a clara intenção de ter maior profundidade ofensiva.

E, na verdade, o Tondela melhorou, com Nathan Júnior e Wagner a ficarem perto do golo, isto já depois de Dyego Sousa também ter tido uma oportunidade para bisar, de cabeça, do outro lado do relvado.

Ao quarto de hora da segunda metade, um (quase) volte-face importante na história do jogo: Edgar Costa viu dois cartões amarelos no espaço de um minuto (o primeiro por protestos, o segundo por uma falta, numa decisão que pareceu manifestamente exagerada…) e o Tondela ganhou ânimo na discussão pelo resultado.

O empate chegou através do suspeito do costume, já nos últimos 20 minutos da partida: Nathan Júnior, brilhantemente lançado por Murillo, desmarcou-se e rematou da quina da área para o fundo das redes de Alireza Haghighi, que não conseguiu fazer mais do que esboçar uma reação perante uma bola tão colocada…

Nathan Júnior voltou a estar em plano de destaque a seis minutos dos 90 min., deixando para trás Patrick Vieira e assistindo Érick Moreno para o golo da reviravolta. O avançado colombiano, que havia entrado no decorrer da segunda parte, marcou assim o seu primeiro golo desde que regressou ao nosso campeonato.

No entanto, uma das situações mais loucas da história do campeonato iria acontecer já na fase final do encontro. O árbitro Tiago Martins deu seis minutos de compensação e esse tempo foi suficiente para que o Marítimo, reduzido a dez desde o minuto 60, conseguisse marcar dois golos e tivesse dado nova reviravolta no marcador.

Primeiro, foi o central Dirceu, a aproveitar mais um deslize de Zubikarai (o basco não dá segurança nenhuma a esta equipa do Tondela…) e a empatar a partida. Depois, foi o senegalês Baba, entrado para a parte final do encontro, a decidir, após jogada entre Dyego Sousa e João Diogo, com a defesa da casa a comprometer novamente.

No final, vitória essencial para o Marítimo na luta pela manutenção. Quanto ao Tondela, pode começar já a preparar o regresso ao segundo escalão. Depois deste jogo de loucos, não parece haver salvação possível.