Pepe, claro. E Sérgio Oliveira, claro. Veteranos medalhados na guerra de Turim, operários de infantaria enfeitados por cicatrizes de outras batalhas, gente do «antes quebrar do que torcer». Tinham de ser eles, claro, a decidir a complicada receção ao excelente Paços de Ferreira.

Pepe e Sérgio, heróis de Itália, são de outra cepa. Fartaram-se dos preliminares, da arte de uma sedução que nunca dá em nada e passaram à ação. Pepe e Sérgio não são de abraços, sussurros e beijinhos, muito menos de relações de platonismo enjoativo.

Os golos dos campeões nacionais tiveram de esperar 77 minutos. E 78 minutos. Respetivamente. O FC Porto viveu numa espécie de transe nostálgico até ao intervalo, a reviver os momentos épicos da eliminatória frente à Juventus, e só meteu os pés na terra para o segundo tempo.

FICHA DE JOGO E AO MINUTO DA PARTIDA

Minutos a fio, também por responsabilidade de um Paços que Pepa ensinou a sentar-se à mesa dos grandes, o FC Porto limitou-se a cumprir os trâmites tradicionais do galanteio, cumprindo a preceito os rituais de outros tempos, demasiado respeitador. Já não se usa.

Era o toque para o lado, o piscar de olho, o abraço sem ponta de maldade e o Paços confortável à porta de casa. Um namoro que estava condenado a não dar em nada, insistimos. Faltava aos dragões tudo o que dá sentido a esta vida: a adrenalina, a paixão, o desejo selvagem de ser feliz, custe o que custar. O golo.

A mensagem de Sérgio Conceição terá sido essa no balneário, durante o descanso. E passou. Zaidu e Manafá começaram a sprintar, Otávio passou a querer ter bola e coordenar o jogo, Uribe e Sérgio foram mais corajosos no passe, mesmo Marega e Taremi quiseram mais da noite.

O problema é que as promessas foram-se acumulando e da bancada a pólvora parecia seca e as espingardas compradas na feira. Teve mesmo de ser o dedo do treinador a mexer no jogo e a lançar duas munições fresquinhas para agitar o ambiente.

DESTAQUES DO JOGO: Pepe, Sérgio e os agitadores de turno

Francisco Conceição e Luis Díaz entraram aos 71 minutos, Pepe acabou com a respeitabilidade pacense aos 77 e uma «bomba» de Sérgio Oliveira rebentou com as dúvidas logo a seguir. As luvas de Jordi ficaram a deitar fumo, o guarda-redes caiu para dentro da baliza e a bola adormeceu-lhe junto à cabeça.

A famosa ressaca europeia nunca é de digestão simples. Voltou a não ser. O Paços teve a solidez e a qualidade com bola que já tantas vezes teve esta época. Faltou-lhe mais qualidade nas transições, faltou-lhe qualquer coisa para assustar e inquietar o FC Porto. Em dois minutos destruiu o que construíra em três quartos do jogo, mas o quinto lugar continua seguro e em muito boas mãos.

O FC Porto repõe os dez pontos de atraso para o Sporting. Voltou a casa depois da missão europeia, foi competente depois do tempo de descanso e ganhou bem. Pepe e Sérgio são soldados de ação, são capitães de um março que ainda está a começar. Heróis, pois claro.

VÍDEO: o resumo do 2-0 do FC Porto ao Paços