De Santa Cruz do Rio Pardo, no Brasil, para Paços de Ferreira. Douglas Tanque aterrou em Portugal no verão de 2018 e demorou pouco tempo para se fazer notar na Capital do Móvel: 14 golos na primeira época, e uma ajuda decisiva no regresso dos castores ao principal escalão do futebol português.

Esta temporada já fez o gosto ao pé por seis vezes – marcou a Sporting e Sp. Braga, por exemplo –, mas antes destes números, teve de suar para chegar à tão sonhada Europa. Estreou-se no Brasileirão com 16 anos, mas não chegou a afirmar-se no futebol brasileiro, apesar de ter pertencido aos quadros do Corinthians, onde, note-se bem, era tratado como «filho» de Adriano Imperador.

Andou depois por Japão, México e Tailândia a crescer como jogador, para depois, lá está, ajudar o Paços de Ferreira a voltar ao convívio entre os grandes.

Em entrevista ao Maisfutebol, Tanque conta-nos como têm sido os dias de confinamento, provocados pela covid-19, mas não só: fala do futebol português, do «chato» Vítor Oliveira, da infância no Brasil e até do mês que passou num hospital no Japão.

PARTE II: «Vítor Oliveira? No início eu até dizia: ‘Nossa, esse treinador é chato’»

PARTE III: De «filho» de Adriano Imperador a goleador do Paços: «Quis a minha alcunha»

Maisfutebol (MF) – Como têm sido estes dias em casa?

Douglas Tanque (DT) – Está tudo bem comigo e com a minha família. Tenho treinado, tenho visto Netflix, filmes. Tento brincar com a minha filha, jogo um pouco de videojogos. Tento distrair-me, nunca ninguém passou por uma situação dessas. Estou a tentar limpar um pouco isto da cabeça.

MF – Que idade tem a sua filha?

DT –Três anos.

MF – É difícil mantê-la ocupada? Como tem gerido a situação?

DT – Não, ela é tranquila. Gosta de brincar, de ver vídeos no youtube e brinca muito com bonecas. Mas é difícil ficar dentro de casa sem poder sair.

MF – Jogadores estão habituados a muita atividade física, muitos jogos, viagens, estágios… Mais do que a questão física, o desafio maior é a nível mental?

DT – Acho que a nível mental temos de pôr na cabeça que temos de tentar treinar ao máximo em casa, para tentar ficar em forma, para quando a competição voltar a estar preparado para treinar e poder em poucos dias voltar a jogar a alto nível.

MF – A rotina diária nos últimos tempos?

DT – Acordamos, tomamos pequeno-almoço, faço os treinos que o Paços de Ferreira manda aos jogadores e depois do almoço descanso um pouco, vemos netflix. Depois de jantar jogo PlayStation, FIFA ou Call Of Duty, depois volto a ver Netflix e descanso.

MF – Tem acompanhado a situação no Brasil?

DT – Graças a Deus está tudo bem com os meus familiares e com os da minha esposa. No início penso que o Brasil não estava a levar tão a sério esta situação, mas depois começaram a ver os casos a aparecer e agora estão a levar mais a sério.

MF – Há um grande impasse em relação ao futebol, quando e se deve regressar esta época. Imagina-se, por exemplo, a jogar as dez jornadas que faltam da Liga sem adeptos nas bancadas? Ou prefere que a época seja suspensa definitivamente?

DT – Se continuar assim e não houver melhorias acho que era melhor acabar a época, mas se as coisas melhorarem e as autoridades de saúde notarem uma evolução, penso que pode voltar. O futebol é um espetáculo, é difícil jogar sem adeptos. Mas se for para o bem da saúde de todos [jogar à porta fechada], temos de fazer esse sacrifício.

MF – Mas imagina-se a jogar sem adeptos?

DT – Já me aconteceu uma vez e é muito chato. Mas não me imagino a jogar dez jogos, não sei como deve ser.

MF – Muitos clubes já acertaram reduções de salários. Há muitos jogadores que podem dar-se ao luxo de ficar alguns meses sem receberem tanto, mas outros nem tanto. É uma situação que a si o preocupa?  E como está a situação do Paços?

DT – É uma situação muito delicada, mas os jogadores têm de parar para pensar, ter a consciência da situação que o mundo atravessa e ajudar os clubes. Não está a entrar dinheiro em nenhum clube, por isso os jogadores têm de ter o bom-senso de ajudar. Não só os que ganham mais, os que podem [abdicar de parte do salário] não é por ficarem três meses a receberem menos que vão passar dificuldades. Tem de se olhar para a saúde, ver o que o mundo atravessa e, neste caso, o que os clubes estão a passar, por a mão na consciência e ajudar de alguma forma.

MF – Os jogadores, pelo mediatismo que têm, podem ter um papel social mais importante e decisivo numa altura como esta?

DT – Sim, penso que os jogadores podem dar alguns conselhos à população, para cuidarem da saúde, ficarem em casa… Se cada um fizer a sua parte, a situação resolve-se rapidamente.