As pinturas de guerra de Rafa Silva ganharam o jogo na Mata Real. O avançado saiu da sala de maquilhagem para o relvado com o traje que mais gosta: montado a cavalo, arco e flecha na mão, sedento por golos e destruição. Um comanche de camisola vermelha e calções brancos, implacável com as vítimas e as balizas.
 

Se o Benfica passou em Paços de Ferreira, as explicações para o triunfo têm de começar em Rafa. É ele que acaba com a boa resistência pacense aos 39 minutos, fugindo nas costas da marcação, aparecendo à frente de Baixinho, fugindo para o meio e rematando de pé esquerdo. Perfeito.

E é também ele que explora o bloco alto pacense no início do segundo tempo, minuto 47. Reage como um guerreiro obcecado reage sempre, a mil (lembram-se do pedido de Bruno Lage?), sprinta e faz o cruzamento rasteiro para o pistoleiro Carlos Vinícius encostar. Simples, eficaz, mortífero.


FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

Começamos por Rafa, mas este Benfica chega a janeiro no melhor momento da época. Mérito das ideias do treinador, dos planos levados para os campos e da forma como os executantes aceitam e executam nos dias a sério os testes de laboratório.

Depois de meses a jogar apenas o suficiente e a ganhar raras vezes com brilho, o Benfica está mais convincente do que nunca. O que diferencia a águia do rival FC Porto, por exemplo? A facilidade com que cria situações de golo, sem ter a necessidade de massacrar adversários.

Em Paços de Ferreira, o guarda-redes Ricardo Ribeiro era o melhor em campo até Rafa decidir… matar o jogo. E mesmo a ganhar 2-0, o Benfica precisava de menos bola (tinha 41 por cento de posse aos 50 minutos) e de menos esforço para provocar real dano nas linhas contrárias.

Quem vê o Benfica no estádio percebe melhor como tudo se desenrola. Se a bola entra num dos dois centrais (aconteceu nos dois golos, primeiro com Rúben Dias e depois com Ferro), um dos homens da frente baixa para fugir à marcação (Pizzi, Cervi ou Rafa) e cria logo condições para a bola entrar entrelinhas.  

Depois, naturalmente, entra o talento, a capacidade de decidir depressa e bem. Com qualidade. Ou surge o apoio frontal, em passe curto, ou o cruzamento (mais raro). De uma forma simples, o Benfica de Bruno Lage em ataque organizado é isto. Aquele «buraco» entre os centrais e os médios adversários é o Triângulo das Bermudas deste campeonato. Há esperanças e equipas inteiras a desaparecerem ali.

Rafa, muito Rafa, sim senhor, mas também muito Benfica, apesar do jogo extremamente interessante feito pelo Paços de Ferreira. Organizado, corajoso, o Paços cheirou o golo num par de vezes e até justificava, no mínimo, a derrota pela diferença mais apertada.

O «pernalonga» Diaby encheu o meio-campo enquanto teve força, Adriano Castanheira tem um pé esquerdo encantador e Douglas Tanque é… um tanque. O avançado lutou 90 minutos, ganhou vários duelos, mas nunca acertou com a baliza na hora de rematar. É também isto que define os melhores: rematar com qualidade.

Qual é, afinal, o objetivo supremo do futebol? O golo. Para conquistá-lo, nada melhor do que ter uma sala de maquilhagem e pinturas de guerra preparadas. E se Rafa puder aparecer, ainda melhor. Que o diga este Benfica de Bruno Lage, o melhor da época.