«Vitórias tão gloriosas, enchem a vida de cor». O hino do Paços de Ferreira transmite a ideia certa. Porém, esta equipa da Capital do Móvel não entusiasma como no passado, anda naquela zona cinzenta entre a tranquilidade e a aflição, sem convencer. Nulo penalizador frente ao Tondela (0-0).

Amarelo e verde de um lado, roxo e preto do outro, a palete de cores neste final de manhã foi interessante. No retângulo de jogo, porém, o cinzento foi o tom dominante. Pepa não quer que enterrem desde já o Tondela e este pontinho, embora seja curto para as necessidades atuais, permite um regresso mais animado a casa.

O Tondela iguala o Nacional na tabela classificativa: 16 pontos para a dupla de últimos classificados, a quatro da linha de água. O Paços também vai pontuando, está nove acima da área de perigo e esteve mais perto de vencer, é certo. Podia até merecer o triunfo este domingo. Mas paga alto preço por uma primeira parte pouco inspirada e falta de acerto na segunda.

Podíamos resumir a primeira parte do encontro num parágrafo, para não maçar demasiado o leitor, embora isso representasse um insulto para os adeptos dos dois clubes. Limitando o resumo da etapa inicial a oportunidades de golo, poucas linhas bastariam.

O Tondela, apostando maioritariamente no contra-ataque, conseguiu incomodar Rafael Defendi ao 13º minuto de jogo. Em resposta rápida, Miguel Cardoso descobriu Jhon Murillo no lado direito da área mas o extremo cedido pelo Benfica, pressionado por João Góis, atirou à figura do guarda-redes do Paços.

Welthon e Cláudio Ramos, figuras-maiores de Paços de Ferreira e Tondela, travaram um duelo interessante logo depois. Livre à entrada da área, ligeiramente descaído para a direita, à medida do pé esquerdo do avançado. Bola em arco, em direção ao ângulo da baliza, com Cláudio Ramos a responder em voo, mais um, repetindo o que de bom tem feito ao longo da época.

Após o primeiro quarto-de-hora, com algumas promessas, o jogo entrou numa fase de combate, de escassez de ideias. Fica para a história uma bomba de Pedrinho, já ao caminho do intervalo, ligeiramente ao lado. E pouco mais. Argumento curto.

O problema residiu, de parte a parte, na falta de profundidade pelos flancos. Pouco envolvimento dos laterais no processo ofensivos e extremos sem capacidade para causar desequilíbrios. Assim, viu-se futebol afunilado, com demasiados homens por metro quadrado.

Vasco Seabra foi o primeiro a combater essa realidade, trocando o inconsequente Barnes Osei por Ivo Rodrigues, logo à entrada para a o segundo tempo. O Paços tinha a obrigação de se impor com maior autoridade frente ao último classificado da Liga.

A equipa pacense entrou melhor na etapa complementar, é certo, mas continua a demonstrar mais vontade que competência na esquematização do seu jogo. Ao minuto 53, ainda ameaçou o 1-0 na sequência de um livre indireto mas Káká colocou o pé no sítio certo e desviou a bola cabeceada por Welthon.

O que falta a este Paços para ser tão entusiasmante como outrora? Estabilidade. Depois de trocar Carlos Pinto por Vasco Seabra, o clube procurou compensar algumas lacunas no plantel mas o onze atual tem poucas rotinas.

Frente ao Tondela, a equipa pacense apresentou de início três jogadores que chegaram apenas na reabertura do mercado. Um por setor: Gégé, Filipe Melo e Diego Medeiros. A este quadro juntam-se outros quatro que não estavam no plantel na época passada: Vasco Rocha (regressou de empréstimo), Filipe Ferreira, Pedrinho e Welthon. Precisa-se de tempo.

Na equipa de Pepa, também ele um treinador que apanhou o comboio em andamento (iniciou a época no Moreirense, saiu, e mais tarde substituiu Petit no Tondela), o quadro é similar: cinco jogadores que transitaram de 2015/16, quatro chegados no verão, dois em janeiro.

Heliardo não tem convencido plenamente na frente de ataque e foi o primeiro sacrificado na formação visitante, saindo para a entrada de Amido Baldé. Este entrou com o nome de Batista na camisola, mas era mesmo ele, aquele que chegou a deslumbrar no V. Guimarães.

Depois de um lance que deixou algumas dúvidas, entre Pedrinho e Osorio na área do Tondela, o lanterna vermelha da Liga chegou a ameaçar o choque na Capital do Móvel. Jaílson surgiu com espaço na meia direita mas rematou sem preparação e errou o alvo. Oportunidade soberana para roubar três pontos. O Paços teve igualmente ocasiões para marcar: Filipe Ferreira atirou a centímetros do poste e Marco Baixinho chegou a cabecear à trave. Não chegou.

O Paços de Ferreira dominnou sem criar suficientes lances de perigo, Káká foi recorrendo à sua experiência para anular Welthon e Pedrinho não chegou para rumar contra a corrente. O nulo perdurou até final e o desfecho aceita-se, penalizando uma equipa pacense que tem qualidade para fazer mais e melhor.