O som do silêncio, as vilanias do vento, a resistência do Paços de Ferreira. Três boas explicações para o desaire surpreendente do Rio Ave em casa frente a um aflito da Liga. Um desaire que o impede de chegar ao quinto lugar e ao número histórico de dez jogos seguidos sem derrotas no campeonato. Retoma dura para os homens dos Arcos.

Pouco preocupado com isso estará o Paços. Capitalizou com excelência o fator-vento no primeiro tempo, pelo menos até aos 35/40 minutos, sobreviveu à expulsão de Bruno Teles ainda antes do intervalo e depois montou o posto de sobrevivência com o grande golo de Bruno Santos, marcava o cronómetro 52 minutos (FICHA DE JOGO).

O vento, tantas vezes o vento em Vila do Conde. Desta vez, só faltou Vivien Leigh a esgravatar na terra e a clamar o beijo de Clark Gable numa súplica de dor e perda. A icónica cena de E Tudo o Vento Levou é uma metáfora cinéfila da noite desinspirada dos homens de Carlos Carvalhal.

O Rio Ave começou a perder jogo na moeda ao ar e ao entregar-se aos caprichos da natureza. O Paços marcou dois golos de bola parada, o primeiro com um misto de perícia (de João Amaral) e de inépcia (de Kieszek), o segundo num canto em que Matheus Reis ficou a olhar e Douglas Tanque encostou para a baliza.

A bola viajava com uma velocidade impressionante na baliza de Kieszek e nem a posse do Rio Ave travava os humores da corrente de ar. Até aos 30 minutos, na verdade, o Rio Ave já podia estar a perder por uma diferença maior.

Antes do intervalo, o Rio Ave sossegou, reduziu por Diego Lopes e viu Bruno Teles a levar o cartão vermelho. A equipa partia para a segunda parte, e para a companhia benévola do vento, só a perder por 2-1 e em superioridade numérica. Com tudo, por isso, para dar a volta ao marcador.

Nada feito. A surpreendente iniciativa individual de Bruno Santos acentuou a surpresa e depois o Rio Ave só foi capaz de reduzir por Gelson Dala. Quando se preparava para o assalto final, de braço dado com o vento – quantas vezes já dele falamos? -, Matheus Reis cometeu a estupidez de reagir a uma falta dura de Pedrinho e foi expulso. Já tinha um amarelo e deixou a equipa na mão. Muito mal.

O resto foi silêncio. O som do silêncio, como cantaram Simon e Garfunkel. As cadeiras despidas, o cimento gelado, o silêncio a ecoar nas gargantas de treinadores e futebolistas. Os dias estranhos do mundo, os dias estranhos do futebol, como se tudo nos tivesse sido tirado pelo vento. Pelo menos em Vila do Conde.

O Paços chega aos 25 pontos e abre um fosso de seis pontos para a zona de manutenção. Um sopro de vida para os pulmões dos castores.   

VÍDEO: o resumo do jogo