A festa acabou na véspera. Os copos ficaram espalhados pelo chão, o cheiro a tabaco asfixiou, os convivas aproveitaram tudo o que podiam aproveitar. No silêncio do day-after, possivelmente de ressaca, o FC Porto veste o melhor smoking e aparece com a dignidade possível. Sem glamour, sem focos mediáticos, apenas uma réstia de profissionalismo e bom gosto.

Foi isto o jogo e a vitória sobre o Paços de Ferreira. Sem ponta de glória, embora justa e digna.

Quatro anos sem campeonatos nacionais é uma experiência jamais vivenciada na era-Pinto da Costa. As consequências são, por ora, desconhecidas, embora os sintomas já se sobreponham a tudo o resto.

Medo de falhar, medo de sofrer, medo de errar.

Até ao golo de Héctor Herrera – cabeceamento fulgurante após cruzamento de Corona -, o FC Porto revelou mais receio do que ambição. Tentava fazer as coisas bem, mas sempre a olhar por cima do próprio ombro, como se alguém o perseguisse implacavelmente. Nas sombras.

FICHA DE JOGO DO FC PORTO-PAÇOS

Disso se aproveitou, e bem, o Paços de Ferreira. Primeiro avisou, numa dupla oportunidade aos 15 minutos - Luiz Phellype num cabeceamento e Ricardo Valente num remate rasteiro a rasar o poste esquerdo. Depois marcou.

O remate de Andrezinho saiu inofensivo, mas desviou em Ricardo Valente e entrou devagarinho na baliza de Casillas. O espanhol já estava todo atirado para o lado oposto.

Em contextos de aflição, sabe-se que a sorte não é presença assídua. E o que pode correr mal, corre mal.


Primeiros assobios, sinais tímidos de contestação e, com alguma surpresa, boa reação dos dragões. Nos olhos de um Paços Ferreira organizado e a ter saídas interessantes para o ataque, o FC Porto resolveu a depressão com dois golos rápidos. O tal cabeceamento de Herrera e um penálti sofrido e transformado por Yacine Brahimi.

Quatro minutos bastaram para a reviravolta e a resolução de mais um problema bicudo. É que da segunda parte, desta segunda parte, não reza a história. Mais dois golos, sim senhor (Diogo Jota lançado ao intervalo e assistido brilhantemente por Herrera, 47 minutos; André Silva de penálti, 88 minutos), mas tudo a um ritmo mais baixo e marcado pelos eventos da véspera.

O tetra do rival da Luz fez deste um domingo de cinzas e tristeza no Dragão. Não é uma vitória apenas justa e normal sobre o Paços que vai afugentar nuvens e sossegar rumores.

As próximas semanas serão cruciais para perceber o que o FC Porto e o Dragão terão no próximo ano. Sente-se a impaciência de gente habituada a vencer, gente que cresceu a celebrar e a ser melhor do que os outros. Gente que não aceita a posição subalterna a que este clube se submeteu nas últimas épocas.

O jogo? Foi engraçado, com certeza. O problema é que este smoking de gala tem um ar fúnebre.