O presidente do Marítimo, Carlos Pereira, saudou o regresso da I Liga, embora não compreenda as «restrições impostas» de jogar fora da Madeira, e alertou para ajuntamentos de pessoas. O dirigente disse ainda que a reunião da federação com os «três grandes» foi uma «traição».

«Saudar o regresso da Liga, mas porque o senhor primeiro-ministro [António Costa] disse ontem [quinta-feira] que nós voltaríamos quase à normalidade em junho. Ora, se nós voltamos à normalidade, não consigo entender o porquê das restrições que estão a ser impostas», reagiu o dirigente em declarações à agência Lusa.

A I Liga volta no fim de semana de 30 e 31 de maio, após ter sido suspensa a 12 de março, devido à pandemia de covid-19, com dez jornadas por disputar.

O líder do clube madeirense deixou também duras críticas à reunião de terça-feira entre o primeiro-ministro e os presidentes da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e dos clubes Benfica, FC Porto e Sporting.

«Não mandatámos nenhum daqueles senhores para negociar um plano com o senhor primeiro-ministro. Mandatámos para falar com o primeiro-ministro sobre outras coisas e, sobretudo, para saber se havia ou não condições para podermos começar a tomar decisões. Acho que é uma traição aos clubes por aqueles cinco que lá foram em relação ao plano maquiavélico que estava a ser preparado, não sei por quem, mas são todos cúmplices», apontou Carlos Pereira.

Um alerta também foi deixado para a diferença de tratamento do futebol em relação a outros espaços, como teatros, cinemas e centros comerciais, e para o risco do ajuntamento de pessoas.

«Porque é que só o futebol vai ser tratado como se fosse uma anormalidade? Não consigo perceber. Penso que o primeiro-ministro foi induzido em erro. Sem a II Liga, ainda aumenta mais a concentração de pessoas, que não vão estar nos estádios, em bares, restaurantes e casas particulares. Se estamos a desagravar de um lado, estamos a agravar do outro. Isto tem de ser bem pensado e o futebol não fica nada a ganhar com isto», referiu

Carlos Pereira diz ainda que a Direção-Geral da Saúde pode e deve intervir e que espera uma explicação de Pedro Proença na reunião de presidentes dos clubes prevista para esta sexta-feira.

Para o presidente do Marítimo, que lembrou «sempre ter defendido a saúde em primeiro lugar», o futebol, se é para regressar, deveria ser nos moldes originais, havendo «solidariedade» da parte dos clubes caso um estádio não esteja em condições para receber um ou outro jogo.

A outra equipa insular do principal escalão, o Santa Clara, admitiu jogar o que resta do campeonato fora. «Em 24 horas em que uma equipa chega à Madeira ou aos Açores e que fica confinada aeroporto-hotel-jogo-aeroporto, estava muito mais salvaguardada, mas quem sou eu para interferir na vida do Santa Clara e do meu amigo Rui Cordeiro. Ele terá as suas razões e nós as nossas. Temos o estádio em belíssimas condições. Pode ser que o Santa Clara não tenha e seja obrigado a isso», comentou.

O Marítimo regressa ao trabalho na segunda-feira, sempre «salvaguardando a saúde pública, a dos jogadores e dos seus familiares», e mesmo sem a presença do treinador José Gomes, que ainda tem pouco mais de uma semana de quarentena a cumprir, após ter chegado à Madeira na segunda-feira.

O Governo definiu na quinta-feira, no plano de desconfinamento da pandemia de covid-19, que a I Liga e a final da Taça de Portugal vão poder ser disputados, permitindo também desportos individuais ao ar livre.