Começou com fogo de artifício encarnado, acabou com festa azul e branca. O FC Porto chegou à Luz para mostrar que as notícias de uma morte anunciada eram, naturalmente, precipitadas. Ou era isso, ou era o total desconhecimento de quem é Sérgio Conceição, o homem e o treinador, mas também da qualidade de quem chegou para substituir ídolos que o deixaram de ser, mal terminou a temporada.

O FC Porto foi mais forte em todo o clássico. No coletivo, obrigatoriamente por isso no individual. Foi melhor na estratégia, foi melhor nas emoções e em todos os momentos do jogo. Até quando ele esteve parado.

De Marchesín irritar a Luz quando estava já em vantagem, de Pepe a demorar a bater um livre, de quem era substituído arranjar sempre alguma confusão para se demorar mais.

O dragão veio para um clássico, o Benfica para um jogo de campeonato e, por isso, saiu o FC Porto com um 2-0, que espelha melhor o que se passou em campo, do que o resultado que houve entre os 22 e os 87 minutos.

FILME E FICHA DE JOGO.

O dragão chegou à Luz atrás no campeonato, mas bem consciente do que fazer para apanhar a águia na tabela. Conceição assumira que o FC Porto era, na realidade é, a equipa em Portugal capaz de não perdoar erros aos Benfica. Assim foi. Aliás, foi porque o FC Porto provocou-os e não porque eles simplesmente aconteceram.

Sem surpresas nos onzes, o azul e branco defendeu de forma fantástica. Basta dizer que o Benfica só atirou à baliza de Marchesín aos 41 minutos! Uma cabeçada que passou muito longe, tão longe quanto o FC Porto deixou o Benfica da área do argentino.

Pizzi e Rafa procuraram muito jogo interior, mas o dragão vinha preparado e, por ali, não passou nada. Ora, onde havia espaço, então, quando o Benfica conseguia sair da primeira pressão portista? Na direita, onde Nuno Tavares joga de pé esquerdo.

O dragão preferiu deixar o rival espreitar por ali e com o condicionalismo que o lateral tinha pelo pé trocado, foi fechar o caminho para Pizzi e… o espaço que havia ali ia-se também.

Veja-se o Benfica. Falhou muitos passes? Falhou muitas receções? Jogou muita bola longa na frente? Há um motivo para tudo isso e tem nome: FC Porto.

É mesmo Zé do Golo: os destaques do FC Porto

Exemplar a estratégia de Conceição, perfeita a forma como os jogadores a interpretaram. Depois, há coisas com que se deve jogar também.

Mais alto e mais forte, o FC Porto não se importou de jogar direto na frente e muito menos se incomodou quando obrigava o Benfica a fazer o mesmo. Pepe e Marcano atrás ganharam os duelos aéreos todos, Zé Luís e Marega fizeram o mesmo na frente.

O golo de Zé Luís chegou já depois de três lances dos azuis e brancos: Baró num remate fraco, Rúben Dias num corte sobre Corona e Vlachodimos a defender remate de Zé Luís. Podia dizer-se que o grego foi traído pelas costas de Rúben Dias no 1-0, mas essa bola parada foi apenas outro aspeto em que o dragão foi superior.

Ao intervalo, a vantagem era justíssima e o otimismo com que o universo Benfica vinha para o jogo era agora preocupação. Bruno Lage tinha de encontrar uma solução para o que Conceição lhe pôs à frente.

A entrada de Taarabt, fosse pela lesão de Samaris ou opção, melhorou um pouco o jogo encarnado. Apenas e só porque o marroquino soltou-se mais vezes da pressão portista, imposta por Danilo, Uribe, mas também Baró e Diaz mal alguém passava a primeira linha de pressão.

Houve pouco mais que Tino numa equipa em desatino: os destaques do Benfica

Ainda assim, o Benfica acreditava pouco nos corredores, sobretudo aquele onde estava Nuno Tavares, que não só tinha de preocupar-se com o seu pé direito como também com o rapidíssimo Luís Diaz - grande jogo do colombiano!

Raul de Tomás também deu mais à equipa entre linhas, enquanto Seferovic voltou a ter rendimento absolutamente nulo. O FC Porto recuou ligeiramente, mas ficou com todo o meio-campo contrário para explorar e foi o que fez, porque, lá está, apesar de melhorias, o Benfica nunca chegou sequer ao nível de um rival que era isto tudo a defender e tudo isto a atacar: venenoso através da rapidez de Zé Luís, da profundidade proposta por Marega e das qualidades técnicas, aliadas à velocidade de Luís Diaz.

O 2-0 de Marega só chegou tarde. Já depois de Pepe,  mesmo com os seus excessos, explicar como se joga um clássico, e o FC Porto como se responde em campo quando a dúvida se instala na bancada.

O maliano ainda perdoou o Benfica uma vez, mas perante tanta ousadia de Bruno Lage em retirar Florentino do meio-campo, Marega meteu uma diferença de dois golos no marcador, o FC Porto igualou o rival nos pontos e, no pensamento a longo prazo, ganhou uma boa vantagem no confronto direto.

O dragão ofuscou a Luz.