O Sporting perdeu um clássico em que foi melhor.

Convém começar por aí, por colocar o acento tónico no Sporting, porque este clássico foi muito dele. Foi ele que mais o jogou, que mais o alimentou e que no fim o perdeu.

O que acaba por ser normal. Coisas más acontecem a quem se enche de negatividade.

O que nos remete para o título. Mais do que de sorte, de força, de velocidade ou de técnica, este Sporting precisa urgentemente de um divã de um psicanalista. De se sentar, respirar, refletir e libertar. O clube vive em conflito interior e por isso deprime-se com uma velocidade assustadora.

Mais do que contra adversários, esta equipa luta contra fantasmas. Passou toda a primeira parte entregue ao abandono, estranha na própria casa, a ouvir os adeptos portistas gritar como se estivessem no Dragão, sem um mínimo de apoio dos próprios adeptos (e sobretudo das claques).

Para piorar as coisas, começou o jogo a oferecer um golo ao adversário. Ninguém marcou, Luís Maximiano saiu da baliza despropositadamente e Marega transformou uma má receção em golo. Quando estava completamente sozinho e com a baliza totalmente aberta. Incrível.

Nessa altura pensou-se que só podia ficar pior.

O FC Porto estava confortável em campo, sentia as fragilidades adversárias e crescia, dominava a e jogava perto da baliza leonina. Nos primeiros minutos, aliás, o Sporting somou mau passes.

Aos poucos a equipa conseguiu equilibrar a partida, mas foi tudo feito em esforço, muito por causa de uma réstia de orgulho que os jogadores foram arrancar ao fundo da alma.

Também mais ou menos por essa altura percebeu-se que este FC Porto é uma equipa impiedosamente sádica: vive melhor quanto em mais sofrimento está o adversário.

Depois que o Sporting equilibrou o jogo, parece que desassossegou. Por isso não foi além de um remate de Nakajima de fora da área que saiu a rasar a trave. O que foi muito pouco, claro.

O Sporting continuou a crescer e ameaçou o golo uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Vietto acertou nos ferros e atirou duas vezes a centímetros do golo, Luis Phellype cabeceou a rasar o poste, Bruno Fernandes falhou na cara do guarda-redes uma bola que não costuma falhar.

Só dava Sporting, portanto, mas isso não significa necessariamente muito.

Porque esta equipa tem uma tendência admirável para se automutilar, como acontece a muito boa gente com distúrbios mentais.

Assim, do nada, contra todas as expetativas, Doumbia ficou parado, não atacou a bola nem marcou Tiquinho Soares, e permitiu ao brasileiro fazer o segundo golo. Como se oferecer um golo não fosse suficiente, o Sporting ofereceu dois. Entregou o triunfo ao FC Porto em bandeja de cobre.

O que trouxe de volta os fantasmas leoninos e a capacidade portista para jogar à bola.

O FC Porto tornou-se novamente melhor em pleno Alvalade, sentindo o adversário moribundo, e ameaçou o golo num remate de Alex Telles e em dois remates de Luiz Diaz que Maximiano parou.

Feitas as contas, fica a sensação de que não foi bem o FC Porto que ganhou este jogo: foi o Sporting que o perdeu. Um Sporting que começou a perder, aliás, muito antes do apito inicial.

Este leão precisa urgentemente de ultrapassar os conflitos interiores. Precisa, enfim, de um divã.

O FC Porto, que não tem nada a ver com isso, jogou o suficiente para conquistar uma vitória importantíssima na luta pelo título e voltar a festejar: doze anos depois foi novamente feliz em Alvalade.