Melhor em campo do Sp. Braga na Supertaça, melhor em campo no dérbi do Minho, destaque no empate em casa com o Rio Ave, melhor em campo com o Boavista. Pedro Santos tem deixado os minhotos no pódio da Liga e graças a novo golo e, sobretudo, à exibição é a figura da quarta jornada da Liga 2016/17 para o Maisfutebol.

Agora que já não há Rafa, o baixinho de bigode lápis é um dos principais responsáveis em campo pelo segundo lugar do Sp. Braga (ex aequo com o Benfica que defronta na próxima jornada), e, garantem, desde os tempos do Casa Pia que está habituado a ser craque da equipa.

Um antigo treinador e o melhor amigo dele, capitão do Panathinaikos, revelam diferenças de um jogador destinado a embelezar o campeonato com grandes golos, como fazia nos juniores a Rui Patrício e a um imbatível Sporting.

Pedro Santos demorou o seu tempo a despontar na Liga. No Casa Pia constituía com Diogo Salomão e Zeca um «trio maravilha», palavras do treinador de então, José Viriato.

O Kikas, como é conhecido na Encarnação, zona de Lisboa em que cresceu, chegou muito cedo a Pina Manique. Também chegou magrinho. E talentoso.

«Comecei a treiná-lo creio que ainda nos juvenis e depois levei-o até aos seniores. Já nessa altura dava nas vistas, tinha uma capacidade técnica boa, bom remate. Tinha algum individualismo, mas não enganava ninguém», conta José Viriato ao Maisfutebol.

O Pedro Santos que hoje joga pelo Sp. Braga tem, forçosamente, de ser diferente daquele que andou nos Gansos a marcar os tais grandes golos. Porque os jogadores evoluem em pensamento, experiência e, no caso de Kikas, no corpo também.

José Viriato: «Claramente, a robustez física está diferente. Evoluiu na parte técnica, mas ainda mais na parte física. O Pedro tinha de trabalhar muito porque era franzino. Agora abriu!»

Zecaridis, assim chama Pedro Santos ao capitão do Panathinaikos, refere o mesmo. «Era muito diferente do que é agora fisicamente. Está muito mais forte. Quando jogávamos, ele era a figura da equipa. Havia o Salomão também, mas o Pedro sempre marcou mais golos. Era o craque. Também o vejo mais objetivo. Continua a usar o drible, mas já não exagera.»

Ainda assim, o tamanho, como o pai «que foi um avançado do Sintrense, pequenino mas destemido», conta Viriato, nunca foi problema para um jogador que «não gosta de perder por nada», como acrescenta Zeca. Numa frase, o antigo treinador do Casa Pia define a ideia: «O Pedro era um caga-tacos e disputava as bolas todas!»

O momento de Pedro Santos é de «grande confiança, sente-se bem». Não foi sempre assim. Zeca lembra-se do tempo em que o amigo foi emprestado pelo Sp. Braga ao Astra Girgiu da Roménia: «Falava com ele praticamente todos os dias. Era difícil para ele. Pela língua, pela cidade em que estava, por estar sozinho. A mulher só lá foi ter depois. Foi má experiência, mas apareceu o Rio Ave, que foi a chave.»

O tal golo a Rui Patrício

Zeca é, obviamente, suspeito. Até pelo telefone se nota que fala com orgulho de Pedro Santos. O capitão do Pana confessa, porém, que o esquerdino do Sp. Braga precisa que o entendam.

«É o meu melhor amigo, por isso, para mim é uma pessoa espetacular. É um rapaz-palhaço, está sempre na brincadeira e só diz piadas. Gosto muito dele, mas ele precisa de confiança, que acreditem nele. Há treinadores que impõem certas barreiras, mas agora dão-lhe liberdade para ele jogar como gosta e sabe, para fazer as coisas dele», explica Zeca.

E as coisas que Pedro Santos tem feito nesta temporada têm sido de destacar. Por exemplo, aquele golo ao Vitória, em Guimarães. Goiano cruzou da esquerda, Pedro Santos apanhou-a e em vólei atirou de pé esquerdo, num remate imparável. Ao que parece, o golaço é um hábito nele.

Zeca: «Golos dele? Ui, lembro-me de vários, só fazia golos espetaculares! De canto direto, de livre direto, mas há um que me lembro sempre. Assim que me perguntou, recordei-me logo desse. Éramos juniores no Casa Pia e o Sporting não tinha nem uma derrota. Teve uma só nesse ano*, connosco. Vencemos 3-1 e o Pedro Santos fez dois golos, um de penálti. No outro, entra na área, dribla um defesa e da linha de fundo, sem ângulo, mete um chapéu ao Rui Patrício! Da linha de fundo! Acho que o Rui Patrício não se lembra, mas lembro-me eu!»

«Típico jogador habituado a sofrer»

De «família humilde, gente de trabalho», José Viriato não tem dúvidas «que muito do que o Pedro é vem daí, um típico jogador habituado a sofrer, que não teve nada de mão beijada».

Saiu do Casa Pia (3ª Divisão), passou pelo Leixões (II Liga) - «até fui eu que tive de ir levá-lo, furámos um pneu e tudo lá no norte», relata Zeca – chegou ao V. Setúbal e depois ao Sp. Braga; foi emprestado ao Astra Girgiu e ao Rio Ave. Voltou para afirmar-se no Minho. Um caso de sucesso pelos escalões acima no futebol nacional.

No Casa Pia, «treinava-se à noite e eles ganhavam 50 euros por mês e um almocinho de vez em quando». Zeca recorda que o amigo ainda fez um contrato e acha que «terá chegado a ganhar 125 euros/mês» (na verdade, foram 400 euros, ver vídeo abaixo).

Agora, o grande amigo do Kikas acha que ele «já merece mais qualquer coisinha». Novo contrato? Nada disso, «a seleção».

*Os juniores do Sporting viriam a perder mais um jogo, mas na fase final, com o FC Porto