Quando Jorge Simão assumiu o comando técnico do Sp. Braga (à 15.ª jornada), após a saída de José Peseiro, os minhotos haviam acabado de subir ao terceiro lugar na Liga, ultrapassando o Sporting, após um triunfo em Alvalade (0-1), sob o comando do interino Abel Ferreira.

A formação arsenalista levava 29 pontos, mais dois do que Sporting; para quem agora, à 23.ª jornada, têm sete pontos de desvantagem – além de 17 para o FC Porto e 18 para o Benfica, que estavam respetivamente a dois e seis pontos quando Simão chegou.

Na principal competição interna «os Guerreiros» em combate com os grandes e assim que o novo comandante chegou apontou para um objetivo ambicioso: 65 pontos no final da temporada.

Apresentação de Jorge Simão, a 20 de dezembro de 2016

Na altura, o risco parecia calculado, mas a verdade é que o Sp. Braga foi perdendo uma batalha após outra e esta semana caiu para o quinto lugar, em igualdade pontual com o rival V. Guimarães, que tem vantagem no confronto direto e é mesmo a pior equipa da Liga na segunda volta, com três derrotas e três empates nos seis jogos disputados (4-7 em golos).

Conforme o Maisfutebol já escreveu, de todas as equipas da Liga que mudaram de treinador a meio da época o Sp. Braga é quem mais está a perder com a «chicotada psicológica».

«Chicotada precipitada», afirma Dito

Dito, que como jogador representou o Sp. Braga durante uma década (entre 1976 e 1986) e que treinou os juniores do clube entre 2008 e 2010, reconhece ao Maisfutebol que a troca de Peseiro por Simão «foi precipitada»:

Na época passada, com Paulo Fonseca, o Sp. Braga fez uma época extraordinária em termos de resultados, garantindo o quarto lugar e a conquista da Taça de Portugal, e a jogar o melhor futebol que se viu nos últimos anos. Essa herança era complicada para quem quer que fosse o sucessor. Peseiro foi contestado, porque a equipa jogava um futebol menos vistoso, ainda assim, foi apresentando resultados. Por isso é que digo que foi uma mudança precipitada. Os resultados estão a comprová-lo, além disso, o Sp. Braga não joga o futebol afirmativo que habituou os adeptos. Em Braga não é preciso só ganhar; é também preciso jogar bem.» 

Dito salienta ainda que Jorge Simão «poderá estar arrependido» da forma como entrou no clube «de “tacão alto”». Por sua vez, Barroso, outro histórico bracarense, reconhece que a situação atual não é fácil. «O atual momento gera intranquilidade não só nos adeptos, mas também nos jogadores, na equipa técnica… Quando a administração muda de treinador é com o objetivo de melhorar o rendimento da equipa. Nem sempre resulta. A massa associativa do Sp. Braga sempre foi exigente. Há que apoiar, neste momento. Mas também digo que é nestas alturas que se veem os verdadeiros líderes», salientou ao Maisfutebol o médio e antigo capitão do clube que representou como jogador durante onze épocas (de 1990 a 1996, com um interregno entre 1992/93, e de 1999 a 2005).

Peseiro dobra registo de Simão

Tanto Barroso como Dito reconhecem que é muito difícil pensar nos 65 pontos na Liga, que Jorge Simão colocou como meta quando trocou o Desp. Chaves pelo Sp. Braga. «Teria de vencer em nove das onze jornadas que faltam», recorda Dito.

É sobretudo no campeonato que se estabelecem as diferenças para com o seu antecessor. Se Peseiro foi afastado da Liga Europa e da Taça de Portugal (em casa frente ao Sp. Covilhã), Simão perdeu a final da Taça da Liga diante do Moreirense. Na Liga, porém, o comparativo entre ambos mostra uma diferença abissal entre o técnico que orientou a equipa nas primeiras 13 jornadas e o que a comandou nas últimas nove.

José Peseiro defrontou o seu antecessor, Paulo Fonseca, na Liga Europa

Peseiro dobra praticamente o registo de Simão nos pontos conquistados por jornada (2,07 contra 1,11), mas também na média de golos por jogo (1,79 contra 0,89), além disso ainda tem menos golos sofridos (0,86 contra 0,89).

«A cultura de exigência do clube e do próprio presidente não facilitam a vida ao treinador», afirma Dito. E a verdade é que a sua continuidade no comando técnico dos minhotos dependerá, muito provavelmente e em boa medida, da prestação na reta final na Liga.