O Sporting venceu um jogo em que durante muito tempo não conseguiu respirar. Mérito do Sp. Braga, claramente. Mérito de uma estratégia bem definida e sobretudo mérito de Jorge Paixão: preparou bem um plano claro e anulou quase sempre as saídas ofensivas do Sporting.

Houve períodos do jogo em que o Sp. Braga esteve claramente por cima.

Chegou ao intervalo em vantagem, por exemplo, e sobretudo criou no adversário um grau de ansiedade que não anunciava nada de bom. Em cinco minutos, porém, tudo mudou.

Começou a mudar quando Leonardo Jardim lançou o plano B: desta vez com Slimani no onze, o treinador colocou Heldon no lugar de Carlos Mané e desviou Mané para o centro, para bem perto do argelino, numa espécie de Montero com menos sentido de baliza.

Os homens eram diferentes, a estratégia era a mesma: partir o jogo e lançar a equipa para a frente naquela euforia de quando arrisca tudo.

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Foi um momento decisivo do jogo, que coincidiu com um amarelo desnecessário de Dabó. O que obrigou Jorge Paixão a retirar o lateral (estava a fazer um bom jogo), para colocar Sasso, trocar os laterais e mudar a até então bastante segura defesa minhota.

O Sporting voltou a respirar e ainda foi a tempo de ser feliz.

Pouco depois de entrar, por exemplo, Sasso cometeu penálti sobre Carlos Mané que Jefferson concretizou. Alvalade encheu-se de euforia. Logo a seguir Slimani aproveitou um corte incompleto de Santos e disparou para o segundo golo. Em cinco minutos, lá está, tudo mudou.

O Sporting arrancou assim desta forma, no limite da comunhão eufórica entre adeptos e equipa, uma vitória muito sofrida. Mas justa pela forma como reagiu na segunda parte. Abençoado plano B de Leonardo Jardim, portanto.

Nesta altura convém voltar ao início para dizer que o Sp. Braga perdeu, sim senhor, mas foi muito competente. Sobretudo foi muito compentente durante muito tempo.

Grande parte da chave para esse sucesso incompleto esteve na colocação de Alan em cima de William Carvalho. Antes do jogo começar parecia claro que o Sp. Braga ia estruturar-se num 4x3x3, os primeiros minutos mostraram que Jorge Paixão preparara um 4x2x3x1 com Mauro e Ruben Micael no meio campo defensivo, Pardo e Rafa nas alas e (muito importante) Alan no centro.

O capitão caía imediatamente em cima de William Carvalho, travando a construção de jogo leonino logo ali. Com um Gerson Magrão desligado do jogo, que pouco mais fez do que perder bolas, e com André Martins muito discreto, o Sporting não conseguia sair com critério para o ataque.

É claro que nesta altura se pode especular que tudo teria sido diferente com Adrien Silva e Montero, afinal de contas são dois jogadores que dão outra qualidade à posse de bola do Sporting, mas isso são apenas especulações.

Certo neste jogo é que o Sporting era por esta altura praticamente asfixiado.

Sobravam uma ou outra saída pelos extremos (Carlos Mané e Carrillo) e muitas bolas colocadas na frente sem autoridade. Bolas fáceis, está bom de ver, que o Sp. Braga anulava quase sempre.

Destaques: Slimani nas duas faces do leão

É verdade que Slimani teve três ocasiões claras de golo, mas foi quase tudo o que o Sporting fez na primeira parte. Do outro lado surgiu um adversário que teve muito bola, que jogou no meio campo leonino, que criou também duas ou três ocasiões de golo e desvalorizou a crise que estava anunciada.

Pelo meio marcou mesmo, num momento feliz: Rafa rematou, a bola desviou em Cedric, bateu no poste, desviou em Rui Patrício e entrou na baliza.

Um golo muito feliz, lá está, mas que não podia dizer-se que fosse uma tremenda injustiça.

O Sp. Braga mostrou excelentes pormenores, soube impor-se num estádio difícil, soube ultrapassar uma pressão muito forte do Sporting sobre a construção na zona defensiva, soube jogar um futebol apoiado, enleado, com trocas de bola interessantes, apoio dos laterais, enfim, tudo o que o futebol precisa para ser bonito.

As chicotadas costumam ter um impacto imediato e pode pensar-se que teve tudo a ver com a vertigem do Paixão, mas merece pelo menos um aplauso por isso: os sinais foram animadores para o futuro.

Só não o foram mais porque o Sporting tem um plano B que consegue ser milagreiro.  Não o foram mais , também,  porque Alan não teve pernas para acompanhar William Carvalho na segunda parte:  o trinco cresceu, cresceu, cresceu, até tornar o Sporting muito melhor.

Dado curioso: foi a quinta reviravolta da temporada, por exemplo. O que permitiu somar uma vitória difícil, dura, sofrida, mas justificada. Com ela a equipa segurou o segundo lugar e o direito de continuar a sonhar.