O Sporting enviou esta sexta-feira à CMVM um prospeto no qual informa que vai propor aos detentores de títulos «Valores Sporting 2010» a extensão do prazo de maturidade por dez anos: ou seja, até janeiro de 2026.
 
Dito desta forma, parece pouco relevante, por isso convém explicar o que se passa.
 
Na reestruturação financeira de 2010, ainda na presidência de José Eduardo Bettencourt, a SAD leonina negociou a dívida que tinha com os bancos BES e BPI através da emissão de Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis: as célebres VMOC.
 
Ora estas VMOC, emitidas no valor de 55 milhões de euros, significam que o Sporting tinha até 17 de janeiro de 2016 para pagar aos bancos os tais 55 milhões de euros, ou as VMOC eram transformadas em ações e entravam no capital social da SAD leonina.
 
Nesta altura, o dia 17 de janeiro de 2016 aproxima-se e o Sporting ainda não pagou, nem tem capacidade para pagar, aos bancos esses 55 milhões de euros.
 
Portanto se nada fosse feito até 17 de janeiro de 2016, as VMOC convertiam-se automaticamente em ações e o Sporting perdia o controlo da SAD.

Não é isso que vai acontecer, mas já la vamos.
 
Importa dizer que o capital social da SAD é nesta altura de 67 milhões de ações, sendo que o clube detém 42,8 milhões dessas ações: o que corresponde a 63 por cento da SAD.
 
Se as VMOC que vencem a 17 de janeiro fossem convertidas em ações, o capital social da SAD aumentava para 122 milhões de ações, sendo que o Sporting continuava a ter 42,8 milhões (ou seja, ficava com 35 por cento da SAD). Já o BES e o BPI ficariam com 55 milhões de ações (ou seja, 45 por cento da SAD).
 
O Sporting perderia o controlo maioritário da SAD e os bancos passariam a ter a maior percentagem de capital, embora sem maioria: seria deles, porém, a gestão do dia a dia.
 
Significa isto que a situação é alarmante? Não. É sensível, sem dúvida, mas não alarmante.
 
Basicamente já se sabe que os bancos não querem ter o controlo de uma SAD, esse não é o negócio deles: querem sim, ser ressarcidos dos 55 milhões de euros que o Sporting lhes deve. Portanto só estariam interessados em converter as VMOC em ações se tivessem um investidor disponível para lhes comprar a percentagem que passariam a deter.
 
No entanto, estes mesmos bancos (BES e BPI) receberam em 2014, já com Bruno de Carvalho na presidência, mais 80 milhões de VMOC, relativas a uma dívida de 80 milhões de euros. Por isso têm, no total, 135 milhões de euros a receber do Sporting, investidos em VMOC.
 
Nesse sentido, e porque têm muito dinheiro investido (e que querem reaver) não lhes interessa que o Sporting perca o controlo da SAD.
 
O clube, por outro lado, sabe que é preciso fazer alguma coisa até 17 de janeiro, anunciando agora que vai propor aos bancos alargar o prazo de maturidade das 55 milhões de VMOC por dez anos: até 2026. Ou seja, fica com dez anos mais para pagar a dívida de 55 milhões de euros.
 
Para convencer os bancos a fazê-lo, propõe-se pagar uma taxa de juro anual de 4 por cento sobre as VMOC, o que está acima dos 3,5 por cento que paga atualmente.
 
No entanto, a intenção do Sporting não passa por deixar as VMOC chega ao novo prazo de maturidade, em 2026: o clube garante no prospeto, aliás, que tem a intenção de ressarcir os bancos destes 55 milhões de euros no prazo de um ano, e não de dez anos.
 
«Ainda que não exista qualquer garantia de que tal venha a ocorrer», avisa o prospeto enviado à CMVM, «está prevista a possibilidade de aquisição, ao respetivo valor nominal, pelo accionista Sporting dos «Valores Sporting 2010», no prazo máximo de 1 ano a contar de 17 de janeiro de 2016», pode ler-se.
 
Mas como?, perguntará o leitor. É simples, através de uma nova emissão de VMOC, no valor de 55 milhões de euros, que seria subscrita por BCP e Novo Banco, para pagar a anterior. É essa a aposta que os dirigentes do Sporting fazem para não permitir que as VMOC «Valores Sporting 2010» passem a ações e façam o clube perder a maioria na SAD.
 
Essa é a proposta que vai ser apresentada no dia 8 de janeiro, cabendo aos bancos depois decidir: ou mantêm as VMOC, e subscrevem uma nova emissão no prazo de um ano, ou convertem as VMOC em ações e entram no capital social da SAD leonina.