O diretor executivo da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Tiago Madureira, acredita que a centralização dos direitos televisivos da modalidade em Portugal vai contribuir para que o tempo útil de jogo possa aumentar, tornando o espetáculo mais atrativo.

O dirigente fez parte de uma das mesas do debate da 5.ª edição do World Scouting Congress, evento realizado numa unidade hoteleira do Porto, que junta vários intervenientes do futebol durante esta quinta-feira.

«A centralização dos direitos [televisivos] irá responsabilizar todos para que o produto futebol profissional em Portugal seja melhor. Sinto que há uma preocupação generalizada para se debater e resolver esta questão, e até os adeptos devem ser trazidos a este debate, para que haja mais exigência externa», disse Tiago Madureira.

O diretor executivo da Liga Portugal apontou que a discussão sobre o tempo útil de jogo «é premente», lembrando que «impacta diretamente na forma como as pessoas consumem futebol».

«Como espetáculo que é, serve para entreter e quanto mais dinâmico for, mais amarra o público. Um jogo parado não entretém ninguém. Já há estudos que dizem que as gerações abaixo dos 30 anos não conseguem estar a ver um jogo durante 90 minutos», referiu.

Tiago Madureira defendeu que «não há culpados isolados nesta questão do tempo útil de jogo», notando que é um «tema que envolve treinadores, jogadores, clubes, pois todos têm uma quota-parte de responsabilidade».

Pedro Martins e Armando Evangelista foram também chamados à discussão. O antigo treinador do Olympiakos apontou a «questão cultural» para abordar o tema.

«Na Grécia [o tempo útil] ainda é pior que em Portugal. É algo cultural que está enraizado em vários países. Uma das formas de alterar é ter debates abertos de partilha, mas não sei se será possível resolver, porque temos de mudar muitas mentalidades. Talvez seja até preciso mudar as regras», analisou o técnico.

Na intervenção seguinte, Pedro Martins deu o exemplo da diferença de tempo de jogo útil nas provas europeias.

«Os jogos da UEFA têm mais tempo útil porque as regras estão muito bem definidas. Quando as equipas vão para os jogos da UEFA sabem que vão proporcionar bons espetáculos. Sabem que há regras bem definidas e não convém brincar com isso. Todos podemos fazer um esforço para melhorar este problema culturar. O futebol é um desporto de entretenimento e as pessoas querem ver bons espetáculos. Temos obrigação de proporcionar isso mesmo», defendeu. 

Já Armando Evangelista, atual treinador do Arouca, considerou o debate sobre o tema profícuo, mas introduziu uma outra perspetiva.

«Temos de aumentar o tempo útil, mas não podemos deixar de olhar para essência do futebol e o seu fator imprevisível, em que o último classificado pode ganhar ao primeiro. A maioria dos adeptos valoriza mais o resultado do que o espetáculo», começou por dizer, alargando a questão aos dirigentes dos clubes.

«Durante a formação como desportista, incutiram-me que o que interessa é ganhar. O como não interessa. Imagina que entregues rapidamente a bola a um adversário e depois sofres. A seguir os dirigentes... eles deviam estar presentes. São os primeiros a terem de mudar a mentalidade. Depois dizem-me que fomos 'anjinhos' e posso ser despedido.»

Os arouquenses, são, de resto, uma das equipas com mais tempo útil em média por jogo na Liga: 56 por cento. Um dado que agrada a Evangelista, embora este tenha salientado a importância de obter resultados.

«Estando em casa, no sofá, a olhar para estes dados fico orgulhoso. Mas tenho de olhar e perceber o que ganhei com isso? Está traduzido em pontos», questionou.

Por último, Tiago Madureira deixou números que ilustram a realidade portuguesa em comparação com outros campeonatos europeus.

«Tenho dados que gostava de partilhar para uma reflexão. Fizemos uma análise do tempo total não útil e da forma que é gasto. 66 por cento desse tempo não útil é gasto em lançamentos, faltas, cantos, pontapés de baliza, golos, foras de jogo, etc, situações decorrentes da dinâmica do jogo. (...) 55 por cento dos jogos têm mais de 30 faltas. A nossa Liga tem muitas mais faltas do que as média das outras grandes ligas. É verdade que o número está a descer e há um esforço da arbitragem nesse sentido. Este ano a média já é inferior ao ano passado», introduziu.

«Os árbitros podem dar o tempo que quiserem de compensação. Os rankings mostram que joga-se menos nos períodos de descontos. Nos primeiros minutos joga-se entre 62 a 65 por cento do tempo útil enquanto depois dos 90 minutos joga-se 47 ou 48 por cento. Este ano começámos a categorizar o tipo de paragem e dividimos pela amostra de jogos. Fomos ver os últimos 15 minutos de cada jogo, fora os jogos que já estão com dois ou mais golos de diferença no marcador nessa fase. A diferença de tempo entre a equipa que está a perder e a que está a ganhar é o dobro. Por exemplo, quem está a ganhar demora mais de 30 segundos a cobrar um pontapé de baliza enquanto quem está a perder demora 15 segundos para efetuar a mesma ação. Há uma componente estratégica e aí, a responsabilidade é do treinador.»