Nem Gil Vicente se lembraria de uma história assim.

E aquele que é considerado o «pai do Teatro» português até escreveu muitas farsas.  Mas mesmo que já houvesse futebol lá para o século XVI, seria difícil escrever este enredo.

Mas façamos o exercício: 11 personagens numa barca e mais 11 numa outra. A concorrerem ferozmente. Cada uma a remar no seu sentido… até que uma alminha se engana no lado. E puxa involuntariamente a sua barca para trás.

Agora, isto… três vezes seguidas. Autogolo. Autogolo. Autogolo.

É obvio que falamos em dois jogos distintos, mas o Benfica beneficiou de três autogolos seguidos no campeonato – dois com o Sp. Braga na ronda anterior, e mais um neste sábado, desta vez diante do Gil Vicente.

Ou seja, foi num autogolo que se começou a escrever este Auto da redenção.

A redenção de um Benfica perante o seu público após a dolorosa derrota com o FC Porto no último jogo em casa, mas também a redenção de Pizzi.

O médio começou o jogo a desperdiçar um penálti que ele próprio conquistara, mas no início da segunda parte surgiu de rompante ao segundo poste a marcar na sequência de um canto batido por Grimaldo na direita.

A redenção que lhe vale o reforço da liderança da lista de melhores marcadores.

Antes, porém, o palco foi de um personagem bem ao jeito de Gil Vicente. Ygor Nogueira. Quase como o «Parvo» do Auto da Barca do Inferno.

Também ele, em estreia na equipa de Barcelos, não fez o que quer que fosse por maldade. Foi apenas uma alma ingénua.

Ingénuo na forma como cometeu o penálti sobre Pizzi ao minuto nove. E novamente ingénuo na abordagem ao cruzamento de André Almeida, ainda que aí tenha como atenuante o facto de atrás de si ter Raúl de Tomás pronto para empurrar ele próprio para o golo. Fica diretamente ligado a uma derrota de um Gil Vicente que deu muito boa imagem nesta visita à Luz.

Por fim, uma palavra para Taarabt. O médio marroquino foi quem mais remou para levar a barca do Benfica à glória. Com pés de anjo no passe e com uma raça dos diabos.