O coração do futebol português terá sempre um lugar especial para os Boavista-Vitória. Terá sempre de ser assim. O peso da história e a rigidez da rivalidade não se apagam com momentos menos fulgurantes, de um ou de outro lado. 0-0 no Bessa entre velhos conhecidos, dois emblemas carregados de sentimento e responsabilidade.

90 minutos de luta tremenda, duas estratégias e planos distintos, como se de uma selva equatorial se tratasse: o invasor poderoso carregado de armas impressionantes e os locais vestidos como guerrilheiros, corajosos e infatigáveis, apesar da aparente inferioridade.

Foi mesmo um jogo do gato e do rato, pejado de armadilhas, algumas óbvias e outras camufladas com inteligência.

FICHA DE JOGO DO BOAVISTA-VITÓRIA: 0-0

O Vitória sempre com mais bola, principalmente até aos 30/35 minutos, período em que mandou neste terreno minado por um Boavista que sabia muito bem o que fazer para tentar parar o futebol total de Luís Castro.

Liderado pelo valente sargento André André, o médio que dá o peito às balas, o Vitória teve bola, atraiu, enganou e tentou decidir relativamente cedo este clássico nortenho.

O próprio André André teve o golo nos pés aos 38 minutos, como Alexandre Guedes tivera antes (17) e Wakaso pouco depois (30). Nada a fazer, muito por culpa de um Helton Leite que compensou até ao fim a desorientação nem sempre compreensível de Neris, um defesa… instável.


DESTAQUES DO JOGO: o André André que encantou o FC Porto

O plano do Vitória, repetimos, era o de sempre: construir com qualidade a partir de trás, com Wakaso a receber entre os centrais e a projetar depois os laterais (plano A) ou um dos dois médios, Mattheus e André (plano B). Depois, sim, a bola chegaria a Tozé ou a Davidson, para que a qualidade individual fizesse o resto.

O Boavista suportou a superioridade invasora com orgulho, embora consciente das limitações atuais, ainda mais evidentes perante a ausência do castigado David Simão. Só Rochinha, o pequeno Rochinha, punha o capacete de fora da trincheira e provocava a tropa de elite vitoriana. Insuficiente.

O avançar do jogo aproximou as linhas de combate, sim senhor, e até deu alguma sensação de equilíbrio. Tanto assim é, que a confusão da peleja até desnorteou momentaneamente o Vitória e Douglas foi obrigado a fazer a melhor defesa da noite.

Rochinha – tinha de ser ele – puxou da direita para o meio e arrancou um pontapé fabuloso, devidamente parado pela luva direita do guardião vitoriano.

Esse sinal de alarme acionou a necessidade de reforços e o Vitória recompôs-se. Até ao fim, aliás, voltou a piscar o olho ao golo, essencialmente em cruzamentos venenosos de Tozé.

Mas não havia nada a fazer, este clássico estava mesmo condenado a acabar empatado. Duas formas de olhar o jogo, duas estratégias legítimas de combate, dois históricos com obrigação de andar em lugares mais apropriados na tabela classificativa.  

Uma nota de rodapé para o número de espetadores: 6025 almas na noite fria do Bessa, cerca de duas mil provenientes da Cidade-Berço. Um jogo assim tem de ter mais gente, faça chuva ou faça sol.