Meia-hora de grande qualidade e um lance infeliz de Mika permitiram ao Vitória de Guimarães operar a reviravolta no Estádio do Bessa e garantir três preciosos pontos (1-2). O Boavista esteve melhor na primeira parte, chegou à vantagem por intermédio do jovem Douglas Abner mas caiu fatalmente de produção.

Jogo quezilento na cidade Invicta, com arbitragem polémica de Fábio Veríssimo e vários focos de tensão junto aos bancos de suplentes. Sérgio Conceição agitou ao intervalo - os jogadores ficaram com as orelhas a arder -, Otávio e Valente contribuíram para a subida de produção, Henrique Dourado e Cafú trilharam o caminho para o triunfo.

Ventos de mudança nos dois lados da barricada. O Boavista aproveitou a paragem na Liga para reformular o grupo e dispensar alguns jogadores, incluindo Uchebo, a opção mais frequente para a ponta da lança axadrezada. Face ao vencimento elevado, o avançado foi colocado à margem do plantel, abrindo num espaço no processo ofensivo.

No regresso à competição, Petit decidiu apostar em Douglas Abner. O jovem brasileiro chegou na época passada para representar os juniores, depois de anos na formação do Santos, e deixava grandes promessas para o futuro. Chegou a sua hora.

Colocado entre os centrais do Vitória, Abner sentiu dificuldades para impor a sua presença – não tem grande potencial físico – mas demonstrou toda a sua qualidade na reta final da primeira parte, quando fugiu à armadilha do fora-de-jogo e surgiu na cara do guarda-redes visitante.

Dois jovens em duelo curioso no relvado

O relógio marcava 42 minutos de jogo e surgiu um duelo curioso no relvado do Bessa. De um lado um avançado de 19 anos, com apenas uma aparição como suplente utilizado na Liga. Do outro, um guarda-redes de 20 anos em estreia absoluta na prova.

Luisinho fez o – soberbo – passe para a meia direita, Douglas Abner adiantou a bola e, à saída de João Miguel Silva, picou a bola com classe para o fundo da baliza.

Estava quebrado o nulo e Sérgio Conceição sentia que as suas apostas de risco não tinham garantido o retorno desejado. O treinador procurou reabilitar o grupo (incluindo algumas sessões madrugadoras de coaching) e terá pensando em enviar uma mensagem com a aposta num par de jovens estreantes.

Para além do guarda-redes João Miguel Silva, Sérgio Conceição lançou ainda Phete, um médio sul-africano de 21 anos que chegou à equipa B depois de uma época no Tourizente. A terapia de choque, com mais algumas mudanças no onze, tardava em surtir efeito.

O Vitória terminou a primeira parte com apenas um remate enquadrado com a baliza do Boavista: um ensaio de Tomané à figura de Mika.

A iniciativa pertenceu ao Boavista, que apresentava os velozes Luisinho e Zé Manuel nos flancos do ataque, lançando alguns ensaios e conquistando vários pontapés de canto. Isto num encontro marcado em demasia pelo rigor de Fábio Veríssimo no capítulo disciplinar.

Vitória atrás do tempo perdido

Ao intervalo, Sérgio Conceição prescindiu do jovem Phete (um dos amarelados) e lançou um criativo com maior potencial: Otávio. O Vitória entrou com outra disposição, com linhas mais subidas, não conseguiu impor o seu jogo de imediato mas chegou ao empate em lance de bola parada e, a partir daí, foi superior.

Otávio bateu um pontapé de canto ao minuto 66 e Henrique Dourado surgiu no local certo para cabecear para o fundo da baliza. O Boavista acusou o tento consentido e esteve perto de sofrer o segundo logo depois. A reta final do encontro, aliás, foi verdadeiramente alucinante.

Henrique Dourado esteve perto do bis mas Mika negou a intenção e, a certa altura, os dois bancos ficaram a reclamar grandes penalidades. Primeiro o Vitória, por alegada mão de Inkoom, e logo a seguir o Boavista por bloqueio a Douglas Abner. Petit acabou por ser expulso nessa fase marcada por protestos. Lances duvidosos, impossíveis de esclarecer a partir da bancada de imprensa.

O jogo caminhava assim, partido e intenso, para o seu final quando Cafú – o melhor jogador em campo – recebeu a bola, preparou o remate e contou com a enorme contribuição de Mika para garantir o triunfo do Vitória. A terapia de choque resultou mas o plano inicial prova que há muito trabalho pela frente.