Às vezes é preciso dar tiros nos próprios pés. Para perceber o quão reféns estamos do momento.

Do que acontece de negativo. Da ânsia e da teimosia. De parecer que nada queremos com isto.

Neste caso, o V. Guimarães, com o jogo.

No futebol, depois aparece aquele que menos corre, mas que tantas vezes é decisivo. Foi assim Douglas ao penálti de Welinton. Tudo mudou a partir do minuto 57. A seguir, génio do recém-entrado Davidson e calma do capitão André André. No fim, três pontos para o Minho.

O Desp. Aves foi bem melhor até ao momento mais claro para ganhar vantagem. Foi traído quando Welinton viu manchada, pelo mérito de Douglas, uma exibição aguerrida, da marca dos 11 metros.

Ávida de pontos para sair de uma posição que é como carraça desde a sexta ronda, a equipa de Nuno Manta estendeu-se ao jogo. Quem esperava o habitual futebol consistente a sair a jogar do V. Guimarães, em contraste com a ansiedade que o Aves tem por vezes mostrado, viu os planos furados. Foi tudo ao contrário na primeira parte.

Com três mudanças forçadas, o Aves entrou a morder os calcanhares ao V. Guimarães. Welinton, apoiado de perto por Banjaqui como referência ofensiva, foi incansável na saída a jogar dos minhotos. Pedro Henrique, Venâncio, Pepê e André André sentiram dificuldades. Foi muita – e pouco habitual – bola perdida no meio campo defensivo. Yamga e Macedo também não facilitaram a construção pelos corredores. Os sustos foram vários para Ivo Vieira, apesar de ter sido a novidade Bonatini - jogou nas costas de Bruno Duarte - com um remate ao poste, a dispor da melhor ocasião em cima do intervalo.

Desp. Aves-V. Guimarães: toda a reportagem do jogo

Um canto oferecido por Douglas após uma troca de bola na defensiva. Um remate de Welinton após um mau atraso. Uma bola de Welinton que atravessou a área porque Yamga chegou tarde. Três exemplos da intranquilidade de um V. Guimarães longe do seu registo.

Entre isto, até foi rasgadinho. Intenso. Bola cá, bola lá. Faltou maior qualidade de decisão e o nulo no descanso aceitava-se num estádio com perto de 4 mil pessoas (3.818), mais do V. Guimarães que dos da casa.

O intervalo não serviu de lição para os visitantes, só não reféns de si mesmo porque Florent e Pepê emendaram os próprios erros. O segundo daria, contudo, penálti por falta de Pepê sobre Banjaqui, assinalada com recurso de Rui Costa ao vídeo-árbitro. Mas estava lá Douglas para mudar o jogo.

Depois do penálti, Ivo Vieira mudou Ola John e Bruno Duarte por João Pedro e Davidson. Foi em cheio porque o brasileiro, ao fim de seis minutos, sacou um verdadeiro coelho da cartola. Um golaço.

Nessa altura já o V. Guimarães mostrava outra disposição e, ajudado pelos cerca de 2.500 adeptos, sentenciou ao minuto 78 numa recarga de André André após forte remate de Edwards defendido por Szymonek.

Manta ainda lançou Pedro Delgado, Diallo e depois Marius, mas já era tarde, apesar do esforço. A lanterna vermelha continua na Vila mais uma semana. O Vitória soma um inédito segundo triunfo seguido fora e isola-se à condição no sétimo posto, no sofá à espera do que Santa Clara e Boavista possam fazer. Mas quase ficou refém de si mesmo.