23 de dezembro, última jornada do ano. O Sporting chegava a Guimarães em ambiente de euforia, embalado por sete vitórias seguidas e 30 golos marcados desde a chegada de Marcel Keizer. A série terminou aí, num jogo decidido num golo de Tozé. O leão caía para o terceiro lugar, a cinco pontos do FC Porto. Mas foi com o novo ano e nova derrota em Tondela, duas jornadas depois, que o leão comprometeu de vez as ambições na Liga e perdeu a confiança e o efeito-surpresa que vieram com o novo treinador. Não voltou a esse tempo, mas depois da baixa de forma estabilizou em termos de resultados. Chega agora à receção ao V. Guimarães, uma volta depois, do alto da melhor série de vitórias nesta edição da Liga.

Keizer estreou-se no jogo de Taça de Portugal com o Lusitano, a 24 de novembro, depois de Tiago Fernandes ter feito a transição em três jogos, após a saída de José Peseiro. Venceu por 4-1 e a partida seguinte, a goleada por 6-1 frente ao Qarabag para a Liga Europa, confirmou as sensações iniciais, uma equipa muito mais dinâmica, assente na circulação de bola e com toda outra capacidade de criação ofensiva. Seguiram-se dois triunfos para a Liga, frente a Rio Ave e Desp. Aves, depois nova vitória europeia frente ao Vorskla Poltava, uma reviravolta épica frente ao Nacional para o campeonato (5-2) e uma eliminatória intensa de Taça de Portugal com o Rio Ave a terminar também com um triunfo por 5-2. Era o auge do Keizerball, o termo cunhado pelos adeptos para aquele carrossel de futebol ofensivo e entusiasmante que viam, com números de recorde para um treinador estreante.

Depois chegou Guimarães e o Sporting, frente a um anfitrião também em alta por essa altura, não conseguiu marcar e sofreu um. Keizer assumiu que a equipa não jogou bem. «Temos de agradecer ao Renan ter ficado só 1-0», dizia o holandês.

O Sporting ganhou os dois jogos seguintes, frente ao Feirense para a Taça da Liga e Belenenses para o campeonato. A seguir foi a Tondela e, vendo-se de novo a perder, não conseguiu encontrar soluções no seu jogo para dar a volta. Com essa derrota ficou a oito pontos da liderança e caiu para quarto lugar, atrás de Sp. Braga e Benfica. Quando recebeu o FC Porto na jornada seguinte a abordagem da equipa foi muito diferente dos primeiros tempos de Keizer, um jogo cauteloso e de pouco risco, a tentar conter mais danos.

O nulo no clássico manteve distâncias, pelo meio chegou a «Final Four» da Taça da Liga, que o Sporting venceu sem ganhar um jogo em campo, e depois dela, a fechar janeiro, novo empate para a Liga, agora no Bonfim. O jogo seguinte era o dérbi com o Benfica e foi o momento mais baixo do Sporting de Keizer, dominado pelo rival a toda a linha. Nova derrota no dérbi de Taça no jogo seguinte acentuou a espiral negativa de um Sporting que tinha perdido a confiança para crescer, com a decisão de Liga Europa frente ao Villarreal a caminho.

O Sporting cairia na Europa também e, quando terminou fevereiro, tinha ganho apenas cinco dos 15 jogos que disputou em 2019. O triunfo sobre o Sp. Braga minimizou danos e recolocou os «leões» na luta pelo terceiro lugar, quando aquele efeito original da chegada do treinador já era só uma recordação.

Depois o «leão» recuperou, mas sem voltar a conseguir repetir aquele efeito catalisador dos primeiros tempos de Keizer. Recuperou às costas de Bruno Fernandes, ainda e sempre. Motor e goleador, tem sido ele a liderar a equipa jogo após jogo. Tem 28 golos esta época, 16 na Liga. Desde fevereiro marcou 12 golos em 11 jogos, incluindo o golo frente ao Benfica que decidiu a meia-final e pôs o Sporting no Jamor, na final da Taça de Portugal frente ao FC Porto. É muito graças a ele que o Sporting chega a esta receção ao V. Guimarães depois de oito vitórias seguidas, sete para a Liga num registo que só encontra comparação com a primeira época de Jesus, a defender o terceiro lugar e a poder conquistar um segundo troféu esta época.