Não era preciso esperar 26 anos para ver um Vitória-Famalicão na I Liga, mas a verdade é que valeu a pena aguentar os relâmpagos, o vento e a chuva nesta noite de agosto. Grande jogo de futebol, um dérbi a sério, duas equipas competentes e um empate que se ajusta.

Nada a ver, no fundo, com o desequilíbrio registado em agosto de 1993, no último duelo entre estes vizinhos em Guimarães para o campeonato. Esse Vitória de Basaúla, N’Dinga e Paulo Bento pouco ou nada deixava para o então pequeno Famalicão, mas em 2019 as coisas não são assim.

No plantel de João Pedro Sousa há muita qualidade e jogadores interessantíssimos. Só assim se explica a forma organizada e personalizada (56 por cento de posse de bola) como a equipa famalicense se apresentou num dos estádios mais duros de Portugal.

FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

O Vitória rematou mais, andou mais vezes perto do golo, mas ainda não é uma equipa estável. Chegou à vantagem por João Carlos Teixeira logo a abrir o segundo tempo – belo golpe de cabeça, após cruzamento do melhor em campo, Davidson – e, a partir daí, deixou de controlar as saídas do Famalicão em transição.

O veloz Toni Martinez ameaçou duas vezes – na primeira falhou a receção e na segunda cruzou para as luvas de Douglas -, mas à terceira foi letal. Ou quase. Martinez isolou-se, um pouco à semelhança do lance de Marega na Luz, mas permitiu o corte a Victor Garcia. Fábio Martins, que o lançara, acompanhou sempre o lance e finalizou em dois toques, já em esforço.

O 1-1 premiou a organização e o conforto do Famalicão com bola, castigando também a ansiedade que o Vitória demonstrou em determinados momentos do jogo. 

A primeira parte foi quase toda do Vitória, com as melhores ameaças a saírem do pé direito de Davidson e do pé esquerdo de Denis Poha, este com um remate ao poste. Na segunda, o Famalicão equilibrou-se e equilibrou. 

DESTAQUES DO JOGO: Davidson e Fábio Martins, os melhores 

As ideias de Ivo Vieira são conhecidas e só mudaram alguns quilómetros de localização. O homem que levou o Moreirense à melhor época de sempre quer bola, quer construção apoiada desde o guarda-redes, quer fantasia no terço adiantado e quer uma reação ajustada à perda.

Em Guimarães, a lição ainda vai nas primeiras páginas e a equipa ainda se desorienta com facilidade. Quando consegue mandar no jogo, é um caso sério. Quando quer fazer tudo depressa e sem paciência, desmonta-se como um frágil castelo de cartas.

E, já se sabe, na cidade onde nasceu Portugal já há um castelo de fundações graníticas e solidez histórica. As gentes daqui exigem mais e melhor.

O Famalicão, com este ponto, chega aos sete e acompanha o Sporting no topo da Liga. Se calhar mudamos a ideia inicial e acabamos como devemos: sim, afinal valeu a pena esperar.