Três jogos, três vitórias. Nove pontos em nove possíveis com chapa três a Gil Vicente, Penafiel e Belenenses nas três primeiras jornadas. Estamos perante o melhor arranque de sempre do V.Guimarães, que também pela terceira vez na sua história consegue vencer nas três rondas iniciais. Segue-se o FC Porto, o teste mais difícil até agora do conjunto de Rui Vitória, que recebe no Estádio D. Afonso Henriques o renovado dragão de Lopetegui. O cenário não é novo em Guimarães, repetindo-se a história da temporada 2002/2003.

Nessa época, tal como acontece agora, a seguir a um arranque de época invicto nas três primeiras jornadas, o V.Guimarães mediu forças com o «primeiro Porto de Mourinho, que jogava muito futebol». A opinião é de Rui Ferreira, ex-trinco do Vitória que alinhou no jogo de 23 de setembro de 2002 entre o V.Guimarães e o FC Porto.

Aos 41 anos, Rui Ferreira recorda à MF TOTAL o jogo de há doze anos e projeta o embate do próximo domingo. O médio e antigo dono da camisola número seis do V.Guimarães acredita que os minhotos podem vencer o jogo e aponta Jackson Martinez e Tomané como principais figuras para resolver o encontro.

«Mourinho jogou contra nós como jogava na Europa»

«Recordo-me perfeitamente desse jogo. Na altura havia uma grande euforia em Guimarães. Jogávamos em Felgueiras e as pessoas faziam uma romaria espetacular e indescritível para os jogos. Era extremamente difícil para as outras equipas», relembra Rui Ferreira enquanto puxa pela memória.

O encontro terminou com o triunfo por duas bolas a zero a favor do FC Porto, com golos de Deco e Tiago. Augusto Inácio era o treinador da equipa vimaranense, no encontro que foi disputado no Estádio Dr. Machado Matos, em Felgueiras, casa emprestada do V.Guimarães enquanto o Estádio D. Afonso Henriques sofria obras de remodelação para o Euro 2004.

Rui Ferreira diz que, tal como acontecerá no jogo desta época, o FC Porto soube respeitar o V.Guimarães, dizendo mesmo que Mourinho utilizava diante do Vitória o mesmo esquema tático usado nas competições europeias.

«O Porto do José Mourinho para o campeonato jogava no seu 4x3x3 e para ganhar a Taça UEFA jogou em 4x4x2 com o losango no meio campo. A única equipa em Portugal frente à qual o José Mourinho utilizou esse sistema foi contra nós, ou seja, o Mourinho jogo contra nós como jogava na Europa, o que foi uma grande demonstração de respeito pela nossa equipa», refere o antigo médio do V.Guimarães, transpirando nostalgia.

Apesar de ter pela frente um «poderoso» FC Porto, Rui Ferreira diz que naquele jogo só passava pela cabeça dos jogadores do V.Guimarães a conquista dos três pontos: «Estávamos com muita confiança, acreditávamos muito na nossa equipa, no nosso grupo e tínhamos consciência que tínhamos bons jogadores. Jogávamos com o Porto, o Benfica e o Sporting com a ideia de vencer, não era um pensamento de possibilidade, mas sim uma confiança que podíamos ganhar porque eramos tão bons ou melhores do que eles».

«FC Porto ainda não está na máxima força»

Rui Ferreira acredita que este sentimento de confiança conseguido com as três vitórias pode ser um aliado precioso do V.Guimarães para bater os dragões: «Tendo um grupo mais jovem, este V.Guimarães também tem uma grande confiança dentro deles podendo levar este jogo de vencido. Se calhar um pouco mais retraídos face à juventude. Sinto que esta equipa do V.Guimarães está a crescer; pela própria ambição de querer jogar a um nível ainda mais alto, vão querer mostrar serviço».

A juntar a isto, o antigo jogador que passou por clubes como o Belenenses, o Salgueiros e o Gil Vicente, refere que esta até pode ser a melhor fase para o V.Guimarães medir forças com o FC Porto, porque acredita que os azuis vão ficar muito mais fortes com o tempo e com o enraizar das ideias de Lopetegui.

«O Porto está a crescer, vai ser ainda muito mais forte do que o que está, e como ainda não está na sua máxima força, diria que o Vitória vai apanhar um Porto numa fase em que até tem mais possibilidades de vencer; porque o Porto ainda está a ser trabalhado numa realidade nova, o que requer sempre tempo» atirou.

Ainda assim, Rui Ferreira não se atreve a atirar um prognóstico para este encontra e diz que as diferenças são muito grandes entre o jogo de há doze anos e o jogo que se irá disputar domingo. O próprio palco do jogo é diferente.

«É difícil fazer comparações, o contexto era muito diferente. Utilizávamos o campo de Felgueiras como um fator a nosso favor, sabíamos que os jogadores que vinham de fora sentiam muita pressão. O contexto do Estádio D. Afonso Henriques é diferente, o adversário sente na mesma pressão, mas não é a mesma coisa. Em Felgueiras as pessoas estavam mesmo junto à rede e ao relvado, no D. Afonso Henriques há um espaço de conforto maior» refere.

Jackson Martinez e Tomané: os homens que podem resolver

Médio recatado, habituado a duelos longe das luzes da ribalta e a quem se pedia que fizesse um trabalho invisível em prol da equipa, Rui Ferreira aponta os avançados Jackson Martinez e Tomané como as unidades que podem ter interferência no desfecho final.

«Se olharmos para a equipa do FC Porto salta logo à vista o Jackson Martinez, no V.Guimarães o Tomané também está num bom momento, mas acho que o V.Guimarães vale pelo seu todo e pela garra, pela entrega e pelo espírito que empresta à qualidade dos seus jogadores» aponta o agora técnico, que se dedica à administração da sua escola de futebol, a Academia Mar Foot.

«Tudo é possível» foi um dos últimos desabafos de Rui Ferreira a antecipar o embate do Estádio D. Afonso Henriques, que vai pôr frente a frente duas das três equipas que ainda não cederam pontos no campeonato, sendo a outra o Rio Ave.

Pelo meio, o agora técnico deixa elogios a Rui Vitória: «Tem feito um trabalho extraordinário na aposta e lançamento de miúdos. As pessoas ficaram alarmadas quando a equipa B do V.Guimarães desceu à II Divisão B, mas se calhar, se não tivesse descido O Rui Vitória não tinha tirado tão bons jogadores porque se trata de um bom espaço para os jovens crescerem e para serem colocados à prova no que à questão da humildade diz respeito. Esta divisão fá-los crescer ainda mais».

Ainda sem perder pontos, vimaranenses e dragões medem forças pelas 17horas do próximo domingo no Estádio D. Afonso Henriques, para a 4ª jornada da Liga. Um duelo em que está em causa a liderança do campeonato.