José Couceiro, treinador do Vitória de Setúbal, analisa a goleada sofrida em casa (0-5), diante do FC Porto, para a 14ª jornada da Liga:

[sobre a expulsão] «Foi uma estreia. É a primeira vez. Nem como jogador tinha sido expulso. Fica associado ao Tiago Martins a primeira expulsão da minha carreira, e já tenho quarenta e tal anos disto.»

«Entrámos bem no jogo. Queríamos condicionar o FC Porto e estávamos a conseguir. Defensivamente com uma boa prestação, a conseguir sair em ataque rápido. Com mais dificuldade em ataque organizado, como é normal. O que vejo no lance, e é por isso que protesto, é que há falta clara sobre o Edinho. Um desvio no ar é suficiente para tirar o jogador da bola. E o que pedi foi para irem ver as imagens. Falaram-me de intensidade, mas então no lance do penálti…toca sempre a nós a intensidade. Foi em Alvalade com o Bas Dost, foi o João Amaral com o Benfica... A equipa intranquilizou-se e o FC porto ganhou segurança. Depois deste resultado vou dizer o quê? A partir de determinado momento comecei a pensar no jogo seguinte. O Vasco Fernandes sai por precaução, podia haver alguma surpresa e ser expulso. O FC Porto não tem nada a ver com isto, como não tem o Benfica ou o Sporting. Estamos a falar do Vitória, estamos preocupados é com o Vitória. Não temos sido felizes em algumas coisas, outras são da nossa responsabilidade, claro. Emocionalmente a equipa tem sentido muito isso, e tem sentido dificuldade para mudar o foco. Sem fugirmos às nossas responsabilidades – e eu assumo a expulsão, porque protestei e não posso -, mas a maior questão tem a ver com uma reação psicológica que a equipa necessita. A equipa precisa de acreditar em toda a gente, e neste momento não acredita em todos os agentes. E isso é mau. Não estou a tirar mérito ao FC Porto, que foi mais forte, mas o momento decisivo é o primeiro golo, que vira o jogo. Não temos ilusões, o FC Porto é mais forte do que nós.»

[sente que o seu lugar pode estar em risco?] «Não. Não tem nada a ver com a questão do meu lugar. Senti, no momento da expulsão, o carinho da massa adepta do Vitória. Não senti animosidade. Não é bom este registo, e queríamos ter mais pontos. Devíamos ter mais pontos. Queríamos ter mais tranquilidade, a bola queima mais para alguns jogadores. Há muita gente que fala sem ter jogado, e falta-lhe essa sensibilidade. Mas também é verdade que, se o campeonato acabasse agora, o Vitória cumpria os seus objetivos, ainda que à tangente. Se estamos satisfeitos? Não. É um período difícil, mas não vivo preocupado com essas consequências. Já disse várias vezes que, no Vitória, nunca serei parte do problema. Não há duvida disso. O Vitória vive um momento difícil. Vamos ver se tem eleições, porque neste momento ainda não há listas. Não vale a pena estarmos a justificar com estas coisas, temos de as encarar de frente. Não sinto esse perigo, mas estou preocupado com a situação do Vitória. Se algum dia a solução passar por aí, é o mais fácil.»

[o momento do Vitória parece mais delicado fora de campo do que dentro. Fala-se até de ordenados em atraso. Confirma? Isso condiciona a equipa?] «Há questões internas que eu não abordo. Não acho que seja o mais importante, o Vitória já passou por fases mais complicadas. É evidente que é uma fase complicada. Isto não dá tranquilidade a ninguém. Estou muito preocupado com o equilíbrio emocional da equipa. Fizemos 16 faltas. Já na época passada tentaram passar a mensagem que o Vitória era uma equipa faltosa. Somos das equipas que menos faltas fazem. Há aqui qualquer coisa de errado. Se calhar temos de começar a jogar de forma diferente. O que todos nós queremos é que se resolva, que encontremos o nosso equilíbrio, e isso não vai acontecer por eu fazer declarações públicas, ou por tratar dos assuntos do Vitória em conferência de imprensa. Os problemas do Vitória têm de ser resolvidos internamente.»

[a sua expulsão condicionou a equipa?] «É possível. Eu não devo ser expulso. Sendo o líder da equipa, não posso ser expulso. E tenho de assumir essa responsabilidade. Acho que é excessivo. Eu protestei, mas naquele momento já me tinha calado. Mas pronto…não adianta, não vou fazer juízos de valor. Se teve influência? Terá sempre alguma. Se foi decisiva? Acho que não.»

[como se motiva a equipa neste situação?] «A melhor fonte de confiança é ganhar jogos. A questão é como ganhar jogos. A equipa tem de inverter este ciclo, acreditar que tem potencial para fazer melhor, que tem. Muitos dos nossos reforços estão dentro de casa. Não tiveram a felicidade de estar bem neste período da época, temos tido muitas lesões. Alguns jogadores até foram penalizados por jogar fora de posição para ajudar a equipa. Essas melhorias vão chegar, e a equipa tem de acreditar que tem potencial. O João Amaral andou com muitos problemas, hoje já esteve perto do nível dele. O César fez o primeiro jogo e esteve bem, a um nível muito razoável. Pode ajudar os nossos problemas de altura. Há aqui muitas situações, que são um todo.»

«Estamos a dois pontos da linha de água. Devíamos e merecíamos estar a oito pontos, talvez. Vamos ter de reagir. Na tempestade também se cresce.»