Vitória clara, primeira parte de luxo, liderança recuperada e, para juntar ao ramalhete, também agora melhor ataque da Liga para somar à melhor defesa.

Obrigado a correr atrás do prejuízo, por contingências do calendário e por escorregadelas recentes, o FC Porto não tremeu e depois da ultrapassagem na Luz segurou-se bem na pista da liderança na primeira de quatro sinuosas curvas antes da meta.

Nesta reta final, os dragões parecem bem mais firmes na corrida do que os rivais. Basta recordar que o Sporting venceu pela margem mínima nas últimas duas jornadas e que o Benfica, durante o período de orfandade de Jonas, garantiu duas vitórias fora apenas no período de descontos e pelo meio perdeu o clássico.

Esta noite, o FC Porto apareceu em modo dominador e nesse registo nem precisou de calmantes para se tranquilizar.

Jogo de nervos? Pois, os golos são o melhor placebo: aos 13 já havia dois na baliza do V. Setúbal – dois precoces, a mesma receita do que contra o Desp. Aves, no último jogo no Dragão.

Este Porto entrou com pedalada, como a que Telles deu antes de cruzar para o primeiro, e andou de bicicleta, como Marcano no segundo. Ligou o turbo, como Marega, qual todo-o-terreno, no terceiro e, depois de um percalço, voltou a ligá-lo, como Ricardo, que mais parecia andar de mota sobre a direita, sprintando para servir Corona para o quarto.

Tudo isto ainda antes do intervalo. Foi uma primeira parte avassaladora e a pressa de vencer permitiu a este FC Porto 45 minutos em modo gestão, quase em ritmo de passeio.

FC Porto-V. Setúbal: ficha e jogo ao minuto

Este é, de facto, um FC Porto mais potente e robusto, o que deriva em boa medida do regresso de Marega – Aboubakar, por sua, vez nem sequer esteve no banco. O poder físico e velocidade do franco-maliano dão capacidade de explosão à máquina de Conceição, que, não sendo um Ferrari, está muito bem oleada e funciona bem melhor com esta peça que lhe faltou durante períodos cruciais da época.

Quem diria que aquele que uma vez foi visto como um patinho feio haveria de ser um imprescindível na manobra da equipa portista?

Esta noite, coube a Marega a honra de abrir o marcador, logo aos 6’, antes de arrancar imparável para servir Brahimi para o 3-0 aos 16’. Entre uma coisa e outra, a improvável bicicleta de Marcano (13’), em jeito de uma improvisada «homenagem» ao mexicano Hugo Sánchez, antigo ponta-de-lança do Real Madrid que era especialista em acrobacias deste tipo e que esta noite esteve na tribuna do Dragão.

Quando não era a potência de Marega ou a arte de Brahimi havia pelos flancos os desequilíbrios causados por Ricardo e Telles, dois vaivéns, faziam a diferença sempre que apoiavam no ataque.

Do lado contrário, o aflito Setúbal, apenas dois pontos acima da zona de despromoção, foi sempre demasiado curto para colocar em causa o poderio dos da casa. Exceção à regra: o golo com que João Amaral reduziu para 3-1, aos 24’, aproveitando a momentânea vantagem numérica quando Herrera era assistido fora das quatro linhas.

FC Porto-V. Setúbal, 5-1: destaques do jogo

A manta de Couceiro, porém, não esticava. Além do mais, na segunda parte faltaram pernas ao Setúbal. O FC Porto controlou os 45 minutos que faltavam quase ao ralenti. E com a bola parada haveria de Telles (grande exibição) sentenciar, aos 72', a goleada por 5-1.

Lembram-se daquele FC Porto, de tração mais atrás, Nuno Espírito Santo, que na época passada perdeu na jornada 26, aqui no Dragão e diante deste mesmo V. Setúbal (empate 1-1), a oportunidade de se isolar no campeonato? Pois, este, o da vertigem e altas velocidades de Conceição, é bem diferente. Este é um Porto a jogar The Need for Speed em modo expert, que acelera quando tem de correr atrás do prejuízo e treme bem menos nos pontos críticos.

A jogar e a marcar assim, esta equipa só poderia sair de campo aos abraços e sob aplausos do público: com dois pontos e vantagem no confronto direto sobre o Benfica quando faltam disputar nove pontos.

Segue-se a viagem à Madeira, para defrontar o Marítimo, uma deslocação que não tem sido propriamente uma excursão nas últimas épocas.

Ainda assim, na jornada que antecede o clássico de Lisboa, na ilha amaldiçoada para os dragões pode estar a chave da Liga. Caberá ao dragão ligar a ignição, colocar o pé no acelerador e perceber se tem turbo para voltar a fazer do jogo um passeio.