Dezoito anos depois o Vitória voltou a vencer o Benfica no Bonfim, confirmando que o campeão está de facto a passar por um mau momento, como já tínhamos visto no Algarve, no jogo com o Moreirense, mas também nos jogos com o Boavista, Leixões e Tondela. Mais uma vez, o Benfica não conseguiu vencer, desta vez até perdeu, depois de sofrer primeiro. Uma derrota que coloca dúvidas na corrida para a renovação do título, com o FC Porto agora colado, a apenas um ponto, e o Sporting também mais perto, agora a sete. Uma crise difícil de explicar, até porque o Benfica consegue manter a mesma intensidade e o mesmo fulgor no ataque, mas perdeu a habitual eficácia à frente da baliza e está bem mais permeável em termos defensivos. Um jogo marcado por um caso polémico, mesmo com o jogo a acabar.

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Mesmo antes do jogo começar, já era fácil antever um Benfica com mais ímpeto do que aquele que vimos a meio da semana na Taça da Liga, tendo em conta as alterações que Rui Vitória, a cumprir o primeiro jogo de castigo, promoveu no onze inicial. Luisão e Lindelof regressaram ao eixo defensivo, enquanto Zivkovic e Franco Cervi voltavam a ser as asas da águia que contava ainda com o regresso de outras peças determinantes, como Nélson Semedo, Fejsa e Mitroglou. E de facto o Benfica entrou no jogo com intensidade, diante de um Vitória que, por seu lado, não se deixava intimidar e procurava defender o mais longe possível da baliza de Varela.

José Couceiro também fez algumas alterações na sua equipa, devolvendo Arnold para o ataque, com Vasco Fernandes, mais recuado na defesa da ala e juntando Bonilha a Mikel Agu na zona do miolo, à frente dos centrais e João Amaral a jogar solto nas costas de Edinho. Mas era o Benfica que tentava impor o seu jogo, carregando em velocidade, quase sempre pela direita, com Nélson Semedo muito ativo sobre o flanco. Um remate de Mitroglou, logo no primeiro minuto, dava bem conta das intenções do Benfica em chegar cedo a golo. Logo a seguir, mais um raide de Nélson Semedo e remate de Cervi no lado contrário. Uma entrada forte que, no entanto, foi perdendo força, com o Vitória a conseguir fechar os corredores e a manter uma boa consistência na zona central, onde o Benfica perdia bolas atrás de bolas.

A verdade é que o Vitória, em vez de encolher-se, conseguia abrir o jogo, exercia forte pressão sobre o detentor da bola e obrigava o Benfica a engasgar-se e a cometer erros. Prova que o Vitória não se limitava a defender, é o remate acrobático de Edinho, a corresponder a um cruzamento de Arnold. Um aviso que o Benfica, depois dos golos consentidos diante do Moreirense, devia ter levado mais a sério. A equipa de Rui Vitória continuou a carregar e acabou mesmo por ser surpreendida, aos 21 minutos, depois de um grande trabalho de Edinho sobre a direita, a soltar Arnold sob a pressão de Lindelof, para o companheiro cruzar para o primeiro poste onde surgiu Zé Manuel, de cabeça, a abrir o marcador. Um golo cheio de significado porque o Benfica, esta época, ainda não tinha ganho um jogo que tivesse começado a perder.

O Benfica reagiu com o pé no acelerador, jogando ainda mais rápido, mas com pouca cabeça, insistindo nos passes para Jonas, quase sempre bem tapado por Mikel e Bonilha, uma dupla em perfeita sintonia a abafar por completo o número dez do Benfica. Pizzi tentou um remate à entrada da área, Luisão também teve uma oportunidade de cabeça, salva in extremis por Frederico Venâncio, mas a verdade é que o Vitória exibia confiança e, sempre que podia, procurava responder em contra-ataque. O jogo seguiu frenético até ao intervalo, mas o resultado manteve-se.

Rui Vitória arrisca, Vitória perto do segundo

Rui Vitória não esperou mais e trocou Cervi [já tinha um amarelo e esteve bem menos ativo do que Zivkovic no lado contrário] para lançar Rafa. Além da substituição, Jonas também recuava um pouco mais, à procura de bola, mas era um Benfica visivelmente nervoso que entrou nesta segunda parte, com os adeptos a pedirem logo de início um golo. Um Benfica que tinha a iniciativa, mas continuava a perder muitas bolas. O Vitória sustinha a respiração, muito concentrado sobre a sua defesa, mas ia conseguindo respirar a espaços, com Mikel [que grande jogo], João Amaral e Zé Manuel a conseguirem levar a bola para longe e a obrigarem o Benfica a reposicionar-se para evitar outro dissabor. Rafa acrescentou ao jogo o que o Cervi não conseguiu fazer na primeira parte, mas a verdade é que Mitroglou estava muito perdulário na área e desperdiçou uma oportunidade flagrante na área, depois de um belo pormenor de Jonas.

Era preciso mais qualquer coisa para desequilibrar este Setúbal e Rui Vitória, desde a bancada, decidiu arriscar, a vinte minutos do final, prescindindo de André Almeida para lançar Carrillo e, desta forma, juntar Rafa a Mitroglou. O Benfica ficava apenas com três defesas, com Zivkovic a fazer todo o corredor. Um risco que se confirmou logo a seguir, com Arnold a arrancar pela nova autoestrada, a bater Lindelof em velocidade para cruzar para o remate de Vasco Costa que tinha acabado de entrar. A bola passou ao lado, mas a verdade esteve muito perto do segundo golo.

O Benfica continuava com presa, tinha mais gente na área, mas continuava com dificuldades em fazê-la lá chegar. Rui Vitória trocou ainda Pizzi, visivelmente limitado, por Jovic, Couceiro respondia com Pedrosa. Com os minutos a correr, o Benfica acabou em desespero a jogar na área do Vitória, mas sem conseguir encontrar a baliza de Varela. Mesmo com o jogo acabar, na última investida de Carrillo, o peruano trava e é derrubado, em carrinho, por Nuno Pinto, mas João Pinheiro apitou logo a seguir para o final, sem nada asinalar.

Dezoito anos depois o Vitória, que já tinha afastado o Sporting da Taça da Liga, voltou a vencer o Benfica, depois de em 1999, ter vencido pelo mesmo resultado, com um golo solitário de Toñito. Temos campeonato!