Texto: Rita Pereira

Sábado, 2 de novembro de 2013. Em Maputo, a Liga Muçulmana recebe o Matchedje. Faltam duas jornadas para o final do campeonato moçambicano e a equipa da casa é líder. Após o apito final, a vitória por 1-0 dá o terceiro campeonato da história ao clube que é treinado pelo português Litos.


Litos chegou à Liga Muçulmana em julho de 2012. Meses depois conquista o primeiro título, a Taça de Moçambique. Em fevereiro deste ano, é a vez da Supertaça e este fim de semana foi a vez do título de campeão, com uma vantagem de dez pontos.

Numa situação normal, os festejos pela conquista do título seriam muitos, mas Moçambique não vive uma situação normal e por isso, a festa foi moderada. Ainda assim, Litos garante que «é uma alegria a conquista do campeonato depois de muitos meses de sacrifício», mas há alguma «tristeza» por não poderem festejar devidamente.

«Claro que há alguma tristeza pelo que tem acontecido em Moçambique e estamos solidários não só com o povo moçambicano, mas também com os muçulmanos e indianos. Mas este campeonato é uma mistura de felicidade, dor e pesar», explicou, ao Maisfutebol.

Nos últimos meses Maputo tem sido notícia devido a uma vaga de raptos de cidadãos de origem indiana, paquistanesa e chinesa. O número de raptos tem vindo a aumentar, mas a situação não é nova. No ano passado foram registados pelo menos 14. 

O treinador português espera que «as coisas se resolvam» para que a população «possa viver com segurança», porque «o povo moçambicano merece voltar a ser feliz».

«Foram meses de muito sofrimento»

A época do Liga Muçulmana não foi fácil. É o próprio Litos quem admite: «Foram meses de muito sofrimento para os jogadores que estiveram privados das famílias, com muitos estágios e viagens». A pressão, imposta pelo treinador, era muita porque «a equipa tinha a obrigação de conquistar tudo a nível interno», afirma.

Com apenas duas jornadas para o final do campeonato, Litos não tem dúvidas de que «a equipa foi a melhor». O treinador não poupa elogios ao clube, que considera ter «boas condições de trabalho, um bom campo para treinar, para jogar e boas instalações», ao contrário do que acontece com outras equipas da Moçambola, que sofrem com a falta de água, explicou.

Litos, que em Portugal treinou o Estoril, Portimonense e Leixões, esteve em Moçambique em 2009, para treinar o Marraquexe. O regresso a África aconteceu no ano passado, quando foi convidado para orientar a Liga Muçulmana que, após a conquista de dois campeonatos consecutivos, ocupava o nono lugar.

A adaptação não foi difícil, apesar do treinador de 46 anos admitir que «é complicado superar a ausência da família». Os dias são passados a preparar os treinos e a conviver não só com outros portugueses, como com moçambicanos. O país, esse, é «muito bom, não falta nada» e «sabe receber muito bem».

«Maputo é uma cidade excelente para viver, aqui há tudo. Mas agora Moçambique é um país bastante mais caro do que há quatro anos, quando estive cá», acrescenta.

«Quero usufruir da minha família»

Em Moçambique, Litos já conquistou tudo e a duas jornadas do final do campeonato, a questão sobre o futuro do português coloca-se. Em conversa telefónica com o Maisfutebol, o treinador garante que espera «regressar a Portugal no fim do último jogo do campeonato». «Quero usufruir da minha família, acompanhar os meus filhos e a minha esposa, porque são muitos meses que estamos separados. Depois decido o que vou fazer», contou.

Litos garante que ainda não recebeu convites, mas mostrou-se «disponível para treinar». No entanto, em declarações à agência Lusa, afirmou que «neste momento não é fácil» pela quantidade de treinadores em Portugal «que estão desejosos por uma oportunidade».