A vitória do Chelsea em Anfield, neste domingo, com um onze de recurso, não se limitou a relançar a discussão do título inglês, inclinando-a novamente a favor do Manchester City. O desfecho foi também a enésima confirmação da apetência de José Mourinho para montar equipas vencedoras em jogos com concorrentes diretos: nesta edição da Premier League, esta foi a sétima vitória consecutiva do Chelsea em jogos com os primeiros sete classificados.

No final do encontro, o técnico português continuou a pôr a sua equipa fora das contas finais e sublinhou o registo cem por cento vitorioso dos «blues» com os dois concorrentes mais próximos: «Podemos dizer que vencemos os dois jogos ao novo campeão, seja ele o Liverpool ou o Manchester City», atirou.

O sublinhado tem razão de ser: depois da sua primeira temporada completa, com o FC Porto, em 2002/03, com vitórias diante de Benfica e Sporting, nunca mais uma equipa do técnico português tinha terminado a época só com vitórias diante dos outros dois integrantes do pódio. E isso até pode significar um paradoxo, uma vez que o Chelsea até pode acabar a Liga em terceiro, posição que Mourinho nunca conheceu desde essa primeira época completa, nas Antas.

A aparente contradição pode ser explicada pela forma como o Chelsea se apresentou em Liverpool, numa versão afinada do plano táctico aplicado a meio da semana, em Madrid, com o Atlético. Entregando por completo a iniciativa ao adversário, e confiando numa organização defensiva irrepreensível, a equipa londrina - privada de grande parte dos habituais titulares e, assim, também da obrigação de vencer - pôde abordar o jogo como gosta, apostando no erro alheio e no contra-ataque.

Mesmo com as mudanças de mentalidade trazida por vários técnicos continentais, esta é uma abordagem pouco vulgar no futebol inglês, e que Mourinho tem usado em proveito próprio melhor que ninguém. Comprova-o, desde 2004, o saldo esmagadoramente favorável nos confrontos diretos com equipas de Alex Ferguson e Arsène Wenger, as duas maiores referências da Premier League das últimas décadas.

Nesta temporada, em especial, a estratégia – que Mourinho tentou justificar mais de uma vez com a falta de goleadores natos como Suarez, Aguero ou Dzeko - resultou em pleno nos jogos com equipas de patamar Champions, mas foi ineficaz diante de equipas mais pequenas, que podiam defender de forma compacta e obrigar os «blues» a mostrar soluções de ataque continuado. Nesse aspecto, o Chelsea está claramente atrás de Liverpool e Manchester City, como o confirma o facto de, a duas jornadas do fim, ter menos 27 golos do que os «reds» e 23 do que os «citizens».

Assim, se os números do Chelsea diante de adversários diretos estão ao nível dos melhores de sempre na carreira de Mourinho, já os 15 pontos perdidos com equipas da segunda metade da tabela – nove deles em derrotas com Sunderland, Aston Villa e Crystal Palace – são completamente atípicos no seu trajeto. E explicam porque razão, sendo claramente o melhor entre iguais, o Chelsea de Mourinho dificilmente chegará ao título este ano.

Resultados do Chelsea com os sete primeiros: 27 pontos em 36 possíveis (8 v; 3 e; 1 d)
Liverpool 2-0 F; 2-1 C
Man. City 1-0 F; 2-1 C
Arsenal 0-0 F; 6-0 C
Everton 0-1 F; 1-0 C
Tottenham 1-1 F; 4-0 C
Man. United 0-0 F; 3-1 C

Resultados do Liverpool com os sete primeiros: 22 pontos em 36 (7-1-4)
Chelsea 1-2 F; 0-2 C
Man. City 1-2 F; 3-2 C
Arsenal 0-2 F; 5-1 C
Everton 3-3 F; 4-0 C
Tottenham 5-0 F; 4-0 C
Man. United 3-0 F; 1-0 C

Resultados do Man. City com os sete primeiros, 22 pontos em 33 (7-1-3)
Liverpool 2-3 F; 2-1 C
Chelsea 1-2 F; 0-1 C
Arsenal 1-1 F; 6-3 C
Everton 3-1 C (falta um jogo)
Tottenham 5-1 F; 6-0 C
Man. United 3-0 F; 4-1 C

Desempenhos do Chelsea com Mourinho vs. sete primeiros
2004/05: 32 pontos em 36 (10-3-0)
2005/06: 27 pontos em 36 (9-0-3)
2006/07: 18 pontos em 36 (4-6-2)
2013/14: 27 pontos em 36 (8-3-1)