Lixa tem atualmente 37 anos e entra naquela popular categoria: passou ao lado de uma grande carreira. Não teve responsabilidade do processo e reencontrou a felicidade como supervisor de receção num hotel de Paris.

Em longa e franca conversa com o Maisfutebol, para a rubrica Depois do Adeus, o antigo extremo recordou vários episódios da sua história no mundo de futebol e um deles tem particular interesse.

23 de outubro de 1999. Lixa representava o Vitória de Guimarães e entrou em campo para defrontar o FC Porto. Saiu ainda na primeira parte, com uma grave lesão no joelho direito. Não sabia ainda mas aquele dia iria mudar a sua vida para sempre.

Semanas antes, o jovem tinha assumido um compromisso para reforçar o FC Porto em dezembro. Porém, a rotura de ligamentos alterou os planos. Aquele jantar na Invicta, ao lado de outro jogador desejado pelo clube portista, de nada valera.

«Ia para o FC Porto com o Deco, que na altura estava no Salgueiros. Certo dia, fui eu, ele e Jorge Mendes, que era o nosso empresário, jantar com o senhor Reinaldo Teles. Foi num restaurante bem perto do Estádio das Antas», recorda Lixa.

O acordo estabelecido no início do mês de outubro, à mesa de um restaurante, caiu por terra. «Foi um azar enorme. Íamos os dois para o Porto em dezembro, faltava pouco, e eu acabo por lesionar-me com gravidade precisamente contra o Porto. Resultado: foi só o Deco. »

«Na altura estava a ganhar o equivalente a 3 mil euros no Vitória e ia ganhar 50 mil por mês para o FC Porto! As coisas estavam a correr-me muito bem no clube e nos sub-21, tinha o Porto e o Benfica também manifestou interesse de novo. Para além disso, ia ser chamado à seleção principal. Soube disso já na ambulância», relata.

O não ao Benfica e os 500 mil euros do Mónaco

O Benfica tentara contratar Lixa primeiro, ainda no tempo do Sintrense. «Marquei dois golos o Olivais e o senhor António Simões estava a ver, demonstraram interesse logo no final, tal como o V. Guimarães. Era muito jovem, pensei que ainda era cedo para ir para o Benfica, teria de dar provas do meu valor primeiro. Não me arrependi. Assinei pelo Vitória, fui emprestado pelo Felgueiras no primeiro ano e fui à seleção sub-21. Passado pouco tempo chegou o Mónaco a oferecer 500 mil euros mas o presidente Pimenta Machado não quis.»

O extremo tinha o mundo aos seus pés. Tinha evoluído desde a sua passagem pelo Sintrense e demonstrava um potencial tremendo. Para trás ficaram algumas diabruras da adolescência.

«Com 17/18 anos, ganhava 300 euros no Sintrense e era a altura certa para gozar a vida. Descobri as discotecas, faltava a treinos para ir para a praia com os amigos, etc. Ainda não tinha a maturidade necessária e só melhorei quando o treinador Dauto Faquirá e o adjunto Abreu me deram uma reprimenda valente», reconhece.

Lixa colocou as ideias no sítio e começou a evoluir. Despontou no Sintrense, assinou pelo Vitória de Guimarães mas passou o primeiro ano em Felgueiras, por empréstimo do clube vitoriano. Na época seguinte, procurou a afirmação no Berço mas sofreu a tal lesão grave frente ao FC Porto.

«Foi tudo do joelho direito, o ligamento cruzado anterior, posterior, tudo. Sabia que ia passar por muitas dificuldades mas acreditava que ia voltar. O Simão Sabrosa teve uma lesão do género, na mesma altura, e recuperou bem. O problema é que eu fui operado à moda antiga», lamenta.

O antigo jogador não poupa críticas. «O Doutor operou-me de forma errada e correu mal. Tive de ser novamente operado. Depois, quando já estava quase bem, o meu corpo rejeitou o parafuso: terceira operação e novamente complicado, aquilo já estava calcificado…» 

Recuperar do joelho direito para quebrar pelo esquerdo

Após três operações ao joelho direito e ano e meio sem jogar, Lixa teria dificuldades em voltar ao nível anterior. «Tinha a técnica mas faltava a velocidade, a rotação. Não ia ser o mesmo. Adaptei-me e em 2001/02 ainda fiz onze jogos pelo Vitória. Tenho de agradecer a várias pessoas, como o fisioterapeuta Francisco Miranda, que está agora no Sp. Braga, por essa recuperação do joelho direito.»

A alegria durou pouco. Em fevereiro de 2002, numa receção ao Benfica, mais uma lesão grave num joelho, desta vez o esquerdo. «Nessa altura percebi logo. Com duas lesões, nos dois joelhos, já sabia que estava tramado.»

Lixa foi desaparecendo do mapa futebolístico. Saiu de Guimarães e terminou a carreira no Odivelas, com apenas 27 anos. Passara ao lado da grande carreira e dos milhões. «Hoje podia estar melhor do ponto de vista financeiro, mas consegui dar a volta e sou feliz com a vida que tenho», remata.