O Comité Olímpico Internacional autorizou, no passado sábado, que Guor Marial participasse na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres como atleta independente. Mesmo sem ter passaporte, o atleta vai ter o privilégio de desfilar na cerimónia de abertura, acompanhado pela bandeira dos cinco anéis.
Marial nasceu no atual Sudão do Sul, uma nação tão recente (a independência foi declarada em 2011) que ainda nem tem Comité Olímpico reconhecido internacionalmente. Como tal, o atleta não pode competir pelo seu país. Pelo menos formalmente.
«A voz do Sudão do Sul foi ouvida, e finalmente vai ter um lugar na comunidade mundial. Embora não vá carregar a sua bandeira, o país vai lá estar. O sonho tornou-se realidade. A esperança do Sudão do Sul está viva. O mais importante é o povo do meu país. Eles passaram por muito, e se eu conseguir alcançar algo, posso ajudar. É a pensar nisso que me levanto todos os dias, calço os meus ténis e vou treinar», disse o atleta, citado pelo «Telegraph».
A II Guerra Civil Sudanesa não é esquecida por Marial, que nela perdeu vinte e oito familiares. Com apenas oito anos teve de fugir de um campo de trabalhos forçados, na companhia de outra criança. Viveu depois no Egito, mas aos 16 anos mudou-se para os Estados Unidos, onde ainda permanece, com estatuto de refugiado, mas sem cidadania, o que não lhe permite representar este país em Londres.
Sem passaporte, arriscou-se a ficar afastado dos Jogos Olímpicos, mas nem isso o levou a aceitar o convite da República do Sudão. Seria uma traição ao sofrimento do seu povo, justificou.
No passado sábado o Comité Olímpico Internacional autorizou que competisse como atleta independente. «Quando ouvimos a sua história de vida, aquilo que ele passou, sentes que era preciso olhar para a sua situação e encontrar uma forma de tornar isto possível», disse Jeanne Shaheen, senador de New Hampshire, que enviou uma carta ao COI.
Guor Marial não será, contudo, o único a participar nos Jogos Olímpicos sem país. O mesmo acontecerá com Churandy Martina, Philip Elhage e Rodion Davelaar, atletas oriundos das antigas Antilhas Holandesas, território que perdeu a autonomia em 2010. O respetivo Comité Olímpico foi dissolvido e os três atletas recusam-se a competir pela Holanda.
Já nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, os atletas da Jugoslávia competiram pela bandeira olímpica, depois da desagregação do país. Oito anos depois, quatro atletas de Timor Leste competiram em Sidney com o mesmo estatuto, ainda na ressaca da independência.