Luís Campos não nega, em entrevista ao Maisfutebol, ter já recebido propostas de outros clubes, sobretudo do mercado inglês, mas diz que o bem estar que encontrou no Lille tornam difícil sair do clube francês. Só por um projeto verdadeiramente irrecusável poderia mudar. Pelo caminho admite que pode ser nesta altura um dos diretores desportivos mais reputados do futebol europeu, o que tem a ver com o trabalho feito no Mónaco: negócios como Mbappé, Bernardo Silva, Lemar, Martial, Fabinho ou James Rodriguez permitiram-lhe somar quase mil milhões de euros em vendas.

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Gosta mais deste papel de diretor desportivo ou gostava mais de ser treinador?

Na vida há um timing para tudo. Houve um timing para ser jogador, um timing para ser treinador – fui treinador principal muito novo, com 27 anos já estava na II Liga – e agora é uma nova fase. Já levo alguns anos neste novo papel e sinto-me bem, gosto do que estou a fazer. Não sei se gosto mais ou menos de ser diretivo desportivo, mas sei que me sinto muitíssimo bem a fazer o que faço e acho que foi um timing normal dentro do que tem sido a minha carreira.

Tem sido colocado muitas vezes próximo do futebol inglês. Acha que o seu futuro passa, ou passará um dia, por Inglaterra?

Não sei, não é uma preocupação que tenha. Para mim é muito importante o agora e para já, ou pelo menos antes de chegar este vírus, sentia-me bem nas funções que tinha, onde estava e como estava. Não tenho uma obsessão louca por ir para Inglaterra e para me retirarem deste projeto - que é muito especial e no qual eu tenho uma grande parte de responsabilidade no que está a acontecer – só com razões muito especiais. A verdade é que me sinto muito bem aqui.

Mas houve de facto interesse do Tottenham ou do Manchester United?

Houve abordagens e existem abordagens para poder dar um novo rumo à minha carreira. Por respeito às pessoas que trabalham nesses clubes não vou falar em nomes, mas existiram propostas. É algo perfeitamente normal em função do que tem acontecido. Mas repito: estou muito bem onde estou, tenho uma relação extraordinária com o meu presidente, foi ele quem me convenceu a vir, as coisas têm corrido muito bem e acredito que será muito difícil sair do projeto do Lille.

Sente que nesta altura é um dos diretores desportivos com mais cotação no mercado?

Sinto, pelas propostas que vão chegando e pelos namoricos que vão acontecendo, que as pessoas têm apreciado o meu trabalho. Mas não vivo com essa obsessão. Talvez quando era mais jovem os objetivos fossem vistos de outra forma. Nesta altura, aos 55 anos, passando o que já passei, com momentos bons e momentos maus, o importante para mim é viver o dia a dia com segurança, com paixão e com prazer. E nesta altura é isso que eu sinto dentro deste projeto.

Apaixonou-se pelo Lille, é isso?

Este é um clube que não era muito conhecido em Portugal antes de ter tantos portugueses, mas Lille é uma cidade espetacular no norte de França, uma cidade jovem, com uma grande comunidade estudantil, uma cidade muito bonita. Tem um estádio maravilhoso, o melhor estádio de França, tem um centro de treinos formidável, ao mais alto nível, e tem adeptos que vivem intensamente o clube. Portanto é uma cidade que respira futebol e estamos no centro da Europa.

E sente que já atingiu como diretor desportivo um patamar dificilmente atingível como treinador?

A nível internacional sim, claro que sim. O que está ligado ao facto de, com a chegada do fair-play financeiro, ter de haver clubes desportivamente bem-sucedidos e economicamente equilibrados. Nesse aspeto, a política que seguimos no Mónaco foi muito importante. Fizemos vendas de quase mil milhões de euros, o que nos permitiu contratar jogadores com experiência como Falcao, João Moutinho, Ricardo Carvalho, James ou Toulalan, investir no scouting, conhecer alguns dos melhores jovens do mundo a um preço muito baixo e, por isso mesmo, construir um clube altamente rentável sob o ponto de vista económico e muito bem-sucedido desportivamente. Esse facto talvez tenha feito com que o mundo de futebol ficasse atento ao meu trabalho.