A 14 de maio de 2005, a sentença estava proferida: Jorge Jesus descia de divisão. Seria a última vez que passaria por tal privação. O Moreirense, ironicamente, até vencera por 0-4 em Coimbra. Debalde. A conjugação de resultados arrasta Jesus e os cónegos para fora da I Liga.

Um ano depois, a 7 de maio de 2006, acaba o calvário de Luís Castro no Penafiel. A via sacra eclode numa derrota, uma mais, no Estádio 25 de abril. Ganha (e salva-se) a Naval. 0-1, descida de divisão confirmada, e há muito anunciada, dos durienses.

CASTRO E JESUS: memórias de Leiria e três duelos na Liga


Nos dois momentos, infelizes, dos atuais treinadores de Benfica e FC Porto, um nome em comum: Sérgio Lomba.

O defesa central, agora aposentado em Viana do Castelo, assiste a dois dos momentos mais duros nas vidas profissionais de Jesus e Castro. As diferenças, tanto no percurso das equipas como na forma de extravasar a frustração, são óbvias: «Jesus é um vulcão, Castro um poço de serenidade».

A diferença de discursos na hora da desgraça

Saltemos no tempo, até às declarações de Jorge Jesus e Luís Castro nessa hora cruel. Os estilos, contundentes, são diferentes em tudo. Vale a pena ler.

Primeiro, a reação de Jesus:

«Desde que cheguei a Moreira, perdi só com o Sporting e o Penafiel [já de Luís Castro], mais nenhum. Só não consegui alcançar o objetivo [da permanência] porque a Académica e o Gil Vicente fizeram um final de época muito forte. Até tenho mais um ponto do que pensava, mas tenho de dizer que a Académica chegou a estar a oito pontos do Moreirense (…) Se tivesse mais tempo de certeza que ficava na Superliga.»

Jorge Jesus, importa lembrar, comanda o Moreirense só nos últimos sete jogos da época. Substitui Vítor Oliveira, mas falha a manutenção. Acaba com duas vitórias, três empates e duas derrotas.

Agora, a reação de Castro:

«O Penafiel contratou uma equipa quase toda ela nova, os jogadores que entraram não se conseguiram impor e nas oito primeiras jornadas tivemos sempre sete ou oito jogadores lesionados. Caímos logo de início na tabela, não conseguimos ganhar balanço e a nossa situação ficou irremediável. Os treinadores e os diretores saem com uma imagem desgastada e se calhar as coisas precisam de um outro rumo».

«Jesus e Castro partilham a aversão pela derrota»

Nos dois meses sob as ordens de Jorge Jesus, Sérgio Lomba destaca, essencialmente, «a obsessão pela perfeição tática» do agora técnico do Benfica.

«A equipa melhorou muito com ele, principalmente na colocação no terreno e nas bolas paradas», conta ao Maisfutebol. E há coisas que não mudam, como acrescenta.

«Era o homem explosivo e emocional que conhecemos. O Raul José [adjunto] controlava-o bastante nesses momentos. Eu diria que o Jesus era de extremos. Na vitória aplaudia e elogiava muito, mas nas derrotas não perdoava».

Luís Castro era, e provavelmente é, radicalmente distinto. «Tivemos uma época para esquecer [15 pontos, recorde negativo na I Liga] e o presidente António Oliveira segurou-o até ao fim. A meio da época já sabíamos que íamos descer e ele manteve sempre o controlo no discurso e na relação com o plantel, apesar de detestar perder».

Sérgio Lomba fala em «dois treinadores interessantes e de qualidade», embora guarde «melhores recordações de Jesus».

«Apenas porque com ele joguei sempre. No Penafiel o Luís Castro apostava mais no Odair e no Welligton para o centro da defesa», recorda. E há, de resto, um episódio que não lhe sai da cabeça.

«Fomos jogar a Alvalade e logo no início há um colega meu que sofreu um toque. Ficou limitado e levantei-me para aquecer. Bem, aqueci o jogo todo e não entrei. Durante a semana até dizia ao mister Luís Castro que não precisava de fazer mais aquecimentos até ao final de época».

Jorge Jesus e Luís Castro, diferentes em praticamente tudo. No futebol pouco os une, a não ser «a paixão pelo jogo e a aversão pelo insucesso».