De todos os textos que escrevi no Maisfutebol ao longo destes quase 15 anos, este deve ter sido o mais fácil.

Fácil porque refleti muito sobre este passo. Fácil porque fui capaz de o explicar a quem precisava de o saber por mim. Fácil, sobretudo, porque não podia estar mais descansado em relação ao futuro do Maisfutebol. Nas mãos do Nuno, da Berta e do Luís, como principais responsáveis do projeto, o jornal manterá o rumo e saberá crescer.

Se refiro o Nuno, a Berta e o Luís é apenas por facilidade. Na verdade, eles sabem que o Maisfutebol é de facto o resultado de um trabalho de equipa. Sempre foi. Como diretor, entendi que as minhas principais tarefas eram duas: permitir que os jornalistas dessem o seu melhor e não estragar o que faziam.

Quando fui pela primeira a Queluz de Baixo (arredores de Lisboa), o Pedro Morais Leitão, à época administrador da Media Capital Multimedia, mostrou-me os velhos balneários dos operários da antiga fábrica que acolhia a TVI e disse-me: «A vossa redação será aqui». Tinha 30 anos, a internet estava a aparecer (ainda dial-up…), sentia que já tinha retribuído a «A Bola» a aposta que o jornal fizera em mim, aos 23 anos, chegado do Cenjor. Olhei para os chuveiros e também eu vi ali uma redação.

Uns meses depois, a redação aconteceu mesmo.

O Maisfutebol foi a oportunidade de uma vida. Ter a sorte de montar um projeto do zero, e fazê-lo com amigos e pessoas que admiramos profissionalmente, ainda por cima num grupo de media em crescimento. Podia haver melhor? Não creio. Esses tempos, essa euforia, essa capacidade de trabalhar sem cansaço, provavelmente nunca viverei igual. Vivi e é isso que conta.

O Maisfutebol quis ser diferente desde o primeiro dia.

Apostámos muito na comunidade. Passava horas a responder aos leitores. Nessa altura não havia Facebook ou Twitter. Mas felizmente já havia leitores, que embirravam comigo. E aos quais respondia.

Nas redações tradicionais, diretores, editores, jornalistas e administradores hesitavam. Era o tempo em que se guardavam notícias para o dia seguinte. Em que se questionava o futuro da internet. Hoje a internet chama-se digital e as pessoas passaram a questionar o futuro do papel. Felizmente as marcas mais antigas deram-nos tempo e espaço. E nós crescemos.

O Maisfutebol sempre se caraterizou por alguns traços fortes: futebol jogado em vez de futebol engravatado; aposta nas histórias; credibilidade e rigor. Distância em relação às fontes. Independência. Além disto, disponibilidade para arriscar. Criámos sites dedicados a Andebol e Atletismo. E fechámo-los. Inventámos uma rádio de desporto online (tinha João Querido Manha, Joaquim Rita, Valdemar Duarte, José Nunes, Nuno Domingues e Paulo Rico, entre outros). E fechámo-la, era cedo de mais. Escrevemos mais de dez livros. E temos muito orgulho nisso. Fizemos edições em papel para distribuir à porta dos estádios. Em 2009 ajudámos a fazer um programa de televisão, muito antes de as outras marcas pensarem no assunto. Ganhámos prémios e levámos os valores da marca mais longe, a mais pessoas. Fomos o primeiro jornal online credenciado pela UEFA. E também o primeiro a ser impedido de entrar num estádio em Portugal. Em 2013 criámos um projeto novo: cinco dias por semana, uma edição diferente, com artigos de maior fôlego. Uma revista digital, a que chamámos MF Total.

O programa de televisão foi uma aventura arriscada. Levar uma marca, a nossa, para dentro de uma outra marca (a TVI24) que estava a nascer era arriscado. O objetivo principal era consegui-lo mantendo os valores do jornal online. O talento do Joaquim Sousa Martins foi essencial. A sexta-feira à noite passou a ser lugar para experimentar coisas novas, testar limites. E também oportunidade para conhecer pessoas ou simplesmente reforçar laços antigos. A Cláudia Lopes foi fundamental, o Henrique Mateus também contribuiu muito, tal como o Marco António. A Andreia Sofia Matos tem sabido estar à altura. Pedro Ribeiro, Toni, Tomaz Morais, Pedro Barbosa, Carlos Mozer, Luís Francisco e Nuno Madureira. Esta lista diz tudo, não é? Cinco anos depois, o «Maisfutebol» é líder à sexta-feira.

Em 15 anos a paisagem media alterou-se, clubes e desportistas conseguem falar diretamente com seguidores e adeptos. Leitores, todos eles. Por vezes é difícil dizer quem são exatamente os concorrentes de um órgão de comunicação social. No fundo, todos corremos pelo bem essencial: a sua atenção.

No futuro, estou convencido de que será preciso continuar a correr. Tanto ou mais do que hoje. Mas o leitor apreciará também um pouco de tranquilidade. Gostará de boas sínteses (aposto no regresso das newsletters, por exemplo). Apreciará a inteligência da análise. A elegância da crónica. E, mais importante do que isto, voltará a valorizar a independência. Quando olho para o Maisfutebol vejo um meio de comunicação social e uma redação preparados para o que aí vem. Presente nas redes sociais, forte online e na televisão, indispensável na apps mobile.

Na verdade, nunca tivemos medo do futuro. Quer dizer, uma vez ou outra. Mas disfarçámos o melhor possível.

Para mim, o Maisfutebol foi muito bom e foi quase sempre muito divertido.

E quando as coisas são boas e são divertidas pode ser mais difícil perceber que está na hora de mudar. Mas, como dizia no início do texto, acabou por ser fácil decidir. O Maisfutebol, site e programa, continua em muito boas mãos e isso, caro leitor, é o que realmente importa.

NOTA: escrevo para ser lido. Nunca quis ter um blogue. Por isso, agradeço todos os comentários aos meus textos, até os menos educados. Agradeço à redação, claro. Agradeço às pessoas com quem tive oportunidade de trabalhar na TVI, desde 2002. E agradeço também aos meus chefes diretos, ao longo destes anos na Media Capital Digital (antes MCM): Pedro Morais Leitão, Inês Valadas, Rudolf Gruner e Ricardo Tomé. Eles sabem porquê.