Lulinha é um daqueles garotos a quem não foi dada oportunidade de crescer. Ainda com idade de júnior já carregava nas costas todo o peso dos adeptos do «Timão», ou simplesmente, Corinthians, a quem exigiram a fuga à descida à Série B quando tinha apenas 17 anos. Estávamos em 2007, o ano em que tudo lhe aconteceu. Era uma das principais figuras da selecção sub-17 do Brasil, por quem ganhou o campeonato sul-americano da categoria, obtendo o passaporte para os Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim.
Por essa selecção, fez 16 golos em outras tantas partidas, participando ainda nos Jogos Pan-Americanos, realizados no Rio de Janeiro, e também no Mundial de sub-17, na Coreia do Sul. Os colossos europeus, com Barcelona e Chelsea, na altura treinado por Scolari, arregalaram os olhos com aquele menino franzino (1,71 m e 65 quilos), e tentaram levá-lo, mas o Corinthians resistiu às ofertas - entre seis e oito milhões de euros -, na ânsia de conseguir um negócio faraónico: renovou-lhe contrato, até Dezembro de 2011, aumentando-lhe a cláusula de rescisão de cinco para 50 milhões de dólares!
Mas à medida que o valor do seu passe aumentava, Lulinha definhava em campo, acusando o peso da passagem aos seniores. Os adeptos irritavam-se, o treinador, Mano Menezes, não o protegia e a solução foi mudá-lo, durante uma época, para um clube tranquilo e bem longe desta turbulência. Assim, rumou ao Estoril, da Liga de Honra, por empréstimo, quando meio mundo pensava que o seu destino seria o Benfica. Por detrás da transferência está, é preciso não esquecer, a Traffic, empresa que detém o passe do jogador em conjunto com o Corinthians, e passou a controlar, recentemente, o clube da linha de Cascais.
«Ponte para o Benfica? Tudo pode acontecer»
Esta época, pelo menos, o jovem craque está a ter uma utilização dentro daquilo que é expectável. É dos mais utilizados do plantel comandado por Neca e já apontou dois golos entre campeonato e Taça da Liga. Mas o melhor ainda está para vir. «Posso render mais mas penso que já estou a fazer um bom trabalho. Todos sabemos que jogar a Liga de Honra não é fácil, é um campeonato muito forte e duro, ainda assim a equipa tem estado bem, está a crescer», considera, em conversa com o Maisfutebol.
Do Corinthians, um dos principais clubes do Brasil, para o modesto Estoril, às portas de Lisboa. A pergunta impõe-se: como explicar isto? «A vida de jogador de futebol é assim. As vezes estamos em cima, outra em baixo, depois voltamos a estar em alta... É como uma roda. Tem fases boas e fases ruins. Tive um momento muito bom no Corithians e na selecção, fiz um bom contrato com o clube, mas as coisas não se concretizaram na equipa principal, fui perdendo o meu espaço, e acabei vindo para cá, concretizando um objectivo que era conhecer a Europa. A Traffic agora está no Estoril e penso que será uma experiencia muito boa para mim.»
A adaptação está a correr bem, sobretudo graças ao facto de haver vários conterrâneos no plantel. «Estou numa boa equipa, com companheiros que me ajudam muito, já que estou fora do meu país. A cada dia que passa estou mais adaptado a Portugal. Felizmente, há muitos brasileiros no clube. Estamos sempre juntos, vamos ao cinema ao Shopping, há sempre um programa. Temos de ocupar a cabeça, porque a família está lá do outro lado do Atlântico», afirma, ele que, no final do ano, passou para o clube dos casados.