Michael Schumacher ultrapassa um, dois, três e... faz golo. Aqui não há nenhuma bandeira de xadrez. O acelerador, o travão e a caixa de velocidades dão lugar aos pés, às pernas e à cabeça. Schumacher, o goleador, é a faceta menos conhecida do piloto alemão. Apaixonado por futebol, pisa os relvados da Suíça em representação do FC Echichens. E - diz quem o conhece - com alguma perícia à mistura.
Bem perto do Lago de Genebra, para os lados de Lausanne, fica um dos pedaços de terra mais valiosos do Velho Continente. À semelhança de muitos outros famosos - Tina Turner, David Bowie, Chris Martin - Michael Schumacher escolheu a cidadezinha de Echichens para viver. Apaixonou-se pela neutralidade esfusiante do país e criou laços estreitos com a comunidade.
A poucos quilómetros do seu chalé, Schumacher descobriu o estádio do FC Echichens, humilde emblema do terceiro escalão helvético. Ofereceu os seus préstimos, misturou-se com os restantes jogadores e tornou-se «apenas mais um» no plantel. Ao lado dele, no balneário, esteve ao longo de três épocas o luso-helvético Paulo Vaz.
Ao Maisfutebol, este filho de portugueses recorda os tempos em que acompanhou o ritmo do heptacampeão. Dia após dias. Ou quase. «Ele não treinava sempre. Mas aparecia regularmente e chegou a fazer muitos golos. Era uma pessoa simples e solidária.»
«Era muito rápido e detestava perder»
Na grelha de partida para cada jogo, Michael Schumacher era sempre dos mais lentos a arrancar. Pelos vistos, o alemão geria bem a condição física e entrava sempre com alguns cuidados. Compreensíveis. Afinal, a Fórmula Um esteve sempre num plano mais elevado.
«Às vezes não aparecia durante algumas semanas, pois tinha compromissos com a Ferrari. Mas depois regressava, curioso e pronto a ajudar. Mostrou sempre um comportamento correcto. Ele não é nada problemático, ao contrário do que possam pensar», assegura Paulo Vaz, actual treinador nos escalões jovens de cinco clubes. «Na Suíça tudo é diferente.»
Mas, já agora, Schumacher joga mesmo alguma coisa? «Era muito rápido. Tinha uma preparação física incrível e detestava perder. A vitória está-lhe no sangue. Para o nosso nível, acho que possuía uma qualidade muito interessante. Para um patamar profissional não, mas num clube como o FC Echichens destacava-se.»
Golos, agora, só nos veteranos
Os anos passaram, Michael Schumacher deixou a Fórmula Um e dedicou-se à família e aos hobbies. Entre eles, o futebol, claro. Na presente temporada, depois de ter decidido aceitar o convite de Ross Brawn e regressar ao Grande Circo, o germânico optou por passar a ajudar o FC Echichens no escalão de veteranos.
A exigência é menor mas, nem assim, Schumacher joga a brincar. «Por acaso agora estou noutro clube e sou adversário dele. Conheço bem a mentalidade do Michael e sei que aparece aos treinos e aos jogos sempre que pode. Só pensa em ganhar, ganhar, ganhar. Foi um excelente colega de equipa.»
Apesar do brilhantismo nas pistas, Schumacher também cometeu os seus erros. Alguns deles, evitáveis. Jacques Villeneuve e Damon Hill que o digam. No futebol, porém, o fair-play é a sua marca registada. «Fomos jogar a vários estádios e nunca o vi metido em sarilhos. Raramente viu um amarelo. O Schumie é muito disciplinado», vinca Paulo Vaz.