O Maccabi Haifa é um clube com condições invejáveis no contexto actual do futebol profissional. No moderno Estádio Qiryat Eliezer, os 15.000 lugares estão quase sempre lotados, já que os resultados desportivos da equipa têm sido extremamente positivos, e os relvados de apoio proporcionam toda a comodidade ao plantel da equipa. Na época passada, o emblema de Haifa alcançou o décimo campeonato nacional da sua história, deixando o Hapoel de Telavive, segundo classificado, a 17 pontos. O presidente Shachar Jacob é um abonado empresário e tem investido fortunas na melhoria do plantel às ordens de Roni Levy, um treinador reputado, que fez carreira ao serviço do Beitar Jerusalém.
Toda esta introdução serve para explicar o porquê da opção de alguns jogadores estrangeiros pelo futebol israelita e, em concreto, pelo Maccabi Haifa. O argentino Roberto Colautti, o chileno Rafael Olarra e os brasileiros Havier Anderson, Gustavo Boccoli e Xavier Dirceu são alguns dos atletas que viajaram meio mundo em busca de uma experiência gratificante num país cujo campeonato é ainda uma incógnita para muitos. Para eles, tudo corria da melhor forma e esta temporada de 2006/07 iniciava-se com a expectativa da participação na Liga dos Campeões. Para isso, a equipa israelita terá que ultrapassar a 3ª pré-eliminatória, onde poderá encontrar o Benfica.
Infelizmente, depressa os sonhos e as ilusões se transformaram em angústia, medo e ansiedade. Com a chegada das danças da morte e dos horrores da guerra, todos sem excepção compreenderam a realidade do país onde trabalham e ponderam um abandono logo após o final do estágio que efectuam na Áustria, até 1 de Agosto. O Maisfutebol escutou Rafael Olarra, compatriota do sportinguista Rodrigo Tello e ex-colega de quarto nos estágios da selecção chilena.
«A direcção tem feito tudo para nos apoiar, mas a verdade é que a qualquer momento um míssil pode atingir a minha casa em Haifa. Como reagir a isso?», questiona-nos, eventualmente à espera de uma resposta convincente que não chegou a surgir. «É certo que desportivamente ainda não fomos afectados, porque desde o início dos combates temos estado quase sempre fora de Israel, mas no dia 1 de Agosto temos que voltar. Não sei o que pensar.»
O medo de um treino que pode ser o último
Quisemos saber qual a mensagem passada pelos colegas de equipa de origem israelita nesta altura. O médio Anderson, um brasileiro que actuou no Vitória da Bahía e no Corinthians, confessa não falar muito sobre questões políticas, mas deixa revelações interessantes. «Todos eles têm tentado tranquilizar-nos, mas nem eles estão tranquilos. Todos têm família e amigos em Haifa e sabem que, a qualquer momento, pode acontecer uma tragédia.»
Olarra e Anderson querem acreditar que os combates e os bombardeamentos acabarão em breve, mas ambos admitem já procurar trabalho noutras paragens. «Quero jogar no Maccabi, mas o meu empresário está a par de tudo o que se passa e está a procurar outro clube para mim», confidencia Anderson, enquanto Olarra, que representou muitos anos o Universidade Católica, no Chile, deixa mais desabafos. «É uma tortura estar a treinar e sentir que posso estar morto no minuto seguinte. Para já, vamos estar mais uns dias aqui na Áustria e depois decidiremos o que fazer.»
Rafael Olarra pergunta-nos ainda como está Rodrigo Tello e pede-nos que enviemos « un fuerte saludo» ao compatriota que «não gosta de jogar na defesa». Até ao reencontro, que pode acontecer «se o Maccabi jogar contra o Benfica», Rafael olha com inveja para o amigo. «Deve estar óptimo em Lisboa. Aí não há problemas pois não?» Há, com certeza que sim, mas diferentes. Por aqui, felizmente, não se avistam mísseis a cruzar os céus.