Em dois anos a jogar na Bulgária, Fábio Espinho conquistou praticamente tudo o que lhe era possível. O Ludogorets é o grande dominador do futebol local e Fábio tornou-se numa figura central do projeto, até sair agora para o Málaga.

Em entrevista ao Maisfutebol, Fábio fala sobre o período vivido em Razgrad e deixa alguns conselhos a Bruno Ribeiro, o novo treinador do clube representado pelo centrocampista entre 2013 e 2015.

Em Espanha será mais fácil ver e falar sobre o Fábio. Na Bulgária sentiu-se esquecido?
«Um pouco, mas a liga búlgara não é tão má como os portugueses pensam. Além do Ludogorets, há outras equipas fortes: o CSKA, o Levski, o Botev Plovdiv e o Litex lutam pelo título. Mas o Ludogorets tem um magnata disposto a continuar a investir e, creio, continuará a dominar nos próximos anos».

Mesmo assim teve de fazer em Sófia os jogos da Champions. Porquê?
«O estádio em Razgrad leva só oito mil pessoas. Infelizmente, para jogar em Sófia tivemos de fazer viagens de cinco horas, em autocarro. Mas como era a primeira vez que uma equipa da Bulgária estava nesta fase, todo o país se uniu em redor do Ludogorets. Enchemos sempre o estádio em Sófia, 42 mil pessoas por jogo. Foi espetacular. Havia adeptos do CSKA e de outros clubes a puxar por nós. Em Portugal uma coisa destas era impossível. Do hotel ao estádio havia um cordão humano, são coisas inexplicáveis».

Como era a sua vida em Razgrad?
«Estamos a falar de uma cidade pequena, com 50 mil habitantes e no interior do país. Faltava-me o mar, o mar que eu amo. Mesmo assim, a uma hora e meia ficava Varna, uma cidade costeira muito bonita. E Bucareste, capital da vizinha Roménia, ficava a duas horas, de carro. Mais perto do que Sófia. Fazia uma vida pacata, casa e treino. Tive a companhia da minha mulher e da minha filha».

O clima e a alimentação eram obstáculos duros?
«O inverno é frio, rigoroso, mas o campeonato parava entre dezembro e fevereiro. Vínhamos embora, evitávamos o pior período. Sobre a alimentação… em casa comia bem, comida portuguesa com bons ingredientes. E nos restaurantes a comida búlgara não era má».

O novo treinador do Ludogorets é o Bruno Ribeiro. Quer deixar-lhe algum conselho?
«O que eu posso dizer ao Bruno é simples: vai encontrar um clube ganhador, um clube habituado a dominar o futebol búlgaro e a conquistar troféus. Ou seja, no Ludogorets todos os jogos são para ganhar. Os profissionais têm excelentes condições para trabalhar, de luxo. O centro de estágio, o posto médico, o estádio, tudo é novo e o Bruno terá tudo isto ao dispor. Acredito que vai ter êxito».

A mentalidade búlgara no futebol é muito diferente da portuguesa?
«Um estrangeiro, seja em que país for, tem de mostrar mais do que os jogadores nacionais. Isso acontece em qualquer país, seja em Portugal ou na Bulgária. Se não for uma mais-valia não faz sentido estar noutro país. Por isso não posso dizer que a mentalidade búlgara é muito diferente. Talvez sejam um pouco mais frios, é uma característica desses povos do leste europeu, mas nunca tive nenhum problema com ninguém e o ambiente no balneário era ótimo. Havia 13 ou 14 nacionalidades e as coisas corriam bem».