Qual é a primeira imagem que nos vem à cabeça quando pensamos na seleção dos Camarões? 

1. A dança tribal de Roger Milla a celebrar golos na bandeirola de canto
2. Roger Milla a roubar a bola ao pobre do Higuita e a marcar à Colômbia
3. O jogo eterno contra Inglaterra no Itália-90

As respostas não andarão muito longe destas hipóteses, mas há um português determinado a adicionar uma alínea nesta contrato com a memória: António Conceição, português da freguesia de Maximinos, 58 anos. 

'Toni', como era conhecido nos tempos de lateral direito do Sp. Braga - e mais tarde da Seleção Nacional e do FC Porto - é o selecionador nacional desta potência africana desde setembro. 

O Maisfutebol convida António Conceição para o balanço destes primeiros seis meses e a olhar para o passado e para o seu percurso como lateral direito de muito bom nível nos anos 80.


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Maisfutebol – Os mais novos não sabem, mas o Toni foi um dos bons laterais direitos portugueses nos anos 80.
António Conceição – Fui internacional A e cheguei a um dos grandes do nosso país, o FC Porto. Lamentavelmente, nunca devolvi aquilo que o FC Porto me deu. Tive três lesões gravíssimas e acabei a carreira ainda antes de fazer 30 anos.

MF – Que lesões foram essas?
AC – Uma rotura nos ligamentos do joelho esquerdo, uma fratura do perónio e uma fratura da tíbia, todas sofridas em treinos. Quando fiz a fratura a da tíbia, a última, decidi logo que estava na altura de acabar. Preferi acabar a carreira no FC Porto para não ter de parar de jogar já condenado a uma cadeira de rodas. Tenho muita pena, adorei estar no FC Porto e só lamento nunca ter correspondido à aposta que fizeram em mim.

MF – O seu concorrente direto era o João Pinto.
AC – Gente muito boa, grande capitão. Sempre tive uma relação ótima com ele.

MF – Quantos anos esteve no FC Porto?
AC – Três anos. Dois com o treinador Artur Jorge e um com o Carlos Alberto Silva. Fiz só um jogo oficial [13 de maio de 1990], quando entrei num jogo em Guimarães. Serviu para ser campeão nacional, um grande orgulho.

MF – Apesar dessas lesões, todas graves, tem memórias felizes de dragão ao peito?
AC – Sempre fui bem tratado e ganhei um título nacional. Nunca me esquecerei do dia em que soube que ia ser jogador do FC Porto, foi uma enorme alegria. O Sp. Braga não me queria prolongar o contrato, porque tinha fraturado um dedo, e informei o clube que ia começar a tratar da minha vida. Isto ainda em outubro de 88. Curiosamente, 20 dias depois, recebi o contacto do sr. Domingos Pereira, funcionário do FC Porto. Fui a uma reunião com o sr. Reinaldo Teles e o advogado Guilherme Aguiar para fechar tudo.

MF – Já era internacional A nessa altura.
AC – Exatamente. Atravessava o melhor momento da minha carreira, já com maturidade e a jogar sempre no Sp. Braga. Tive a oportunidade de fazer 90 minutos contra a Suécia. O selecionador era o senhor Juca.

MF – Estreou-se na I Divisão Nacional aos 19 anos.
AC – Fiz toda a formação no Sp. Braga e no primeiro ano de sénior ainda fiz dois jogos. Acalentei normais esperanças para a época seguinte, mas acabei por ser emprestado ao Vizela na III Divisão Nacional. Gostava muito do Vizela, mas lá eles treinavam à noite e eu era um profissional que só treinava à noite (risos). Não podia ser. Por isso ainda passei pelo extinto Riopele, antes de voltar ao Vizela e subir com o clube da II à I Divisão Nacional. Foi já na I Divisão que o Sp. Braga me veio recuperar