Quase a completar o primeiro ano como diretor desportivo do PAOK, José Boto concede uma entrevista ao Maisfutebol. Aproveitando uma curta viagem a Portugal, o dirigente português faz um balanço do trabalho em Salónica, fala dos vários portugueses que jogam no clube e olha também para a Liga portuguesa.

Neste excerto aqui apresentado, Boto fala da relação com o treinador, analisa os seis portugueses do PAOK e aborda a possibilidade de voltar ao mercado luso.

 

MF: Quando chegou já o treinador era o Razvan Lucescu, alguém com história anterior no clube. Foi fácil a adaptação entre ambos?

JB: É fácil trabalhar com ele. Para além de um excelente treinador, como tem mostrado por onde tem passado, é uma excelente pessoa. Muito afável. Alguém com quem se pode falar abertamente sobre as questões da equipa. Alguém com uma ideia de futebol até um pouco avançada para o futebol na Grécia. É extremamente fácil trabalhar com ele.

MF: No Shakhtar teve treinadores portugueses, mas jogadores não, até porque o clube baseia muito a sua prospeção no mercado brasileiro. No PAOK era inevitável isso acontecer, por ser português, e por já existir um histórico no clube?

JB: O jogador português é dos melhores da Europa. No Shakhtar não existia essa cultura, era muito o jogador brasileiro. Isso fazia até com que fosse muito fácil a penetração no mercado brasileiro. Aqui, quando cheguei, já estavam dois jogadores portugueses [ndr. Vieirinha e Nélson Oliveira]. Olhámos para o mercado português, que conheço bem, e tentámos aproveitar algumas oportunidades de negócio, e alguns têm acrescentado muito à equipa. Outros têm sentido mais dificuldade em impor-se, mas contribuem com o seu trabalho, para que os outros evoluam. Uma equipa não são só 11 jogadores. Genericamente, estamos todos contentes.

MF: Filipe Soares, Tiago Dantas, Rafa Soares e André Ricardo chegaram já consigo. É justo dizer que o Tiago tem sido o que conseguiu maior influência na equipa, pelo menos recentemente?

JB: O Tiago foi sempre titular. E um jogador muito inteligente, com uma cultura de jogo fabulosa. Encaixa muito bem nas ideias do treinador, um jogo mais de posse e controlo. Tem-se imposto e tem sido muitas vezes considerado o MVP dos jogos, tanto pelos adeptos como pela imprensa. É um dos jogadores em alta na Liga grega, até por ser novidade, comparativamente com o James Rodríguez, por exemplo, que já era um jogador credenciado. O Tiago não era muito conhecido. Pegou de estaca.

MF: É um jovem que já conhecia do Benfica e que já apreciava bastante. Sentia que estava a ser mal aproveitado?

JB: O Tiago era um jogador que já tinha tentado recrutar. Tentámos que fosse para o Shakhtar. Enquadrava no perfil do Shakhtar. Na altura apareceu o Bayern e não foi possível. Achei que em Portugal não estava a ser utilizado como devia. No Tondela não era titular indiscutível, por exemplo. A aposta nele foi fácil, chegámos a acordo com o Benfica para o empréstimo, e penso que é a sua melhor época.

MF: O Nélson Oliveira já estava no PAOK. O José já o conhecia do Benfica. Que Nélson reencontrou?

JB: Encontrei um Nélson lesionado (risos). Esteve praticamente um ano parado. Falo muito com ele. É alguém que gosta muito de futebol, e que sabe muito de futebol. Neste momento está a voltar à sua forma física, e está a ser um jogador muito importante. Neste jogo com o Olympiakos foi decisivo, na forma de segurar a bola, criar espaços. É um Nélson mais maduro, não tão individualista, como era no Benfica, em que muitas vezes jogava sozinho, ou como naquele famoso Mundial de sub-20. Está um jogador mais de equipa, com muita qualidade a jogar de costas.

MF: É um jogador que não pode ser analisado pelo número de golos marcados?

JB: Aquilo que ele contribui para a equipa…há avançados assim. É óbvio que os adeptos e até os jornalistas olham muito para os golos. Mas muitas vezes um avançado está lá para fazer outro tipo de trabalho. Vejo um Nélson a crescer, a voltar à sua forma física. A ter confiança nele próprio, depois de uma lesão grave no joelho. A crescer muito. Os golos vão começar a aparecer.

MF: E como tem sido trabalhar com o capitão Vieirinha?

JB: O André é um ídolo no PAOK. Alguém que já fala perfeitamente grego, por exemplo. Tenho uma relação muito direta com ele, por ser o capitão. Como pessoa também é excelente. Como jogador, apesar da idade, contribui para dar mais qualidade à equipa. Fisicamente já não consegue dar o contributo mais elevado, o que é natural, aos 37 anos, mas em todos os aspetos é alguém que vejo muito positivamente, e com quem me relaciono de uma forma muito boa.

MF: Podemos esperar mais portugueses no PAOK, em breve?

JB: O que se pode esperar é que alguns que ainda não estão 100 por cento adaptados, ou que estão tapados de momento, venham a ter um trabalho mais visível, com mais participação nos jogos. O trabalho que têm feito é excelente. O Rafa Soares começou bem, mas depois esteve um mês parado por lesão, e ainda não conseguiu atingir a plenitude no regresso. O Filipe Soares tem aparições muito boas, e depois alguns desaparecimentos, o que é normal para um jovem. E tem ali uma concorrência muito feroz no meio-campo, incluindo o Tiago Dantas. O André Ricardo vem de muito tempo sem jogar. Todos reconhecemos um potencial enorme, mas precisa fazer o seu caminho, a jogar na equipa B, mas treinando sempre connosco. Mais cedo ou mais tarde vai aparecer.