Seis meses depois de ter trocado o FC Porto pelo Bursaspor, Josué voltou a ser um jogador feliz. Titularíssimo no emblema turco, o médio de 24 anos já fez cinco golos e conquistou os exigentes adeptos da equipa.

Numa longa entrevista ao Maisfutebol, Josué faz um retrato cuidado da sua segunda experiência no estrangeiro, mas também fala sem inibição sobre a temporada no FC Porto.

A saída de Paulo Fonseca, o momento do adeus ao clube, o contato breve com Julen Lopetegui, tudo abordado com a frontalidade que lhe é característica.

O antigo bad boy fala com maturidade, equilíbrio e confirma ser um homem mudado. É um Josué realizado aquele que nos atende o telefone na cidade de Bursa.
   

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Que balanço faz destes seis meses na Turquia?
«A experiência tem sido surpreendente. Aprendo todos os dias, pessoal e profissionalmente. Estou a conseguir jogar regularmente e já fiz cinco golos, três no campeonato e dois na taça. Sinto-me perfeitamente adaptado, todos me tratam bem».

Quando optou pelo Bursaspor tinha alguma ideia do que ia encontrar?
«Procurei informação na internet e falei com vários jogadores que já estavam na Turquia. Disseram-me que era um bom clube, com muitos adeptos e o estádio sempre cheio nos jogos. Só posso dizer bem do clube e do campeonato. Repito, aqui sou muito bem tratado».

Sentiu a necessidade de voltar a ser importante, após uma época difícil no FC Porto?

«Sim, claramente. O ano passado o clube teve uma época má, mas fiz muitos jogos, golos e assistências. Não quiseram que eu continuasse e a minha saída foi o melhor para todos. Para mim isso é, hoje em dia, claro».

No Bursaspor tem outro ex-jogador do FC Porto, o Belluschi, como colega. É o seu principal apoio?
«Quando cheguei, o Belluschi e o Renato Civelli, outro argentino, foram os colegas que mais me ajudaram. Eles e o Fernandão, um avançado brasileiro. Dou-me bem com toda a gente, mas esses têm sido muito importantes para mim. Às vezes eu e o Belluschi falamos dos resultados do Porto, mas nada de especial».

Consegue dizer-nos qual foi a melhor exibição que fez ao serviço do Bursaspor?
«A primeira parte contra o Besiktas [derrota por 0-1] foi especial».

E o melhor golo?
«Este último contra o Akhisar foi bom. E marquei outro bom na taça, contra o Samsunspor».

Confirma que não falta apoio à equipa, dentro e fora dos relvados?
«É das coisas que mais gosto. Em qualquer estádio há sempre adeptos nossos. Seja gente mais jovem e que está a estudar fora, seja gente mais velha, temos sempre muitos adeptos».

O Bursaspor foi campeão há quatro anos. Quais são agora os objetivos do clube?
«Ninguém esperava esse título. Foi uma surpresa. O ano passado a equipa ficou no oitavo lugar e este ano queremos fazer uma das melhores épocas de sempre. Estamos no quinto lugar e podemos ficar nos primeiros quatro até ao fim».

Que retrato faz da liga turca?
«Há três clubes historicamente superiores (Galatasaray, Fenerbahce e Besiktas), mas a jogar à bola não os considero melhores. Podem ter melhores plantéis, mais adeptos, é verdade, mas dentro do campo os jogos são atípicos. Há muitos espaços, vários contra-ataques, taticamente ainda se nota algumas limitações».

É uma liga boa para as suas características?
«Sinto-me como peixe na água. É um campeonato ótimo para mim».

Que retrato faz da cidade de Bursa?
«Não tinha a noção que a Turquia é tão grande. Bursa tem mais de um milhão de habitantes e não nos falta nada. Há parques onde posso brincar com a minha filha, espaços comerciais, uma das maiores estâncias de esqui do país e existe muita indústria».

A comunicação com treinador e colegas é feita em inglês ou encontrou dificuldades nesse capítulo?
«Temos um tradutor. O treinador fala com ele e depois a mensagem passa para nós. Quando parte de nós é exatamente o inverso. Dentro do campo todos nos entendemos. No dia a dia tento falar em inglês com toda a gente».

E como é em Bursa esse dia a dia? Passa despercebido na rua ou os adeptos já andam atrás de si?
«As pessoas pedem-me para tirar fotos, gravam vídeos quando eu passo na rua, isso para eles é normal».

No que diz respeito à alimentação e costumes, encontrou hábitos estranhos?
«A alimentação é o maior problema. A comida é muito picante, principalmente as sopas. Ao pequeno-almoço comem azeitonas, pepino, tomate e eu não consigo, não estou habituado. Isso não consigo comer logo de manhã».

Aventura-se nos restaurantes da cidade ou prefere jantar por casa?
«Há bons restaurantes de sushi. E quem gosta de kebab está bem servido. Mas, honestamente, fora de casa só arrisco no sushi, vou várias vezes com a minha família».