O treinador português Rui Vitória assumiu que vê o Brasil como um país no qual pode continuar a carreira, depois de ter terminado a ligação com o Al Nassr, da Arábia Saudita, no final de 2020.

«Cada vez mais vejo o Brasil como uma possibilidade muito permanente, porque vivemos mais e mais o futebol brasileiro. Temos os nossos treinadores portugueses lá, com conhecimento cada vez mais aprofundado de jogadores e de equipas. Sinto isso como algo desafiante, porque é uma virtude dos portugueses: gostamos desses desafios», começou por dizer, em declarações ao UOL Esporte, publicadas esta quinta-feira.

«Na minha convicção, é um país difícil para ser treinador, por tudo aquilo que sabemos do passado recente, mas ao mesmo tempo é uma ideia muito aliciante. Perdão a redundância: seria um desafio muito interessante», reconheceu, admitindo que já teve propostas.

«Recebi, sim, coisas concretas. O que sinto, por conversas, por telefonemas, é que o Brasil vai ser um destino que eu… é possível que aconteça. Há sempre conversas nesse sentido. De forma objetiva ou não, tem sido algo recorrente nos últimos meses», disse.

Rui Vitória falou ainda de Gabriel Barbosa, avançado que treinou na fugaz passagem deste pelo Benfica, em 2017/2018, explicando o que não correu bem com aquele que é, agora, um dos protagonistas do Flamengo.

«O Gabigol, quando veio, veio emprestado do Inter de Milão, onde estava sem jogar. Quando chegou, nós tínhamos o Jonas, o Raúl Jiménez, o Seferovic… e o Gabigol apareceu com muito menos idade [21 anos] e altas expectativas. É um jogador com enorme potencial, precisava de um contexto muito favorável para poder mostrar qualidade e exprimir todo o seu futebol, algo que acabou por acontecer no Flamengo. Os atacantes, muitas vezes, precisam de mais um ano em cima, de experiência. A maturidade é importante. A culpa não foi dele. Não foi minha. Foi o contexto», apontou, falando ainda do sucesso de Abel no Palmeiras.

«O período no Brasil fez muito bem ao Abel, por permanentes intervenções na imprensa e por vivenciar desafios difíceis, como a Libertadores e a Taça do Brasil. É evidente que, em quatro meses e a entrar a meio de uma temporada, nós muitas vezes não preparamos as coisas como queremos, porque o contexto pode não permitir que a ideia de jogo seja colocada em prática. Ele percebeu isso tudo, olhou e disse: «O que é que a equipa vai precisar? O que preciso de fazer aqui? Interpretou bem o contexto. Ganhou rapidamente e acho que o futuro pode ser mais risonho», frisou.

O técnico luso de 50 anos voltou a falar do Benfica, desta feita da atual época das águias, aquém face ao investimento em reforços no plantel. Para Rui Vitória, ex-técnico do clube, dar a volta por cima é possível porque há «ótimos jogadores».

«As contratações foram poderosas, há ali muita qualidade. Estamos a falar de jogadores de seleção, de primeira linha internacional. Há um conjunto de fatores que desperta menos confiança, foi tudo com muita pressa. Teve a eliminação na Liga dos Campeões, talvez o desenrolar da temporada, não somente por causa da pandemia. A qualidade está lá, a qualquer momento pode e vai funcionar. Digo que no futebol nem tudo o que parece é. Olhando de fora, acho que é mais um conjunto de coisas, expectativas elevadíssimas, o que gerou uma tranquilidade aos jogadores: “somos a maior equipa do campeonato português, contratamos como ninguém, estamos preparados”. Mas as coisas começaram a não funcionar e os aspetos negativos aumentaram», respondeu.