Uma tarde que por certo não esquecerá. Um instante ainda mais fantástico que a primeira vez em que vestiu a camisola da Reggina, numa Serie A italiana que apenas visitara, anos antes, em sonhos de menino. Mamede marcou no campo do Verona e ajudou a sua equipa a renovar as esperanças na permanência. 

A Reggina venceu por 3-0, sem margem para dúvidas. Um triunfo inequívoco, talvez até pouco condizente com as exibições nervosas das últimas semanas. Parecia que a equipa onde actuam igualmente Caneira e Paulo Costa estava a lutar por metas mais significativas, tal a forma irrepreensível com controlou as operações. «Foi muito bom», lembra Mamede, ainda antes de agradecer os parabéns que lhe dirigiam da outra extremidade do contacto telefónico. «São três pontos importantes para o nosso campeonato. Agora vamos ter jogos com adversários directos nesta luta e se, conseguirmos vencer o Nápoles e o Vicenza nas próximas duas jornadas, podemos mesmo acreditar que é possível». 

O seu remate certeiro, porém, teria de forçosamente de ser o tema principal da conversa. Não é qualquer jogador que pode orgulhar-se de marcar na Série A, ainda para mais sendo um jogador com características defensivas, obviamente preocupado com tarefas bem diferentes das dos companheiros que actuam metros adiante. «Estou muito contente», confessa, prontificando-se a explicar toda a jogada que lhe permitiu erguer os braços bem alto. «Foi um contra-ataque», conta, «lançaram o Paulo Costa na esquerda, eu subi até à área contrária e consegui chegar primeiro ao cruzamento que os defesas». Percebe-se, pelo relato, que terá sido um lance bem desenhado. «Acho que foi bonito», confirma com uma gargalhada. 

A oportunidade, festiva, justificava um balanço breve mas abrangente. Está a ser uma época positiva? Mamede crê que sim. «Estou satisfeito», assegura, mesmo que o rendimento do colectivo possa não ser o mais regular. «Qualquer jogador quer jogar em Itália e eu já cá cheguei, por isso só posso estar feliz». Se a Reggina cair na Série B, contudo, o jogador poderá ser forçado a ponderar o futuro. «Tenho mais um ano de contrato. Vamos ver o que acontece. Para já, é prematuro falar daquilo que me vai acontecer na próxima época». Os cuidados no discurso, ainda assim, não o inibem de formular um desejo. «Gostaria de voltar a Portugal se me dessem uma boa oportunidade», assume. 

«Teria muito orgulho em ir à Selecção» 

Paulo Costa e Caneira, companheiros mais jovens, são presenças assíduas nas esperanças de Portugal que deixam Mamede a imaginar como seria se um dia lhe consentissem o prazer de representar a Selecção. «Teria muito orgulho», garante. «Se isso me acontecer, vou empenhar-me ao máximo para não desiudir ninguém». 

Aos 27 anos, este é apenas mais um desígnio pessoal que, apesar de desejado, não lhe altera a maneira de ser. «Talvez haja jogadores da mesma posição em melhor forma», admite, mesmo que a condição de titular na sua equipa lhe pareça suficiente para alimentar o sonho. «Apenas falhei os primeiros nove jogos porque estava lesionado. Depois não voltei a sair do onze titular». Resta-lhe, à falta de mais argumentos, manter a atitude. «Talvez achem que ainda não é oportuno e eu aceito essa opinião. Resta-me apenas continuar a trabalhar da mesma forma para que um dia seja possível», conclui.