Ramón Calderón, presidente do Real Madrid entre 2006 e 2009, revelou que tentou resgatar Cristiano Ronaldo ao Manchester United no seu mandato, mas as dificuldades na altura acabaram por tornar essa realidade possível apenas depois da sua saída dos merengues e já com Florentino Pérez na presidência.

«Sabe-se que foi uma operação realizada entre 2007 e 2008. Eu assinei com ele. Foi uma negociação difícil com o Manchester United, porque obviamente eles não queriam perder o jogador, mas ele foi muito claro sobre o compromisso que assumiu comigo. Assumiu isso desde o primeiro momento. Queria vir para o Real Madrid. Essa oportunidade que eu lhe ofereci foi muito importante, e ele aproveitou isso», revelou o ex-dirigente do Real em entrevista ao Al Mayadeen, canal de televisão sediado em Beirute, no Líbano.

Para Calderón a vontade do jogador era sair, mas a grande dificuldade em garantir a contratação de Cristiano Ronaldo para os blancos deveu-se à atitude de Sir Alex Ferguson: «De facto [Alex] Ferguson não queria que o jogador fosse embora, porque ele realmente não gosta do Real Madrid, porque era um grande rival. Apesar de o Manchester United ter ganho muitos títulos com ele, o Real Madrid ganhou muitos mais. E [Ferguson] ofereceu Cristiano Ronaldo ao Barcelona.»

O ex-presidente do Real Madrid foi mais longe ao revelar os pormenores dessa vontade de Ferguson em desviar CR7 do Bernabéu.

«O Barcelona estava obviamente encantado com essa oportunidade, mas Cristiano Ronaldo foi muito claro. Ele disse que tinha assinado um compromisso com Ramón Calderón para ir para o Real Madrid e não iria mudar isso. Assinámos uma cláusula segundo a qual qualquer uma das partes que violasse esse compromisso teria de pagar 30 milhões de euros à outra. Esse foi o problema que produziu um confronto ou, digamos, uma aversão ao jogador por parte do atual presidente, Florentino Pérez» disse Calderón que nunca compreendeu o porquê do atual líder do Real Madrid não ter gostado de saber que tinha sido ele a garantir as bases para CR7 reforçar o clube.

«Não gostou quando viu o contrato que não era dele, porque considerou que era um jogador que não valia esse dinheiro, 94 milhões de euros, que foi o que eu concordei com o Manchester United. Por isso, ele [Florentino Pérez] entendeu que, por esse preço, podia contratar três ou quatro jogadores melhore. Isso era conhecido pelo jogador que reagiu de maneira violenta e disse que, se fosse esse o caso, renunciaria ao Real Madrid e aos 30 milhões de euros que eu tinha de pagar caso o Real Madrid não o quisesse. Felizmente, Florentino Pérez estava convencido de que era louco desistir dos melhores ou de um dos dois melhores do mundo, juntamente com Messi, e o contrato foi formalizado, em termos federativos, porque tudo já estava assinado: os compromissos, o salário do jogador, tudo o que é necessário para que o contrato fosse oficial», disse Ramón Calderón, com Cristiano Ronaldo a ser apresentado com pompa e circunstância no Estádio Santiago Bernabéu a 9 de junho de 2009, para delírio dos 80 mil adeptos nas bancadas. 

Para o advogado o tempo acabou por lhe dar razão na aposta no jogador português, voltando às críticas a Pérez. «Passou nove anos a marcar golos, a conquistar títulos. A verdade é que tornou-se uma lenda e teria sido uma tolice prescindir dele. E é verdade que o jogador quando soube que o presidente [Florentino Pérez] queria trazer Neymar e estava disposto a pagar 300 milhões de euros pela sua transferência mais 50 milhões, enquanto Cristiano ganhou 25, pediu um aumento, para esses 50 milhões. Um aumento que o presidente negou. Nessa discussão ou negociação, Florentino disse-lhe que se ele trouxesse 100 milhões de euros, podia sair, pois pensava que, aos 32 anos de idade, ninguém iria pagar 100 milhões de euros pela transferência. Só que em janeiro ele veio com um cheque e já não podia mais dizer que não», concluiu, aludindo à contratação de CR7 pela Juventus em julho de 2018.

Em tempo de revelações o ex-presidente do Real Madrid desvalorizou ainda o ordenado que ficara acordado com Cristiano Ronaldo, na altura com 24 anos, para a sua vinda para Madrid: «Prefiro não falar em dinheiro, porque a quantia que estava a ganhar naquele momento era ridícula tendo em conta os salários de agora, embora eu pense que seriam cerca de oito milhões de euros. Mas, como digo, nas minhas negociações com Ronaldo e o seu representante, o dinheiro não era a coisa mais importante, nunca era a coisa mais importante», afirmou Ramón Calderón.