Dia 1 de junho. Jorge Jesus é confirmado como novo treinador do Flamengo.

Chega ao mengão para resgatar a glória na Libertadores 38 anos depois, sim, mas também para dar o Brasileirão que fugia ao clube há dez anos.

Pela frente, no entanto, uma montanha para escalar.

Jesus chegou ao Fla quando estavam decorridas nove jornadas da primeira divisão brasileira e o cenário não era famoso: terceiro lugar, já a oito pontos do então líder Palmeiras, que tinha empatado apenas um dos oito jogos disputados. De resto, só vitórias.

Para o Mestre da Tática, porém, «isso são peanuts».

E Jesus não demorou muito tempo a mostrar ao que ia. Logo no primeiro jogo para o campeonato, o Flamengo recebeu e goleou o Goiás, por 6-1, e reduziu a diferença para o Palmeiras, que empatou no terreno do São Paulo.

Ora recorde o resumo da primeira vitória de Jesus no Brasileirão:

A máquina, no entanto, demorou a engrenar. Na ronda seguinte, empate no terreno do Corinthians (num pré-jogo em que os adeptos «apertaram» com a equipa) e na jornada 13 o técnico português caiu com estrondo no terreno do Bahia, com uma derrota por 3-0 – depois de ter vencido dias antes o Botafogo, por 3-2.

No entretanto, o Palmeiras também não fez melhor e somou uma derrota e dois empates. Aproveitou o Santos, que assumiu a liderança e «cavou» uma diferença de oito pontos para o Fla.

Depois, Grémio, Vasco da Gama, Ceará, Palmeiras, Avaí, Santos, Cruzeiro e Internacional. Tudo adversários do Flamengo, tudo vitórias para o Flamengo. Jesus somou oito triunfos consecutivos no Brasileirão e passou de terceiro para primeiro, com três pontos de vantagem sobre o segundo. À 17.ª jornada (vitória folgada sobre o rival Palmeiras), o mengão assumiu de forma partilhada a liderança da tabela classificativa e na ronda seguinte descolou da formação do Santos e nunca mais largou o topo.

Recorde a vitória expressiva do Flamengo frente ao Palmeiras:

Um percalço com o São Paulo na ronda 22 (empate em casa por 0-0) e depois mais seis triunfos consecutivos para guardar o título no bolso a dez jornadas do fim do campeonato – vantagem de dez pontos para o segundo, o Palmeiras –, isto enquanto cilindrava o Grémio nas «meias» da Libertadores.

O empate polémico com o Goiás ainda meteu um ligeiro travão na euforia da nação rubro-negra, mas depois mais três triunfos seguidos – Corinthians, Botafogo e Bahia – escreveram o inevitável: Jesus ia mesmo tornar-se no primeiro europeu a vencer o primeiro escalão do futebol brasileiro.

Com a decisão da Libertadores frente ao River Plate à porta, o Flamengo antecipou o clássico ante o Vasco da Gama da 34.ª jornada, mas vacilou: num jogo cheio de emoção, o Fla empatou a quatro bolas e desperdiçou a hipótese de se sagrar campeão antes da viagem para Lima para a final com o River.

Recorde o resumo do jogaço entre Flamengo e Vasco da Gama, eleito pelos adeptos o melhor do Brasileirão:

Não vacilou, no entanto, três dias depois frente ao Grémio – mesmo com Jesus a rodar o plantel – e venceu por 1-0. Em Bahia, o Palmeiras empatou a uma bola e ficou com a decisão nas mãos: se não ganhasse na ronda seguinte, precisamente frente ao Grémio, o Flamengo festejava já a conquista do Brasileirão, um dia após a final da Libertadores.

O resto, como se diz, é história.

Jorge Jesus tocou em oito pontos de desvantagem e, em cerca de meio ano, transformou-os em 13 (!) de vantagem. A montanha era alta, mas o técnico português, bem ao seu estilo, atingiu o cume a quatro jornadas do fim e o Fla voltou a vencer o campeonato dez anos depois. Tornou o difícil no fácil e tocou o céu por duas vezes em menos de 24 horas, com a conquista do Brasileirão e da Libertadores.

Segue-se agora o Mundial de Clubes, em dezembro, mas primeiro há uma caminhada no campeonato para terminar, e com mais recordes para bater.

A estatísticas de Jorge Jesus como treinador do Flamengo no Brasileirão (até à data, 34.ª jornada):

Jogos: 25

Vitórias: 20

Empates: 4

Derrotas: 1

% de vitórias: 80

Golos marcados: 58

Golos sofridos: 21

Diferença de golos: 37