Abel Ferreira está em destaque na capa da revista masculina GQ Brasil, vestido com fato e gravata, com óculos escuros, numa entrevista em que fala do «estilo» e das «estratégias» que utilizou no Palmeiras que acabaram por cativar o futebol brasileiro. Uma entrevista em que o treinador português dá conta da forma como se adaptou ao Brasil e em que explica os motivos que o levaram a optar por viver na Academia de Futebol, na Barra Funda.

A poucos dias de disputar o terceiro título à frente do Palmeiras, Abel Ferreira deu conta como está a ser a sua vida no Brasil, longe da mulher e das filhas. «Quando desembarquei no Brasil, avaliei que ganharia tudo morando no Centro de Treinamento do Palmeiras: conhecimento profundo do clube, além de ter companhia o tempo todo. Às vezes, por volta das 23h30, dou uma volta com os seguranças do clube, que fazem a ronda pelo CT, para relaxar um bocadinho, ver as estrelas quando há. Ou seja, não me ia faltar nada. Ter o quarto limpo e a cama feita todos os dias: o que mais poderia querer?», começa por contar.

Abel conta ainda que, nos primeiros dias, ficou num hotel, mas depois optou por ficar no centro de treinos, face à cadência dos jogos do «verdão». «Modéstia à parte, eu cozinho, mas não sou bom cozinheiro. Nos primeiros dias, ficamos num hotel, que seria pago pelo clube, mas disse que não seria preciso. Disse que eu e meus adjuntos passaríamos a viver no CT. As pessoas dizem que sou maluco. Maluco? De dois em dois dias estamos a competir. E outra, se eu chegar do CT às duas da manhã, vou fazer o que em casa? Não vai estar lá ninguém», acrescentou.

Na mesma entrevista, Abe Ferreira conta o que faz para além do futebol e acaba por confessar a atração recente pela Bossa Nova que até já foi útil no balneário. «É gostosa, parece uma mistura de jazz com samba. E presto atenção à letra da música. Aliás, usei esse exemplo recentemente. Falei para meus jogadores que existem músicos brasileiros que fazem uma música de sucesso e depois desaparecem. Disse que não queria ser esse tipo, que ganha um título e depois desaparece. Não queria que os jogadores ficassem com essa sensação depois do título da Libertadores. E isso não aconteceu: ganhamos a Copa do Brasil de forma categórica. Para mim, é desta forma que surgem ideias, exercícios: quando não estou pensando em nada. Tenho sempre um bloco de papel e uma caneta à mão. Só no tempo de Palmeiras, já preenchi uns três blocos de notas», revela.

O treinador de 42 anos desmultiplica-se depois em elogios aos seus jogadores e ao staff que o acompanha no Palmeiras. «Li em algum lugar que nós gostamos que as pessoas nos elogiem. Digo sempre aos meus jogadores: “Você joga pra c…”. Mas também gosto de ouvir um Veiga, um Felipe Melo, um Weverton passando por mim e dizendo: “Tu treina pra c…”. Às vezes nós queremos que os outros digam o que nós não dizemos», comentou ainda.

Depois da derrota, no passado domingo, diante do Flamengo, na Supercopa brasileira, Abel Ferreira prepara agora o segundo embate com os argentinos do Defensa y Justicia, da segunda mão da Recopa Sul-Americana, naquele que poderá ser o seu terceiro título no Brasil, depois da Taça Libertadores e da Copa do Brasil.