Miguel Cardoso apontou nesta terça-feira o caminho que pretende trilhar no Celta de Vigo, clube onde foi confirmado no início da semana.

«O Celta tem uma identidade própria. Há que construir o mais rápido possível uma equipa que possa ser afirmativa, controladora e que seja capaz de se afirmar em campo, que seja agressiva, que tenha a bola e que seja controladora. Sabemos o que queremos e onde queremos chegar, mas o processo será gradual», destacou o treinador português na conferência de imprensa de apresentação como novo técnico da equipa espanhola.

«Quem é o Miguel? Miguel é um treinador que gosta de um futebol de controlo. Que gosta de controlar, o mais possível, os jogos com bola. (…) Que a equipa seja capaz de manter uma organização defensiva muito forte de jogar junta, de pressionar alto. Sobretudo que seja muito competitiva e tenha uma mentalidade forte em todos os momentos. Esse é um ideal, é uma intenção», apontou.

Miguel Cardoso desvalorizou o sistema estratégico no qual pretende que o Celta jogue daqui para a frente. «O sistema não é o mais importante no futebol. É um momento estático. É um jogo de xadrez e o futebol não é um jogo de xadrez: é dinâmico. O importante são as relações que os jogadores são capazes de interpretar e que tu és capaz de transmitir para que o sistema ganhe uma dinâmica. A forma como vamos distribuir os jogadores em campo só dá um 4-2-3-1 no momento em que tiras uma foto quando começa o jogo. Depois há coisas completamente diferentes. Não vou dizer que vamos jogar sempre dessa forma, mas vamos jogar às vezes.»

Durante uma conferência de imprensa na qual falou em três idiomas – castelhano, português e inglês –, e protagonizou até uma gaffe, o treinador português foi questionado a propósito de eventuais contactos com os dirigentes do Celta ainda durante o verão, altura em que rumou aos franceses do Nantes. «Todos os clubes de alto nível, como é o caso do Celta, fazem processos de recrutamento de treinadores com profundidade. É normal que os treinadores modernos estejam abertos para falar com os clubes. E os clubes a conhecer os projetos desportivos dos treinadores. Não vou dizer que não falámos: falámos nós, como falaram outras pessoas, mas o mais importante é que hoje estou aqui com uma ilusão muito grande. O que tenho em mente é pensar no que vou fazer daqui a umas horas no primeiro treino que já tenho planeado», afirmou.

Miguel Cardoso garantiu conhecer bem a realidade da equipa e que não pretende romper unilateralmente com as ideias do antigo treinador. Ainda assim, deixou um desejo: «O que quero é que em duas, três semanas ou um mês, todos os jogadores interpretem o que se passa no campo da mesma forma e ao mesmo tempo. Que compreendam a ideia de jogo. Essa ideia será o tabuleiro onde será jogado o jogo. O treinador não deve tirar a liberdade dos jogadores em expressarem-se livremente. Para chegar a algum lado, há que saber o caminho. Depois, podes parar em algum lado ou beber um café. Mas essa é a criatividade individual do jogador. O que quero é que a equipa seja regulada», disse sem traçar metas pontuais. «Não é importante apontarmos a posicionamentos na tabela. Importante é apontarmos a um crescimento sustentado da equipa.»

Durante a conferência de imprensa, o técnico português recusou responder a uma questão sobre o alegado interesse do Sporting em contratá-lo para substituir José Peseiro. «Neste momento só é questão aquilo que se vai passar no Celta. Tudo o resto não é assunto para este momento», disse antes de um jornalista lhe perguntar se se considera um treinador semelhante a José Mourinho, que em Espanha trabalhou no Barcelona e, mais recentemente no Real Madrid. «Se um dia tiver um palmarés como ele… É uma referência, seguramente. Tive a oportunidade de me cruzar com ele quando esteve no FC Porto e eu estava na equipa B. Mourinho é Mourinho. Abriu espaço para os treinadores portugueses no futebol europeu», disse sem entrar em comparações.

Recorde-se que Miguel Cardoso chega ao Celta pouco mais de um mês após ser demitido do comando técnico do Nantes. «Creio que fiz muitas coisas boas nas experiências que vivi. Se estou aqui, é pelo caminho que fiz. Até este momento, creio que fiz mais coisas boas do que más.» E rematou: «Creio que chegar a uma liga espanhola, e basta ver quantos treinadores portugueses foram treinadores na Liga espanhola, a um clube histórico, com palmarés riquíssimo, condições impares e um plantel que temos, é um motivo de orgulho.»